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Crítica | Deadpool & Wolverine (Sem Spoilers)

As referências mandam na história.

por Ritter Fan
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Único filme a representar o Universo Cinematográfico Marvel em 2024, Deadpool & Wolverine é ao mesmo tempo uma continuação de Deadpool 2 e uma ponte entre universos, por assim dizer, pela primeira vez diretamente trazendo personagens do Universo Cinematográfico Mutante da Fox para o seio do multiverso sempre em expansão da Marvel Studios comandado por Kevin Feige. O que exatamente isso pode significar para o futuro do UCM, diria que ainda é incerto, pois o longa de Shawn Levy tem como verdadeiro e maior objetivo colocar lenha na fogueira da sempre veloz, furiosa e incansável especulação internética e não exatamente contar uma história ou até mesmo em ser um filme propriamente dito.

Afinal, Deadpool & Wolverine é muito menos um filme propriamente dito do que uma sucessão frenética de referências aos longas anteriores da subfranquia do Mercenário Tagarela, de uma enormidade de filmes com personagens da Marvel Comics, dentro ou fora do UCM, além de uma infinidade de outros dentro do gênero ou até mesmo fora. Não é sem querer que há cinco nomes levando crédito de roteiro, e eu apostaria que há diversos outros que contribuíram, mas não o suficiente para figurarem junto com o quinteto principal. Toda a narrativa própria do longa, ou seja, tudo aquilo que é intrínseco e essencial a ele – Deadpool depara-se com a destruição iminente de seu universo pela Autoridade de Variância Temporal (AVT), aquela entidade que vimos em Loki e precisa da ajuda de Wolverine – não passa de um fiapo de história que poderia ser contada em um curta metragem mesmo com os intermináveis e característicos monólogos de Deadpool. O restante foi obviamente criado na base da disponibilidade de atores para fazerem várias pontas surpresa, ou seja, se eles não já tinham outros compromissos e, claro, se o cachê cobrado não excederia aquilo que a produção queria pagar.

Ordens do tipo “Galera, fulaninho topou fazer, então sentem aí e refaçam a cena tal ou escrevam uma cena nova para ele” devem ter sido a regra por muito tempo ao longo da pré-produção, pois o filme caminha aos trancos, com diversas sequências feitas unicamente para fazer o espectador apontar para a tela e falar alto e de maneira excitada o que todo mundo está vendo acontecer para atrapalhar o coleguinha do lado que só queria ver o filme em paz. Mas eu não tiro o mérito de Levy quando ele efetivamente dá destaque mais do que perfunctório a algumas dessas surpresas, ainda que, no agregado, se formos realmente espremer, dificilmente uma dessas pontas agregue de maneira ampla à narrativa.

Claro que ser metalinguístico e autoconsciente, com constantes quebras da quarta parede, dá aquela impressão que os problemas não são problemas, mas sim parte da solução. Afinal, quando Deadpool diz que determinada explicação está expositiva demais ou que uma situação parece mais roteiro preguiçoso, ele parece “curar” tudo, varrendo para debaixo do tapete na base do humor estilo deadpan (aquele com cara séria) toda e qualquer deficiência do filme. Mas a grande verdade é que isso é roteiro frágil colocando peruca e dentadura de roteiro esperto e tentando fazer o espectador comprar gato por lebre. Reconhecer defeitos dentro do próprio roteiro é a maneira mais fácil de dizer para todo mundo que não é mais necessário contar uma história estruturada e que basta enxertos de referências para extrair exclamações em polvorosa do público a cada 10 minutos.

Pode ser que eu esteja sendo chato e amargo em meus comentários, mas o que escrevi é o que eu assisti e, tenho para mim, o que muita gente também assistiu. A diferença é o quanto essas características pesam para cada um. E não se enganem: eu me diverti com o filme. Daquela maneira básica e rasteira como nos outros dois filmes do Deadpool, mas eu me diverti. Para alguns, isso basta e não há problema nisso. No entanto, eu prefiro quando o filme tenta elevar-se para além de um apanhado de referências costuradas em um colcha de retalhos multicolorida, mas isso não acontece aqui. O que temos é, muito sinceramente, um loop infinito das mesmas situações só que com rostos diferentes combinadas com Ryan Reynolds sempre falando pelos cotovelos e olha que ele nem bom ator é e Hugh Jackman sempre rangendo os dentes e, ironicamente, fazendo a pior versão de Wolverine sete anos depois de viver a melhor).

Ah, mas é legal finalmente ver o Carcaju com seu traje clássico. Ah, mas é bacana a Marvel ter consciência dos problemas que tem tido recentemente e que, claro, Deadpool lista ao longo da produção. Ah, mas é legal ver fulaninho novamente. Tem um monte de “ah, mas” a serem colocados aqui nesse parágrafo, mas é justamente por eles existirem aos borbotões que o filme não parece um filme, mas sim um agregado de cenas que, com esforço, até dá impressão de unicidade, mas que não passa de uma desconexa tentativa de trazer o UCM para Deadpool ou vice-versa. Claro que há sequências inspiradíssimas, valendo destaque para a hilária profanação de túmulo que abre o filme, além da bola curva que a entrada de determinado personagem representa, mas, de novo, é como assistir a um show de comédia stand-up com um comediante hiperativo falando como se fosse um leiloeiro que tivesse que colocar todas as peças da coleção à venda em poucos minutos.

Levy, aliás, erra muito no timing de sua obra, intercalando frenesi como sequências modorrentas, sem jamais encontrar equilíbrio. Esse é outro efeito de um roteiro composto de pequenos pedaços que não exatamente formam um todo coerente. Com isso, o filme acaba sendo espasmódico, o que prejudica toda e qualquer tentativa de se abrir espaço para atores com mais habilidade dramática, Jackman, como disse, é reduzido a um sujeito de cara amarrada que grunhe o tempo todo e os dois vilões, vividos por ótimos atores, acabam mal utilizados, mais parecendo caricaturas de vilões de James Bond, mas sem personalidade própria.

Deadpool & Wolverine, tenho certeza, será um gigantesco sucesso de bilheteria e ganhará muitos elogios de fãs e da crítica, o que significa dizer que a Marvel Studios, tão achincalhada por sua “fórmula”, por só fazer mais do mesmo, não medirá esforços para continuar seguindo esse exato caminho de reciclagem de material anterior e de abuso de nostalgia, apenas dando-lhe uma nova e vistosa roupagem. Afinal, tudo o que bastou para chamar atenção do público, aqui, foi fazer Hugh Jackman voltar para vestir um traje berrante amarelo que, claro, Deadpool deixa bem claro o quão ridículo fica.

Obs: Há simpáticas cenas de bastidores dos filmes da Fox durante os créditos e, ao final, há uma boa cena pós créditos.

Deadpool & Wolverine (Idem – EUA, 2024)
Direção: Shawn Levy
Roteiro: Ryan Reynolds, Rhett Reese, Paul Wernick, Zeb Wells, Shawn Levy
Elenco: Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Morena Baccarin, Rob Delaney, Leslie Uggams, Karan Soni, Brianna Hildebrand, Stefan Kapičić, Shioli Kutsuna, Randal Reeder, Lewis Tan, Emma Corrin, Matthew Macfadyen
Duração: 127 min.

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