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Crítica | Desafio Mortal (1996)

por Ritter Fan
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Frank Dux, cuja “vida real” inspirou O Grande Dragão Branco, filme que lançou a carreira de Jean-Claude Van Damme, lutou para ter seu nome nos créditos de Desafio Mortal (versão nacional genérica do também pouco original título original The Quest), perdendo na Justiça, mas ganhando parcialmente perante o Sindicato de Roteiristas, o que resultou em divisão de “história de” com o ator e lutador belga. E tudo por uma ideia banal ou, na verdade, uma ideia que tinha, lá no fundo, algum potencial, mas que é estragado por completo com um hilário e inexplicável autoplágio.

Além dessa peculiaridade, o longa é também a estreia de Van Damme na direção, cadeira que ele só sentaria (até hoje) mais uma outra vez e que, sendo bem franco, ele deveria ter passado longe. Na verdade, como cineasta, ele até tenta mostrar-se esforçado, transformando o inepto roteiro de Steven Klein e Paul Mones, na primeira metade da projeção, em um simpático passeio turístico de Nova York ao Tibete nos anos 20 que justifica (mais ou menos) o título em inglês, que poderia ser traduzido como A Busca ou algo semelhante, ainda que seu personagem, Christopher Dubois, o líder adulto de uma gangue de crianças, não busque realmente nada, sendo muito mais um fugitivo que se torna um escravo e, depois, um lutador, encontrando, no meio do caminho o simpático e fleumático vigarista britânico “Lorde” Edgar Dobbs (Roger Moore, muito à vontade e muito divertido).

Mas a grande verdade é que mesmo neste interessante começo de jornada, o que realmente chama atenção é o trabalho da direção de arte, com cenários e figurinos que facilitam a imersão do espectador, além da fotografia simples, mas eficiente de David Gribble que dá conta do recado. A direção mesmo de Van Damme é, apenas, uma sucessão de maneirismos como muito uso sem sentido de ângulo holandês que ele usa para tentar criar sua “assinatura” visual, mas falhando quase sempre. Até imaginei que, com o belga na direção, haveria mais cuidado no quesito lutas, mas nem isso acontece, pois ele parece apenas trocar qualidade por quantidade, o que retira toda e qualquer tensão da segunda metade do longa.

Aliás, falando nesta segunda parte, é ela que é um autoplágio de O Grande Dragão Branco, com uma reedição do campeonato underground secreto Kumite, mas agora chamado Ghang-gheng e localizado na Cidade Perdida em algum lugar do Tibete. Com exceção da presença de Moore por ali e também a de Maxie Devine (James Remar), campeão americano dos pesos-pesados de boxe que acaba se tornando uma espécie de mentor de Dubois, o que o roteiro faz é seguir quase que servilmente a estrutura do que vemos no filme de 1988, com direito a um vilão invencível, lutadores de diversos países com os mais diferentes estilos de luta, um amigo de Dubois sendo destruído pelo favorito, uma loira repórter que se apaixona pelo protagonista e assim por diante. Chega a ser constrangedora a completa incapacidade de executar a ideia simples de um campeonato de luta sem ter que basicamente chupar tudo de um filme anterior do mesmo ator.

Mas o pior de tudo é que se pelo menos o plágio fosse completo, o espectador teria diversão garantida, pois as lutas de O Grande Dragão Branco são inesquecíveis de uma forma ou de outra. Aqui, porém, a inexperiência de Van Damme atrás das câmeras resulta em 40 minutos que dão comichão na mão para clicar no fast forward para chegar logo na luta final e, mesmo assim, quando ela finalmente vem, todo o drama é esvaziado por completo com uma pancadaria vergonhosamente sem sentido pelas ruas da cidade. A decupagem é terrível, com fragmentos desinteressantes de lutas por grande parte do tempo dedicado a elas que, então, abre espaço para Dubois versus grande vilão (que tem zero de construção, aliás, menos, muito menos do que o Chong Li de Bolo Yeung), a montagem de John F. Link e William J. Meshover não consegue fazer milagre e o que temos, ao final, é um filme que não faz bem nem aquilo em que Van Damme deveria ser especialista, a pancadaria.

Se Desafio Mortal tivesse investido na jornada pelo mundo do protagonista, fazendo-o crescer no processo, ou seja, expandindo a primeira metade de forma que ela ganhasse significado e não fosse simplesmente esquecida pela segunda parte, a história poderia ter sido outra. Mas, do jeito que o longa ficou, nem mesmo o artifício de enquadramento com Dubois mais velho, enrugado e de cabelos brancos, acrescenta algo a uma história desconjuntada que parece muito mais ter sido resultado de uma conversa de Van Damme com Dux depois de algumas várias doses de vodka…

Desafio Mortal (The Quest – EUA/Canadá, 1996)
Direção: Jean-Claude Van Damme
Roteiro: Steven Klein, Paul Mones (baseado em história de Frank Dux e Jean-Claude Van Damme)
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Roger Moore, James Remar, Janet Gunn, Jack McGee, Aki Aleong, Abdel Qissi, Jen Sung, Stefanos Miltsakakis, Ong Soo Han, Louis Mandylor, Chang Ching Peng Chaplin, Ryan Cutrona, Peter Wong, Kōji Kitao, César Carneiro, Habby Heske, Peter Malota, Azdine Nouri, Brick Bronsky, Winston Ellis, Takis Triggelis, Mike Lambert
Duração: 95 min.

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