Home TVEpisódio Crítica | Demolidor: Renascido – 1X07: Arte pela Arte

Crítica | Demolidor: Renascido – 1X07: Arte pela Arte

Conveniência pela conveniência.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e das demais aparições do personagem na televisão.

Juro que fiz toda força do mundo para aceitar o que vi em Arte pela Arte, mas não deu. Se a dobradinha de episódios que foi ao ar na semana passada, longe de ser excelente, pelo menos conseguiu reacender minha esperança de que a temporada finalmente deslancharia, o que assisti foi um banho de água fria, a exata materialização do que é um roteiro preguiçoso, mal ajambrado, que, chamando o espectador de burro, recorre ao didatismo extremo e à sequências sem peso dramático e, muito honestamente, sem sentido, que acabam transformando o episódio em uma brincadeira de criança que finge ser violento e pesado, mas que, na verdade, é uma bobagem conveniente, cansada e repetitiva que desperdiça linhas narrativas e, mais ainda, um personagem que poderia ser ainda muito bem aproveitado.

Sem perder tempo comentando momentos de revirar os olhos como foi o Demolidor aparecer do teto do esconderijo de Muse no segundo seguinte que a polícia deixou o local e ele entrar heroicamente pela janela do consultório da psicóloga sem que nenhum policial já cercando o prédio o avistasse, vamos ao que interessa: a Dra. Heather Glenn é mesmo a única psicóloga de Nova York, que aconselha o casal Fisk e Bastian Cooper (Hunter Doohan), além de namorar Matt Murdock? É sério que isso era necessário, que ninguém notou que ficaria ridículo, o suprassumo da conveniência mal escrita de novela da Globo? Ah, mas isso é um detalhe, Ritter! Não, não é. É relevante pacas, porque mostra um problema sistêmico na temporada, que é sua falta de rumo, sua natureza híbrida que mistura o que a série originalmente era e o que ela passou a ser depois das mudanças tão discutidas ao longo da produção conturbada. Foggy e Karen foram jogados fora sem cerimônia e substituídos por uma sócia de Matt que ninguém liga porque ela basicamente não existe de verdade como personagem e uma terapeuta e namorada que finalmente mostrou seu objetivo na série, servir de dama em perigo em uma sequência de suposta tensão e ação que conseguiu ser mais apressada do que tudo no episódio anterior, que já havia achado tão veloz quanto o Ligeirinho.

A grande revelação de quem, afinal, era Muse, foi tão surpreendente quanto dizer que político é corrupto e seu uso ali no consultório iluminado e cheio de janelas de Heather foi patético de um jeito tão imbecil que eu sinto meus dedos tremerem de raiva enquanto escrevo esta crítica. E todo aquele texto expositivo DUPLO sobre quem é o rapaz perturbado e a razão para ele lutar bem, como ele se tornou quem ele é e tudo mais? O que foi aquilo? Só podem ter pedido para o estagiário do assistente do motorista do roteirista escrever essa porcaria na base do “precisamos de uma explicação que até o mais apalermado dos espectadores entenderá, mas que não pode demorar muito, ok?”, pois não é possível. Já abafaram a grande entrada do Muse no episódio anterior e, agora, terminam de vez de estragar um vilão com potencial com uma lutinha inferior à outra com pano de fundo idêntico (Muse ameaçando alguém conectado ao Demolidor e o Demolidor chegando no momento certo para espancá-lo), com um final apoteótico devidamente telegrafado que elimina o personagem da história como se ele fosse o que acabou sendo, um pano de chão sujo que descartamos depois de limpar o prato com restos de sopa que caiu no chão. E eu não vou nem falar nada sobre Heather e a futura Tigrinha Branca não terem reconhecido Matt debaixo daquela máscara que não esconde absolutamente nada para quem o conhece e que ainda conta com lentes vermelhas IGUAIS aos óculos dele para servir de pista…

E olha que, no começo, quando Bibo Pai e Bobi Filho comunicam ao Poderoso Chefão que o Demolidor estava de volta, eu cheguei a abrir um sorriso com o sorriso de Fisk imaginando que isso significaria que ele estava feliz com o retorno de seu nêmesis e que, agora, ele poderia também sair do armário e soltar a franga. Mas, se em algum momento essa foi a intenção daquele (decididamente) bom momento do episódio, ele foi subsequentemente demolido (he, he, he) e soterrado pelas baboseiras intragáveis que se seguiram, baboseiras essas que culminaram com Fisk mudando a história do que aconteceu no momento da ação, esquecendo-se que a vítima do Muse estava viva e que ela não só viu o Demolidor ali, como atirou no bandido, ou seja, a prova cabal e irrefutável que os policiais machões não fizeram porcaria nenhuma a não ser quebrar uma porta novinha.

Estou exigindo demais de Demolidor: Renascido? Talvez sim, mas, na minha cabeça, eu estou apenas exigindo o básico, ou seja, que o roteiro se sustente em pé e não fique parecendo um daqueles bonecos de ar de postos de gasolina que ficam tremelicando o tempo todo, ora inflados, ora murchos, sem ter um propósito muito claro para sua existência. Mesmo que apliquemos a ferro e a fogo o que o título do episódio significa, ou seja, a valoração da arte por ela mesma, privilegiando sua estética, nem assim eu tenho alguma coisa boa para dizer a não ser que os trajes do Muse e do Demolidor são muito bacanas e que Vincent D’Onofrio, mesmo fazendo coisa ruim, é muito bom e aquele epílogo em um cenário que é quase uma réplica do restaurante em que Michael Corleone mata Sollozzo e McCluskey, só que sem nenhum tipo de charme, peso, surpresa ou construção dramática, mostra bem isso.

Demolidor: Renascido – 1X07: Arte pela Arte (Daredevil: Born Again 1X07: Art for Art’s Sake – EUA, 1º de abril de 2025)
Showrunner: Dario Scardapane
Direção: David Boyd
Roteiro: Jill Blankenship
Elenco: Charlie Cox, Vincent D’Onofrio, Margarita Levieva, Zabryna Guevara, Nikki M. James, Genneya Walton, Arty Froushan, Michael Gandolfini, Clark Johnson, Ayelet Zurer, Michael Gaston, Hamish Allan-Headley, Camila Rodriguez, Ruibo Qian, Lou Taylor Pucci, Hunter Doohan
Duração: 43 min.

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