- Há spoilers desse episódio e dos anteriores. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e de todo o nosso material da franquia.
Ver Dexter Morgan em situações “normais” costuma ser diversão certa. Era assim com o personagem já mais velho de Michael C. Hall lutando contra sua natureza e tentando ser uma pessoa sociável e minimamente humana diante de banalidades do cotidiano e é assim com Patrick Gibson encarnado a versão mais jovem do icônico personagem. O encontro duplo dele com Sofia e Debra com Gio é hilário, seja por ele sequer conseguir sentar no lugar certo, seja por fazer um pedido de muita comida só para ele quando ele ouve que o namorado rico da irmã vai pagar ou, claro, por toda a estranheza que é ele simplesmente ignorar Sofia até quando ela toma para si as rédeas da situação.
Por outro lado, esses momentos que descrevi acima são os únicos que merecem real destaque em O Prazer de Matar que, de outro modo, é um episódio pouquíssimo inspirado, que pareceu ter sido escrito com má vontade, só para cumprir tabela. E nem vou comentar negativamente, aqui, os passos que a narrativa dá na formação do Dexter que veríamos no futuro com o protagonista usando fotos para torturar suas vítimas e a ideia do barco para desovar corpos sendo plantada em sua mente em mais uma daquelas conveniências preguiçosas. O problema deste capítulo do prelúdio não está aí, mas sim na forma simplória, de série amadora quase, como o que Dexter vê sobre Levi Reed no bar que ele frequenta ser espelhado ponto a ponto na saída dele com Sofia ou nos flashbacks com Harry e Laura que não trazem absolutamente nada de novo ou realmente relevante para esse lado da história.
Nem mesmo o prólogo com o sequestro do filho do capitão Aaron Spencer funciona bem, pois, nesse caso, a direção de Michael Lehmann sequer tenta criar uma sequência tensa, preferindo telegrafar exatamente o que acontecerá no segundo seguinte. Tudo bem que o sequestro em si adiciona uma camada extra à narrativa macro que, até agora, vinha sendo trabalhada como mero pano de fundo, mesmo considerando o assassinato da primeira criança sequestrada, o que deve elevá-la, nos quatro capítulos finais, à história principal, em paralelo com o serial killer de indigentes que Dexter diagnostica ao analisar mais uma vítima de morte violenta, mas esse bônus não consegue tirar o episódio do lugar-comum e acaba fazendo pouco para atiçar a curiosidade do espectador. Claro que ver Dexter matar sua terceira vítima e, ele próprio, graduar-se como serial killer, tem sempre aquele verniz de prazer mórbido, mas o tal “prazer de matar” que dá nome ao episódio é algo tão agudamente óbvio mesmo para quem nunca viu a série original, que eu tenho lá minhas dúvidas se alguém realmente releu o que escreveu.
Pecado Original, portanto, continua sendo aquela diversãozinha bem básica e rasteira que se apoia na nostalgia e no “autoplágio” para funcionar. Não vou dizer que isso não tem seu valor – ainda que ele seja reduzido, lógico -, mas falta à série aquele algo mais que empreste a ela alguma personalidade para além de ser uma fotocópia da original, só que com atores mais novos vivendo os personagens clássicos. Sim, tenho plena consciência, a essa altura do campeonato, que Clyde Philips não parece almejar mais do que isso, mas meu ponto é que ele deveria mirar mais alto para no mínimo dos mínimos fazer da experiência algo que dê ao espectador uma pequena percentagem do prazer que Dexter sente quando esfaqueia suas vítimas.
Dexter: Pecado Original – 1X06: O Prazer de Matar (Dexter: Original Sin – 1X06: The Joy of Killing – EUA, 10 de janeiro de 2025)
Data de exibição no Brasil: 17 de janeiro de 2025
Desenvolvimento: Clyde Phillips (baseado na série desenvolvida por James Manos Jr. e na obra de Jeff Lindsay)
Direção: Michael Lehmann
Roteiro: Terry Huang
Elenco: Patrick Gibson, Christian Slater, Molly Brown, Christina Milian, James Martinez, Alex Shimizu, Reno Wilson, Patrick Dempsey, Michael C. Hall, Sarah Michelle Gellar, Brittany Allen, Isaac Gonzalez Rossi, Jeff Daniel Phillips, Jasper Lewis
Duração: 50 min.