A Denise estreou em uma historinha chamada A Fina, na revista Magali #5, lançada em junho de 1989. Como muitos personagens de Mauricio de Sousa, veio apenas como uma coadjuvante, e talvez por isso mesmo, não tenha saltado aos meus olhos, lá pelo início dos anos 90, quando eu era uma criança que devorava as revistinhas da Turma. Também, pudera. Denise só se tornaria mesmo uma personagem falante e com essa pegada fofoqueira, divosa e cheia de gírias e frases de efeito em 1998, na trama A Tribo das Modernosas (Magali #245), pelas mãos de Emerson Abreu. Eu lembro vagamente de algumas das aventuras a partir dessa fase, mas o meu verdadeiro contato com a personagem veio lá pela juventude. E desde sempre eu achei um porre a forçação de barra que fazem com o linguajar dessa menina.
Arraso, lançada em 2022, traz uma proposta bacana de Cora Ottoni para a “bafônica” garotinha que acabou de se mudar para o bairro do Limoeiro. Os traços simpáticos da artista e as cores vivas do projeto destacam esse mundo infantil, amarrando-o às redes sociais e à vida de blogueirinha famosa, refletindo de maneira muito propícia sobre o poder das redes sociais e a destruição que ela pode fazer na dinâmica de uma família, no dia a dia de uma garota e na percepção de mundo de toda uma geração. Quando falamos de conteúdo, portanto, Arraso é uma história com temas interessantes e relevantes, tendo no roteiro de Cora Ottoni uma boa dosagem entre os dois lados da moeda: a exposição daquilo que de pior as redes sociais e a proliferação de telas podem trazer (do “medo de perder” à alienação plena) e daquilo que de melhor podemos ter com elas, que é a comunicação, o contato entre pessoas distantes, a possibilidade compartilhar alguns momentos da vida com amigos e familiares.
A internet é hoje parte da vida de todo mundo, e muitas crianças e adolescentes zoomers (Geração Z, ~1997 – 2012) e a maioria esmagadora da Geração Alpha (~2013) cresceram em mundos onde a internet era uma realidade ativa. No caso da Gen-A, isso é ainda mais intenso, pois estamos falando de uma internet já mais amadurecida e com uma oferta imensa de distrações e fugas da realidade, que são o foco dessa história da Denise. Mentir sobre número de seguidores e almejar uma vida de blogueira é algo que a garota quer, mas ela é “apenas uma criança comum”, que finge essa realidade glamourosa para se sentir bem. O problema que isso traz para a menina é abordado de forma rápida e resolvido de forma mais rápida ainda. No geral, há um quê de banalidade e simplicidade geral nessa história, que até toca em assuntos sérios, mas não está interessada em seguir com eles. Em certa medida, faz sentido para a proposta da edição. Por outro lado, tira a oportunidade de criar algo ainda mais relevante com o título.
Um dos grandes problemas do texto de Cora Ottoni é o respeito que ela tem ao legado original da Denise. E sim, eu sei que essa é a linha editorial do projeto, mas para mim, que não gosto dos exageros de gírias da personagem nos gibizinhos, esse respeito ao legado não é nada bom. São inúmeros os momentos de Arraso em que eu estava gostando da cena, mas acabei catapultado para muito longe a cada lançamento de bordão (“me amassa que eu tô passada” é um deles… horrível, ainda mais quando repetido!) ou de uma palavrinha hiper-moderna utilizada pela protagonista. O início e a parte final da história (com a adição dos momentos de pai, mãe e filha do miolo do quadrinho) comportam algumas das minhas cenas favoritas de Arraso. Para essa história, em suma, eu esperava mais, justamente pelo tema explorado. É uma boa Graphic MSP, com certeza. Mas com alguns sinais negativos que acabaram me afastando mais do que deveria da aventura.
Denise – Arraso – Brasil, julho de 2022
Graphic MSP #33
Roteiro: Cora Ottoni
Arte: Cora Ottoni
Cor base: Marina Garcia
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 98
