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Crítica | Demolidor: O Demolidor Que Você Conhece

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Há sempre uma luz no fim do túnel“, dizem. Mas para o Demolidor isso não é verdade, nem no sentido físico nem no desenrolar das coisas em sua vida pessoal e também heroica. Há uma frequência de dissabores mundanos e ao mesmo tempo “heroicos” que visitam Matt Murdock de tempos em tempos fazendo-o temer a felicidade e pensar duas vezes antes de se permitir algumas doses desse tão raro estado das cosias.

Já na reta final do Vol.4 da revista Daredevil, acompanhamos o relacionamento cada vez mais sério entre Matt e Kirsten McDuffie. Em paralelo, vemos se desenrolar as linhas textuais da escrita da biografia do Demolidor, que agora tem um escritor fantasma (Foggy Nelson, ainda em tratamento contra o câncer) e pequenos acontecimentos ordinários da vida de um americano famoso residente em São Francisco. Eu já havia comentado no arco de abertura deste volume — que por sinal, elenca o Coruja, cujo retorno aqui é sensacional — a elegância e facilidade narrativa de Mark Waid em escrever diálogos cômicos, dramas sérios e cenas de convivência entre os personagens sem desequilibrar o propósito da revista e, a cada arco, mostrando coisas relevantes e interessantes para o herói.

Desde Fechando as Portas, último arco do Vol.3 das aventuras do Demônio Destemido e que marcou o início de sua identidade pública, tem sido extremamente gratificante ver como o personagem lida com essa exposição, como seus inimigos se aproveitam desse detalhe (no passado isso foi massacrante para ele, como vemos em A Queda de Murdock) e como o Demolidor consegue separar a sua vida de vigilante em uma nova cidade e a de advogado apaixonado em um relacionamento e que está escrevendo a história de sua vida para a editoria do sogro a fim de pagar as muitas contas do escritório e o tratamento de seu melhor amigo. Fala sério, é muito “gente como a gente” esse Demolidor, não é mesmo?

Alguém pode dizer para o Demolidor que é feio mentir em sua própria biografia? Especialmente quando está falando de seu "encontro" com outro herói?

Alguém pode dizer para o Demolidor que é feio mentir em sua própria biografia? Especialmente quando está falando de seu “encontro” com outro herói?

Mas nesta reta final de volume as coisas voltam a mudar. Não de maneira abrupta e sem propósito, porém. Waid e Chris Samnee — mais uma vez realizando um excelente trabalho na arte, especialmente aqui, sabendo aproveitar com tremenda precisão os quadros escuros e a interessante nova movimentação do Demolidor por uma cidade que não tem tantos prédios quanto Nova York — traçam organicamente o novo destino do herói à medida que os dias se passam dentro do espaço diegético e as edições avançam. Claro que ao se tratar de um mundo de heróis e vilões (alguns deles muito estranhos e… impossíveis) certas conveniências narrativas aparecem e nos fazem torcer o nariz um pouco, como no caso do aparecimento de Jubula Pride, a filha do Coruja. Particularmente gostei da personagem depois de observar sua interação com o Demolidor e “história de origem”, mas a conveniência de sua aparição, pelo menos em um primeiro momento, não agrada muito.

Todavia, se existem pequenos “ruídos textuais” ao longo desta narrativa, eles não são muitos e o arco tem a vantagem de trazer muito mais boa ação, diálogos e situações de qualidade que, de maneira muito atenciosa, inclui todos os personagens principais com suas próprias histórias e participações que valham apena na trama, não apenas como um cameo sem sentido. Isso é importante porque quando mais uma tragédia explode e superexpõe o Demolidor, Foggy (até aqui considerado morto) e Kirsten, além de uma série de clientes deles, o roteiro se estreita e traz todos para um único foco narrativo, criando um cenário onde ações em conjunto serão cobradas.

Em tempos de tecnologia, quebra de sigilos, câmeras por todos os lados, hackeamentos e discussões sobre privacidade e segurança eletrônica, este arco cai como uma perfeita luva para o comportamento daqueles que tudo mostram e daqueles que tem exibidas coisas que não queriam exibir e/ou jamais o fariam para o público.

É o momento de vermos como isso vai funcionar para o Demolidor.

Eu não falei que as desgraças viriam?

Demolidor #11 a 15: O Demolidor Que Você Conhece (Daredevil Vol.4 #11 – 15: The Daredevil You Know) — EUA, fevereiro a junho de 2015
No Brasil: Demolidor 10 (Panini, março de 2016)
Roteiro: Mark Waid
Arte: Chris Samnee
Cores: Matthew Wilson
Letras: Joe Caramagna
Capas: Chris Samnee, Matthew Wilson
132 páginas (encadernado Panini)

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