Home TVEpisódio Crítica | Dexter: New Blood – 1X06: Too Many Tuna Sandwiches

Crítica | Dexter: New Blood – 1X06: Too Many Tuna Sandwiches

Dexter em terapia.

por Ritter Fan
3,2K views

  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Mesmo que New Blood não possa ser chamada de uma série que se arrisca como talvez pudesse se arriscar, não há dúvida que Clyde Phillips, retornando à sua posição de showrunner, pelo menos a partir do quinto episódio, parece querer deixar sua marca no revival do querido personagem que ajudou a moldar. Dexter Morgan começa a caminhar em direções menos esperadas e Too Many Tuna Sandwiches é mais um tiro certeiro nessa jornada ao mesmo tempo nostálgica e fascinante.

O grande trunfo do episódio não é exatamente fazer as linhas narrativas convergirem com Angela tendo uma conversa dura com Dexter e Dexter descobrindo que Kurt é um serial killer, mas sim colocar em xeque a natureza dos distúrbios de Harrison. Seria muito fácil deixar bem claro que ele tem uma versão do Passageiro Sombrio em sua mente, fazendo-o efetivamente um herdeiro do pai, um futuro assassino em série em seu próprio direito, perpetuando os traumas do passado. Seria fácil e consideravelmente maniqueísta e, vamos combinar, óbvio até não poder mais. Por isso é que fiquei feliz ao notar que o roteiro co-escrito por Scott Reynolds e Warren Hsu Leonard não está interessado em pavimentar esse caminho em tese perfeito e confortável. Muito ao contrário, o texto levanta a questão – que foi abordada no episódio anterior também – da abusividade da relação de Harry e Dexter, com um pai ensinando o filho a matar “corretamente” no lugar de verdadeiramente tratar um trauma profundo e faz a pergunta: Dexter é o que é por causa do pai adotivo ou apesar do pai adotivo?

Ao colocar Harrison em terapia para lidar ostensivamente com sua overdose, o que se descobre é um jovem com sérios problemas afetivos causados pelo abandono do pai e por tudo o que teve que viver ao longo dos anos, amadurecendo rapidamente demais, o que, dependendo das condições, pode levar a interpretações erradas do que é a vida e como ela pode ser levada. Sua frustração é enorme e uma possível válvula de escape é a violência, algo que vimos no ainda não tão bem explicado esfaqueamento na escola e, agora, com Harrison sucumbindo à sugestão de Kurt, e quebrando o braço de seu adversário de luta greco-romana. E de forma alguma eu descarto que o Passageiro Sombrio 2.0 não possa viver lá dentro dos recônditos mais profundos da mente do rapaz; apenas quero pontuar que essa “entidade” pode ser simplesmente – ok, não tão simplesmente assim – uma manifestação de um trauma não tratado com propriedade, por profissionais do ramo.

E ver Dexter literalmente no sofá do terapeuta, mesmo que derramamento mentiras e meias-verdades, é um momento divisor de águas em sua vida que eu espero muito fortemente que seja explorado em detalhes e com profundidade nos vindouros episódios, pois é como Angela deixa muito claro para seu namorado: é ele, não o filho que precisa mesmo de tratamento. E olha que ela não sabe da missa um cem avos… Por outro lado, é interessante que ela mesmo, ao rejeitar tanto Jim quanto Dexter em sua sala, ao final, depois de descobrir o corpo de Iris na mina abandonada, se socorre justamente da persona legista do pacato vendedor de armas e outros apetrechos de caça da cidadezinha de Iron Lake, em uma reviravolta muito bem construída, que torna crível o pedido exatamente porque é Angela lidando da primeira maneira que lhe vem à cabeça de seu próprio trauma, de certa forma fazendo exatamente aquilo que ela diz para Dexter não fazer.

Apesar de ter achado esse o melhor episódio da série até agora, que vem em franca evolução, confesso que não gostei muito da forma como as desconfianças de Dexter sobre o caminho da investigação de Molly o leva a descobrir sobre Kurt. Ou melhor, deixe-me refrasear: não gostei dos eventos que se seguiram à descoberta inadvertida de que Kurta é um vilão. Toda aquela sequência na cabana dele, seja Kurt com Molly, seja Dexter chegando do nada no último segundo, me pareceu forçada demais, mais forçada do que Angel Batista no episódio anterior dando a munição que Angela não sabia que precisava sobre seu namorado. A sucessão de conveniências foi exagerada e quebrou muito do que o episódio tinha a oferecer do lado psicológico. E não que algo assim não pudesse acontecer, mas acho que talvez ou a sequência pudesse ser quebrada em dois episódios, com introdução aqui e desfecho no próximo, ou ela poderia ter sido construída de maneira um pouco mais cadenciada para permitir que a linha reta do ponto A ao ponto B fosse mesmo uma linha reta.

No entanto, agora as cartas estão na mesa. Dexter tem o panorama geral de toda a situação ao seu redor, menos talvez de tudo aquilo que diz respeito ao seu passado e o quanto ele foi afetado por ele. Seja como for New Blood parece finalmente oferecer os desafios que a série precisava para realmente justificar sua existência para além do revival pelo revival, em que a nostalgia e as referências falam mais alto do que roteiros e desenvolvimento de personagens. Há potencial para muita coisa boa sair dos quatro episódios finais e eu espero que Phillips faça o jogo certo que, aqui, significa o jogo mais ousado, mais arriscado.

Dexter: New Blood – 1X06: Too Many Tuna Sandwiches (EUA, 12 de dezembro de 2021)
Desenvolvimento e showrunner: Clyde Phillips (baseado em obra de Jeff Lindsay)
Direção: Marcos Siega
Roteiro: Scott Reynolds, Warren Hsu Leonard
Elenco: Michael C. Hall, Jack Alcott, Julia Jones, Johnny Sequoyah, Alano Miller, Jennifer Carpenter, Michael Cyril Creighton, Steve M. Robertson, Fredric Lehne, Clancy Brown, Jamie Chung
Duração: 58 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais