- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e de todo o nosso material da franquia.
Pelo menos duas coisas ficaram absolutamente claras ao longo de Pecado Original: Patrick Gibson e Roby Attal são mais do que dignos para viverem as versões mais jovens dos irmãos separados quando criança Dexter Morgan e Brian Moser. E fazendo justiça, enquanto Gibson teve todo o tempo do mundo para entrar no clássico e querido personagem de Michael C. Hall, Attal teve pouquíssimo tempo para espelhar o trabalho de Christian Camargo e ele revelou-se tão eficiente quanto. Essa constatação deixa-me um pouco mais tranquilo para a provável continuidade de Pecado Original por mais do que apenas uma temporada, ainda que eu considere completamente desnecessário sabermos mais do passado dos personagens que conhecemos em 2006.
Código Azul é a prova final dessa minha conclusão que, imagino, seja partilhada por muita gente. Gibson faz um Dexter que transita muito confortavelmente entre seu desejo por sangue e seu próprio código moral, algo que a sequência de ação em que ele precisa escolher entre salvar Nicky e satisfazer sua sede deixou muito evidente. Por seu turno, Attal tem o espaço que merece ao ganhar os obrigatórios flashbacks que acompanham sua vida desde o traumatizante assassinato de sua mãe até o presente sob o seu ponto de vista e, também, alguns breves minutos em que vemos Brian confrontar Harry no telhado do prédio vizinho ao que o futuro Assassino do Caminhão de Gelo matou a assistente social que ele considera responsável pela sua separação de seu irmão.
Mas isso não quer dizer que o episódio funcionou muito bem, pois, mais uma vez, o que recebemos é um roteiro que se preocupa demais com o futuro do protagonista, sem dar verdadeira atenção ao seu presente, o que cria mais alguns momentos que respondem perguntas que ninguém nunca fez sobre seu modus operandi. As sequências de ação de Dexter contra Aaron no navio atracado, do salvamento de Nicky, da nova captura de Aaron e de seu esquartejamento na lancha Slice of Pie da arquivista da delegacia são completamente estranhas ao personagem e à série como um todo, criando cenas artificialmente heroicas que vêm para reiterar o que já sabemos e dar aquele ar de “clímax” narrativo que, na verdade, está mais para preguiça de roteiro, especialmente no que toca à ridícula motivação para Aaron Spencer fazer o que faz, que chega a dar vergonha só de pensar como Clyde Phillips teve coragem de deixar desse jeito porcaria. E não ajudam em nada aqueles breves momentos que correm para efetivar Dexter em seu emprego e fazer com que Deb decida o que fará da vida, pois eles são penduricalhos que só realmente se justificam se Pecado Original parar por aqui.
Por outro lado, como já dei a entender, a convergência da história de Brian Moser funciona bem, mesmo considerando que o roteiro recorre a flashbacks marretados pela direção de Michael Lehmann que chegam a ser engraçados de tão didáticos e, em essência, desnecessários, mesmo que valiosos para vermos Attal mostrando a que veio. Meu único problema com esse lado do episódio não é exatamente “culpa” dessa abordagem se vista de maneira independente, mas sim o quanto ela parece uma descarada construção de um final aberto para justificar futuras temporadas. Curiosamente, porém, quando eu vi Deb, Harry e Dexter dançando felizes no restaurante, com um traumatizado, proscrito e invejoso Brian Moser assistindo a reunião familiar pela janela, minha primeira reação foi de que o episódio havia encontrado um ótimo final para o que deveria ser uma minissérie, até eu perceber que, no fundo, o que eu estava vendo era um cliffhanger. Claro que eu não sei, nesse momento, se Pecado Original terá continuação, mas tudo leva a crer que sim, já que outros aspectos da mitologia de Dexter não foram destrinchados, especialmente, claro, a morte de Harry.
Código Azul é um final de minissérie melhor do que é um final de temporada, se é que me entendem, ainda que não muito melhor a ponto de justificar uma revisitação de meus comentários e avaliação final. A luz no fim desse túnel é mesmo a maneira como Gibson e Attal conseguiram entrar em seus personagens referenciando os originais, mas não cegamente reverenciando-os, já que ambos conseguem, também, fazer de Dexter e Brian os seus Dexter e Brian. Agora é torcer para que Pecado Original acabe por aqui. Diante da improbabilidade de isso acontecer, resta-me então torcer para que os dois atores continuem o bom trabalho que mostraram aqui.
Dexter: Pecado Original – 1X10: Código Azul (Dexter: Original Sin – 1X10: Code Blues – EUA, 14 de fevereiro de 2025)
Desenvolvimento: Clyde Phillips (baseado na série desenvolvida por James Manos Jr. e na obra de Jeff Lindsay)
Direção: Michael Lehmann
Roteiro: Clyde Phillips
Elenco: Patrick Gibson, Christian Slater, Molly Brown, Christina Milian, James Martinez, Alex Shimizu, Reno Wilson, Patrick Dempsey, Michael C. Hall, Sarah Michelle Gellar, Sarah Kinsey, Isaac Gonzalez Rossi, Jasper Lewis, Roby Attal, Aaron Jennings
Duração: 50 min.