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Crítica | Demolidor: Renascido – 1X05 e 06: Com Juros / Força Excessiva

Libertando os demônios interiores.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores e das demais aparições do personagem na televisão.

Mesmo considerando a natureza do episódio 1X05, que alguns espectadores poderiam achar “insuficiente” ou algo semelhante, o Disney+ não precisava transmitir dois ao mesmo tempo para potencialmente “compensar”. Eu entendo – mas não gosto – começar uma temporada com dois episódios, mas, do nada, vir com mais dois ao mesmo tempo não faz sentido. Mas é o que temos, então não adianta eu ficar reclamando. Como de praxe, fiz as críticas separadas de cada um, com a do primeiro sendo redigida antes de o segundo ser conferido para garantir a “pureza” dos comentários. Vamos a elas!

1X05
Com Juros

Episódios soltos e autocontidos de séries, especialmente aqueles chamados “de garrafa”, ou seja, que são imaginados para contarem com o mínimo de elenco e/ou cenários, costumam ser muito criativos e por diversas vezes chamar até mais atenção do que os que os antecedem e sucedem. Existem diversos exemplos clássicos, dentre eles Fly (Breaking Bad), The Parking Garage (Seinfeld),  Lower Decks (Star Trek: A Nova Geração), Cooperative Calligraphy (Community) e tantos e tantos outros e essa escolha estilística e narrativa é feita por Dario Scardapane em Com Juros, episódio que coloca Matt Murdock tendo que lidar com um assalto ao banco em que vai pedir um empréstimo em pleno St. Patrick’s Day, mais conhecido como o dia em que todos dos EUA se tornam irlandeses para encher a cara de cerveja.

A primeira indagação que muitos podem fazer diante do episódio é “por que?” e minha resposta para isso é, apenas, um “porque não?”. Afinal, não há momento certo ou errado para essa escolha (ok, talvez como último episódio de uma temporada seja bem estranho, o que não é o caso) e o roteiro de Grainne Godfree é uma boa maneira de mais uma vez deixar bem claro que uma série do Demolidor só com Matt Murdock de paletó e gravata pode funcionar muito bem, como já venho dizendo há algum tempo. Afinal, um assalto ao banco tem tudo para fazer com que os poderes e habilidades do super-herói sejam usados sem que seja necessário traje vermelho chifrudo, como é ouvir os cochichos dos bandidos, localizar o chefe do grupo em meio ao caos, ou, claro, abrir um cofre com a maior facilidade do mundo. Tudo isso está presente em Com Juros e a história simples e básica funciona muito bem, ainda que não tenha visto nele o nível de criatividade e desenvoltura que costumo esperar de episódios dessa natureza.

É sem dúvida simpática a conexão que é mais do que apenas uma referência jogada à série da Ms. Marvel, com o simpático Mohan Kapur retornando ao papel de Yusuf Khan, pai orgulhoso da jovem super-heroína de Nova Jersey, como gerente-assistente do banco alvo dos ladrões e é boa a conexão que é feita com o dinheiro que Vanessa Fisk mandou Luca pagar quando o valor de 1,8 milhões de dólares é mencionado. Essas características do episódio não só inserem a série de maneira mais ampla dentro do UCM, o que não era estritamente necessário, mas é sempre bom quando feito dessa forma mais consistente, como criam uma lógica para ele dentro da história sendo contada, ou seja, não o deixam ser completamente solto na temporada. Por outro lado, faltou urgência, faltou perigo, faltou “algo mais” na atitude quase jocosa de Matt Murdock enquanto lidava com os assaltantes. Um episódio com tantas vidas em jogo tinha que realmente colocar essas vidas em jogo e não facilitar tudo com conveniências de roteiro.

No entanto, a direção de Jeffrey Nachmanoff soube usar o espaço (não tão) confinado que tinha à disposição e trabalhou bem a forma como Murdock mostra que é bem mais do que um cego vítima de sequestro, ainda que tenha corrido demais com a resolução da história dentro do banco, criando a confusão com a invasão policial e não deixando as consequências disso serem usadas dentro da narrativa, já apostando na localização do chefe dos bandidos e na “troca” daquela “Joia do Infinito” pela bala na mesa de Khan. Com Juros funcionou bem, mas muito claramente poderia ter funcionado muito melhor se a produção tivesse realmente apostado sua fichas na proposta.

1X06
Força Excessiva

Se alguém me perguntar se eu acho que o Demolidor trajado como tal deveria voltar nesse episódio, minha resposta seria negativa e ela continua sendo negativa mesmo depois de assistir Força Excessiva. Mas não se enganem, já que minha avaliação não me deixa mentir: eu gostei muito do episódio, mas tenho para mim que a solenidade do retorno de Murdock à sua carreira de vigilante deveria ser maior, mais explosiva, ainda mais inevitável. E não é que salvar uma adolescente das garras de um grafiteiro serial killer que faz sua arte com sangue das vítimas não é razão suficiente para o super-herói voltar com seus chifres e bastão, pois obviamente é. Meu ponto é que esse momento deveria ter sido empurrado para a frente.

Meu ponto é que tudo aconteceu muito rapidamente demais. No momento em que foi descoberto que a tinta usada nas “artes urbanas” (estou bonzinho hoje e decidi usar o politicamente correto, pois eu as acho indistintamente horríveis, só perdendo para os tenebrosos outdoors comerciais que assolam cidades grandes na categoria “poluição visual”) continha sangue humano, foi como se uma represa estourasse e tudo acontecesse como um passe de mágica. Descobriu-se que os desaparecidos da cidade (que, se não me engano, nunca haviam sido mencionados) foram os “doadores” do sangue e que eles estão diante de um assassino em série que, por sua vez, torna-se o instrumento que Wilson Fisk precisava para inaugurar uma força policial anti-vigilantismo com direito a fazer o que quiser e respondendo somente a ele. E isso sem contar com a conveniência que é a jovem Angela del Toro, sobrinha do Tigre Branco, passar informações sobre as investigações de seu tio sobre os desaparecimentos  para Murdock e, ao ser recebida com ouvidos moucos, ela mesmo correr para ser a próxima vítima do vilão.

É tanta coisa que acontece em três ou quatro cenas que deveriam ser temporalmente espaçadas (sem contar com a referência, essa sim perdida, que foi a presença do Espadachim tanto uniformizado como à paisana, com o retorno de Tony Dalton ao seu papel da série do Gavião Arqueiro) que, para mim, era evidente que havia material para, no mínimo dos mínimos, mais um episódio antes da pancadaria entre Demolidor e Muse (aliás, gostei que o vilão, pelo visto, não tem poderes como nos quadrinhos). Mas, apesar dos pesares, Força Excessiva tem seu valor e o maior deles é intercalar o combate super-heróico no subsolo da cidade com Wilson Fisk lutando contra Adam armado de um machado pelo mais puro prazer de socar o ex-amante da esposa (na verdade, diria que foi pelo puro prazer de socar alguém, seja lá quem for), com protagonista e antagonista ao mesmo tempo retornando às suas personas animalescas, que vêm do fundo da alma retorcida dos dois. Foi, sem dúvida alguma, um momento poderoso que, porém, muito claramente foi montado de maneira a parecer violento sem realmente mergulhar no tipo de violência mais visceral que havia na série do Demolidor do Netflix.

Força Excessiva, portanto, é o ponto de virada que, para mim, deveria vir mais tarde. Fica a esperança, porém, que esse retorno dos demônios interiores seja bem utilizado e que não seja algo hesitante, levando Murdock, por exemplo, a ficar em estado de choque pelo que ele fez ou Fisk correr para pedir perdão à esposa. Se é para voltar ao que era sem a pompa e circunstância que isso merecia, então que não se perca a oportunidade de voltar de verdade, sem freios, sem arrumar desculpa para discursos civilizatórios.

Demolidor: Renascido – 1X05 e 06: Com Juros / Força Excessiva (Daredevil: Born Again 1X05/06: With Interest/Excessive Force – EUA, 25 de março de 2025)
Showrunner: Dario Scardapane
Direção: Jeffrey Nachmanoff (1X05), David Boyd (1X06)
Roteiro: Grainne Godfree (1X05); Thomas Wong (1X06)
Elenco: Charlie Cox, Vincent D’Onofrio, Margarita Levieva, Zabryna Guevara, Nikki M. James, Genneya Walton, Arty Froushan, Michael Gandolfini, Clark Johnson, Ayelet Zurer, Michael Gaston, Hamish Allan-Headley, Camila Rodriguez, Ruibo Qian, Lou Taylor Pucci, Mohan Kapur, Tony Dalton
Duração: 42 min. (1X05), 45 min. (1X06)

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