Home TVEpisódio Crítica | Dexter: Pecado Original – 1X04: Só um Arranhãozinho

Crítica | Dexter: Pecado Original – 1X04: Só um Arranhãozinho

Dando um passo maior que a perna.

por Ritter Fan
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  • spoilers desse episódio e dos anteriores. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e de todo o nosso material da franquia.
  • Por favor, evitem spoilers de episódios que ainda não foram ao ar oficialmente no Brasil pelo Paramount+. 

Uma das coisas mais estranhas e inverossímeis, mas ao mesmo tempo mais sensacionais e cativantes de Dexter (a série original) é o Código de Harry, ou seja, o conjunto de regras criadas por Harry Morgan e ensinadas a seu filho adotivo de forma que ele possa, da maneira mais segura possível, dar vazão a seu instinto assassino. E uma dessas regras é reunir provas de que a próxima vítima de Dexter realmente mereça o tratamento VIP de ser capturado com tranquilizante, embalado em plástico, atravessado por uma faca, cortado em pedaços e desovado no mar. Sempre que o protagonista já experiente se desviava desse caminho, não só a narrativa perdia a força, como a história ficava mais desinteressante.

E não é diferente aqui, em Pecado Original, com a versão jovem do serial killer mais gente boa da TV.

Diferente do que eu imaginava quando soube que fariam um prelúdio de Dexter, Pecado Original não mostra a construção do Código de Harry. Quando a série começa, ele já está posto, faltando, apenas, o refinamento do método que o jovem Dexter empregaria, pelo que a regra de obter provas de que a vítima “merece morrer” é algo já estabelecido e faz parte de todo o ritual sendo, diria, seu elemento mais importante, já que é o que diferencia o protagonista de outro assassinos em série. Foi, portanto, uma decepção ver que o roteiro de Nick Zayas não faz o menor esforço para trazer elementos comprobatórios minimamente lógicos de que o assassino aposentado Mad Dog (Joe Pantoliano, sempre ótimo, mas que merecia mais tempo de tela, talvez dois episódios inteiros) ainda está na ativa. A Força Polícial tentou por décadas, mas nunca conseguiu nada de concreto contra o bandidos, mas Dexter, como em um passe de mágica, deduz que ele está prestes a cometer outro assassinato, usando isso – com a benção de Harry – como tudo o que é necessário para executá-lo. Para que a correria? Para que transformar Pecado Original em uma série estruturada em cima da “vítima de Dexter da semana” se isso não é nem de longe necessário para que ela se firme?

Tudo bem que vemos Dexter ser avisado pelo pai que ele está indo atrás de alguém que talvez seja grande demais para seu anzol e que isso acaba se provando verdadeiro quando sua vítima foge dele somente para ser brutalmente atropelado no “final surpresa” mais telegrafado da história dos finais surpresa, mas meu ponto não é esse. Meu ponto é que, no episódio anterior, vemos Dexter realmente trabalhar o caso do agiota de sapato de couro de jacaré e trazer à tona provas contundentes contra ele. Aqui, tudo o que ele consegue fazer é semelhante ao que o Departamento de Pré-Crime faz em Minority Report: A Nova Lei, só que de maneira bem menos convincente. E nem haveria problema se Dexter tivesse seguido em frente desobedecendo ordens de seu pai por considerar fracas as provas produzidas, pois isso faria todo sentido. No entanto, o que vemos é Harry Morgan, um detetive experiente, concordar expressamente que o filho siga adiante com seu plano. Isso é como defenestrar a infraestrutura da série, jogar fora o que faz Dexter ser Dexter e minha decepção foi enorme ao constatar isso em Só um Arranhãozinho, pois não foram criadas as circunstâncias para que Dexter e Harry agissem como agiram.

Ultrapassado esse ponto para mim muito importante, gostei de ver Dexter, mesmo ainda um “mero” estagiário, fazendo uma demonstração de sua capacidade dedutiva com o uso de duas melancias para María LaGuerta e todos os curiosos da delegacia, o que marca o começo da expectativa que ela e todos os demais passariam a ter a cada nova cena de crime que Dexter é chamado para estudar. Também gostei muito da reviravolta no caso do menino sequestrado que serve de pano de fundo para a temporada, pois matá-lo daquele jeito não só foi cruel, como cria um impasse investigativo que tornou tudo bem mais interessante e  complicado, o que pode resultar em bons frutos daqui em diante se houver a necessária amarração dessa linha narrativa com os flashbacks de Harry Morgan para os anos 80, em que o vemos realmente ter um caso com a mãe biológica de Dexter (e também descobrimos que Brian já era serial killer antes mesmo do trauma no contêiner), que ele planta como informante.

No lado de Debra, mais uma vez vi, ali, uma aproximação dessa versão da personagem à que conhecemos na série original, com a atriz jovem, Molly Brown, começando a realmente calçar os sapatos de Jennifer Carpenter, em uma construção de personagens que pode até ser talvez mais vagarosa do que o esperado, mas que vem me surpreendendo positivamente depois de um começo cambaleante. Mas o que realmente não pode ser cambaleante é o emprego do Código de Harry e eu espero que, se é para ele passar a ser usado de maneira flexível, que os roteiros pelo menos construam situações que facilitem essa elasticidade.

Dexter: Pecado Original – 1X04: Só um Arranhãozinho (Dexter: Original Sin – 1X04: Fender Bender – EUA, 27 de dezembro de 2024)
Data de exibição no Brasil:
03 de janeiro de 2025
Desenvolvimento: Clyde Phillips (baseado na série desenvolvida por James Manos Jr. e na obra de Jeff Lindsay)
Direção: Monica Raymund
Roteiro: Nick Zayas
Elenco: Patrick Gibson, Christian Slater, Molly Brown, Christina Milian, James Martinez, Alex Shimizu, Reno Wilson, Patrick Dempsey, Michael C. Hall, Sarah Michelle Gellar, Brittany Allen, Raquel Justice, Joe Pantoliano
Duração: 49 min.

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