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Crítica | Demolidor: Prefeito Fisk (2017-2018)

A Nova York do Rei do Crime.

por Kevin Rick
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Apesar do falho Supremo e Terra de Cego (2017), em tese, finalizar o quinto volume da eterna jornada do Demolidor, a passagem de Charles Soule continua em Back in Black (Marvel Legacy), que é basicamente um período de transição da série para o ilustre sexto volume, nas mãos do roteirista Chip Zdarsky. Como o próprio nome da fase indica, existe uma abordagem em relação a legado, inclusive com a numeração das edições voltando à serialização original, até para a Marvel fazer a comemoração do 600º capítulo do personagem, que fecha o primeiro arco desta história. Nesse sentido, nada mais apropriado do que o saudoso Wilson Fisk como antagonista, que dá seguimento ao seu plano sugerido em Supremo, assumindo a prefeitura de Nova York como resposta contra a vitória de Matt na Suprema Corte dos Estados Unidos do arco anterior. Curiosamente, esse material lembra bastante a premissa de Demolidor: Renascido.

O conceito por trás da narrativa é bem interessante. Primeiro porque inverte os papéis dos personagens, com Fisk se tornando um político adorado, ainda que aparentemente polarizado em alguns círculos sociais (a eleição do mesmo em um primeiro momento pode até soar estranha considerando seu histórico criminal, mas não é algo difícil de aceitar considerando tantos paralelos reais), enquanto o Demolidor vira inimigo público nº 1 depois de Fisk começar sua caçada contra os vigilantes. A forma abrupta como a percepção do povo muda em relação aos super-heróis é um pouco mais difícil de digerir do que a vitória política do Rei do Crime, mas nada que efetivamente atrapalhe nosso envolvimento com a trama. Depois de estabelecido os principais elementos do enredo, Soule basicamente constrói uma narrativa em cima do Demolidor buscando alguma forma de derrubar o mandato do antagonista, encontrando problemas para enfrentá-lo legalmente, razão pela qual decide, como Matt Murdock, aceitar o convite tendencioso de Fisk para assumir a posição de Vice-prefeito e combatê-lo internamente.

A partir disso, temos a segunda característica que chama atenção na obra, que é a forma como Soule desenvolve uma batalha mais estratégica e intelectual do que física ou intensa, com Matt precisando dobrar a posição política de Fisk, a Lei, a polícia e a opinião pública para encontrar brechas para descobrir os planos do vilão e como trazê-los à tona – por exemplo, grande parte da luta do Demolidor aqui é mais de espionagem, com usos narrativos criativos da sua super-audição. Os ilustradores Stefano Landini e Ron Garney, e o colorista Matt Milla, entendem bem a abordagem do roteiro, trazendo um estilo artístico que absorve o tom estratégico e o texto pesado de diálogos em algo procedural, com painéis dinâmicos entre as conversações e cores frias que nos situam da atmosfera investigativa e das pinceladas políticas da história. Não chega a ser algo necessariamente detetivesco, mas existe muita observação, conversas secretas e jogo de politicagem em um tipo de história inusitada para o protagonista, que em um determinado momento precisa fugir da polícia como se fosse um criminoso. Mesmo já tendo sido julgado antes, o cenário aqui é diferente, como se o personagem e seus colegas de trabalho fossem ameaças sociais, até mesmo quando salvam o dia.

Infelizmente, Soule começa a perder o controle da narrativa à medida que avançamos no conflito de Matt e Fisk. Isso acontece principalmente porque o autor tangencia o enredo com uma subtrama ruim do Ponto Cego (ele de novo…) procurando vingança contra o inumano Muse, que também ganha um estranhíssimo papel de destaque como segundo antagonista da história, inclusive antagonizando Fisk com pinturas dos heróis em prédios públicos – o vilãozinho pelo menos acaba saindo de cena tão rápido quanto entra. Os dois personagens não trazem qualquer acréscimo para o palco principal do arco, que acaba perdendo força não só pela atenção que é dada para esse desvio narrativo, como também pela maneira que Soule gradualmente vai deixando a atmosfera de abertura da série e a dualidade dos personagens principais de lado, sendo que é onde o drama e a tensão do texto melhor se desenvolve.

No entanto, o desfecho do arco ainda é satisfatório. Temos um divertido team-up do Demolidor com várias faces conhecidas do combate ao crime em Nova York, vide a imagem de destaque acima, que acabam sendo pegos dentro de uma cilada de Fisk contra seus concorrentes criminosos (mais rostos famosos). Tenho sentimentos mistos com a reviravolta inorgânica ao final do arco, em que Fisk é atacado por uma conhecida ordem de ninjas (de onde veio isso?), mas escolho ter esperança de que Soule trará alguma justificativa no próximo arco, em que é sugerido que veremos ninguém menos do que Matt Murdock como prefeito da cidade que nunca dorme. Quem sabe o autor não tem algumas cartas na manga antes de finalizar sua passagem pelo universo do Demolidor.

Demolidor #595 a 600: Prefeito Fisk (Daredevil: Mayor Fisk) — EUA, novembro de 2017 a março de 2018
Roteiro: Charles Soule
Arte: Stefano Landini, Ron Garney
Cores: Matt Milla
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Mark Paniccia, Mark Basso, Jordan D. White
160 páginas

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