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Crítica | Dezesseis Facadas (Totally Killer)

O slasher para a cultura pop.

por Felipe Oliveira
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Se a partir dos anos 2000 o terror e seus subgêneros passaram a experimentar a era pós-Pânico – isto é, a safra do argumento autoconsciente – depois da onda de remakes em 2010s, o slasher começou a receber diferentes tratamentos – como Você é o Próximo e Hush – A Morte Ouve, dois home invasion com toques do slasher – até chegar ao forro da trama com batidas nostálgicas e uma metalinguagem que levava o subgênero a referências da sua era de ouro. E mesmo com exemplos de Terror nos Bastidores e Mortes no Matinê – títulos com estética oitentista –  A Morte te dá Parabéns e Freaky – No Corpo de Um Assassino, Dezesseis Facadas chega para integrar a esse estilo, mas com uma abordagem bem menos atraente e excitante do que temos visto.

Se Final Girls conseguiu, com criatividade, homenagear não só o slasher oitentista mas também a figura de Jason Vorhees, Totally Killer se debruça para referenciar os velhos e novos clássicos da categoria, atrelado a boas alfinetadas ao filmes de John Hughes. Happy Death Day satirizou os tropos do subgênero com a fórmula Pânico, pegando emprestado o código moral de Feitiço do Tempo, Freaky se inspirava em Garota Veneno e Sexta-Feira Muito Louca para sua mitologia, aqui, o roteiro escrito por três cabeças inexperientes com o subgênero imagina o slasher misturado a De Volta para o Futuro, e o resultado é algo parecido com o que os novos escritores de Scream tem entregado: um slasher anestesiado, com referências pelas referências, e se fazendo um irmão bastardo da perspectiva que Christopher Landon e Michael Kennedy trouxeram, dos clássicos da Sessão da Tarde como base para o slasher

De certa forma, o maior problema de Dezesseis Facadas não está em seu roteiro – que até consegue ter alguns momentos de acerto, como as piadas ao próprio molde – que ridiculamente improvisa uma viagem no tempo, e sim na execução sem muito apelo de Nahnatchka Khan. Chega a ser chocante que até Riverdale, em uma de suas disparidades narrativas, trouxe exemplos inspirados de um slasher durante a segunda temporada, enquanto Khan, que também vem da TV, esquece que a premissa não era dirigir uma sitcom, seu gênero de origem. A cena de abertura ilustra muito bem como o subgênero não se encaixa com o estilo televisado da diretora, onde o efeito de ironia e subversão da sequência se perde com a execução estática, letárgica, e que anula no caminho a tensão e sinerigia das cenas. E embora não desenvolva nem mesmo um suspense para o retorno do temido serial killer 35 anos depois dos seus primeiros ataques – o mínimo – a inexperiência de Khan é mais evidente no combo de terror, ação e violência que a premissa precisa.

Decerto, as melhores cenas de terror são a sequência protagonizada por Liana Liberato e o ato final, que se passa em um Graviton. Chega um momento que é notável a falta de cadência e envolvimento na decupagem, porém, a filmagem sem muita movimentação e de mecânica enxuta tira a graça de explorar a ambientação e fazer uma chase scene minimamente digna, sem soar imediata. Nisso, seria interessante ver como ficaria Dezesseis Facadas em outras mãos, de ver a chance  do visual do assassino – que lembra, além da motivação, o slasher Dia do Terror (2001) – ser aproveitado, sem simplesmente emular de forma forçada, na falta de capricho de Khan, o chamado Killer Sweet 16 como um vilão tão temido como Michael Myers.

A falta de funcionalidade nas referências impressas no filme, seja ao reproduzir a cena que Laurie Strode sentia que estava sendo seguida em Halloween – Noite do Terror com a protagonista ou na relação de Sidney com pai em Scream, ou como quando pausa para explicar ao que está remetendo, só mostra como Totally Killer segue um algoritmo e não tem inspiração para fazer um slasher nostálgico a sua maneira. Logo, não adianta muito propor cenas de mortes em cenários que lembram outros títulos – a exemplo da cabana ser um aceno para Sexta-Feira 13 2 – e a mecânica das chase scenes instantâneas serem anticlímax, além de que, entre a linha de tempo em 2023 e 1987, o filme não consegue dissociar isso com sua fotografia moderna e dormente – nem mesmo o design de produção convence como imagina.

Entre estender as alfinetadas para os filmes de John Hughes – além da gag com Allison de O Clube dos Cinco – as piadas sobre sexo oral e as problemáticas dos anos 80, Dezesseis Facadas ainda se prolonga em criar um arco dramático com a protagonista – o que só piora  na dinâmica sem química de Kiernan Shipka e Olivia Holt – e brincar de whodunnit impulsionado por uma viagem no tempo estúpida. Na tentativa de ser um slasher nostálgico cômico, a direção de Khan é eficiente em ser letárgica, executando uma história que é apenas um reflexo enfadonho de um movimento divertido do terror: o slasher misturado com outros clássicos.

Dezesseis Facadas (Totally Killer – EUA, 2023)
Direção: Nahnatchka Khan
Roteiro: David Matalon, Sasha Peri-Raver, Jen D’Angelo
Elenco: Kiernan Shipka, Olivia Holt, Troy Leigh-Anne Johnson, Liana Liberato, Charlie Gillespie, Kelcey Mawema, Stephi Chin-Salvo, Ella Choi, Nathaniel Appiah, Jeremy Monn-Djasngar, Julie Bowen, Kimberly Huie, Jonathan Potts, Randall Park, Lochlyn Munro
Duração: 106 min.

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