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Crítica | Deadly Hands of Kung Fu #14 a 18

por Davi Lima
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Esse compilado de críticas contempla as edições #14 a 18 de Deadly Hands of Kung Fu, ambas publicações de 1975 de uma revista americana que iniciou em 1974 continuando a sequência de textos iniciada pelo escritor Luiz Santiago das edições #1 a 3. Com objetivo de cobrir as histórias do Mestre do Kung Fu, o personagem Shang Chi, a iniciativa de fazer textos sobre as 33 edições do título Deadly Hands of Kung Fu se torna fracionada, em que as 10 edições criticadas no anterior compilado só apresentam 9 críticas, e esse compilado há apenas 5, em vista que o personagem Punho de Ferro foi ganhando força e tomando espaço do chinês lutador de Wushu nas publicações americanas. Além disso, vale ressaltar que o arco do Dragão Dourado que está presente desde a edição #12 até #18, exceto a #15, em grande parte não foi publicada no Brasil, tendo apenas nesse texto abaixo a terceira parte do arco que foi lançada com as outras duas juntas na revista brasileira Kung Fu n°27 (Bloch, 1978).

Em geral, a edição #18 “encerra” a participação solo do personagem Shang Chi no título, com uma história e mitologia própria, etc, etc, voltando apenas na edição #33, após umas participações nas histórias de Punho de Ferro e Tigre Branco.

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Sangue do Dragão Dourado (parte 3)

Thief in Golden Shadows

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Das três partes aglutinadas na edição brasileira sobre essa história da estátua do Dragão Dourado, numa leitura corrida, como seria na revista Kung Fu n°27 (Bloch, 1978), talvez aprofundasse uma decepção com a história, pois não são cenas de ação que um Shang Chi é Mestre do Kung Fu nos quadrinhos da Marvel. O escritor Doug Moench parece se perder nos recordatórios longos e com a ilustração de Ruby Nebres que não se encaixa com a diagramação das páginas bastante displicente. O que se conta, como citei na crítica da segunda parte do arco, não tem muito o que falar além da exposição de golpes de kung fu, mal entendidos e um drama desesperado por o protagonista salvar Sheraan da morte por esmagamento de espinhos de um teto móvel. O plano maligno é do misterioso/apagado Cho Lee que quer o sofrimento de Shang Chi, além da estátua dourada do dragão.

Ainda assim, voltando a comentar sobre Ruby Nebres, em comparação as edições anteriores, os sombreamentos soam mais comedidos, apesar da aparente “preguiça” para posicionar o personagem principal com os golpes na fluidez da leitura. A seção de Shang Chi na HQ de Deadly Hands of Kung Fu só não é pior porque há um drama forte, ou melhor, demonstra-se a força e a criatividade que o kung fu do protagonista tem em sair de contextos nada favoráveis, seja segurando o teto móvel, ou atravessando-o. Doug Moench ainda parece preservar a mentalidade do Mestre do Kung Fu que não perde a cabeça em ação para momentos difíceis, apenas nos recordatórios que refletem os pensamentos dele que é possível conhecer seu desespero ao ver Sheraan mais perto da morte antes de salvá-la.

Deadly Hands of Kung Fu #14 (EUA, julho de 1975)
No Brasil:
Kung Fu n°27 (Bloch, 1978)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Rudy Nebres
Arte-final: Rudy Nebres
Letras: Marcos Pelayo
Editoria: Archie Goodwin
16 páginas

Midnight Brings Dark Death!

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Com uma parada na narrativa de Shang Chi e Sheraan contra Cho Lee em busca do Dragão Dourado, essa história escrita pelo famoso Jim Starlim (criador do Capitão América, Adam Warlock, além de escrever a saga cósmica o Desafio do Infinito), voltando depois de escrever a primeira história do Mestre do Kung Fu em Deadly Hands of Kung Fu #1, e pelo urbano Steve Englehart, que também estava na primeira história com Starlim, já que ambos criaram o personagem, não apenas retoma os conflitos culturais que o roteirista Doug Moench voltava para debates sociais, e sim retoma com uma narrativa Kung Fu, que não se resume a ação. A obra-prima estampada nessa edição que Shang Chi enfrenta seu amigo M’nai, vulgo Meia-Noite, um afro-asiático que foi treinado com ele na academia de Fu Manchu, colocando um drama-suspense a cada pensamento dos recordatórios do protagonista, parecendo narrativa noir, e tornando cada golpe e embate entre os dois amigos um universo filosófico associado a questão física.

Se não bastasse essa história recheada tematicamente e inspirada em desenvolver mais uma vez a ocidental filosofia e legislação que Shang Chi constantemente entra em confronto com a polícia, mais os discursos de Fu Manchu para Meia-Noite sobre como essa filosofia é problemática pelos olhos orientais; Jim Starlim tem o dom de escrever e ilustrar numa proporção qualidade, em que Al Migrom, ilustrador que volta, também, depois de ajudar Mike Vosburg com a arte-final nas nas primeiras edições do Mestre do Kung Fu, tornam o traço muito mais limpo para compreender a ação, que na diagramação bem fracionada, para registrar a temporalidade que Shang Chi trata com calma o seu meio estressado de pessoas tentando atacá-lo, valoriza os espaços dos quadrinhos e suas varias proporções para contemplar tanto a ação como a rivalidade/amizade dramática de M’nai e Shang Chi em imagem. Sem a organização dos quadros a frase final “por natureza, os homens são semelhantes; pela prática, eles ficam bem separados” não faria tanto sentido e tanto impacto.

Deadly Hands of Kung Fu #15 (EUA, agosto de 1975)
Roteiro: Steve Englehart, Jim Starlin
Arte: Jim Starlin, Al Milgrom
Arte-final: Al Milgrom
Letras: Tom Orzechowski, June Braverman
Editoria: Roy Thomas
20 páginas

Demons Painted in Death!

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Algumas críticas simplórias sobre aparentes pressas ou lentidões para narrativas diversas na arte é bem comum, mas muitas vezes elas são julgadas simplórias pela subjetividade que consiste numa ausência de comparações bem feitas para comprovações mais concretas dessas pressas e lentidões. No entanto, repetindo a mesma equipe criativa e seguindo a quarta parte dessa saga sobre essa estátua do Dragão Dourado com pelo menos 5 personagens em uma trama de constante perseguição e traição, em que não se pode confiar em ninguém, é evidente que lendo esse roteiro de Doug Moench com a arte de Ruby Nebres a terceira parte Thief in Golden Shadows foi produzida editorialmente com descuidado. Essa continuação da história em Demons Painted in Death! tem a calma necessária para surpreender duas vezes Shang Chi e seu colega investigador na busca por o Dragão Dourado e permitir cenas de ação mais valorizadas como clímax da narrativa.

Mais uma vez Sheraan  mente para o Mestre do Kung Fu e Cho Lee realmente parece imortal, como a introdução na primeira página sugere dúvida, até porque sua identidade trocada com o tal Shadow Thief é um mistério que Sheraan contribuiu ainda mais para confundir. As surpresas envolvem esses personagens, em que após diálogos de pressão na procura do macguffin dourado, Shang Chi precisa reagir a a fuga da mulher bonita, Sheraan, e ao grupo de lutadores meio sobrenaturais que Cho Lee chama para combater o protagonista. Se antes a ilustração de Ruby Nebres parecia detalhista, mas inchada de sombreamentos, que acabava provocando poluição, agora é esse traço que é valorizado e valoriza os dois clímax de ação e os interlúdios de diálogos, dando escopo mais específico, organizado, para as cenas de ação, como uma boa respiração que inspira e expira num bom timing.

Deadly Hands of Kung Fu #16 (EUA, setembro de 1975)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Rudy Nebres
Arte-final: Rudy Nebres
Letras: Marcos Pelayo
Editoria: Don McGregor
17 páginas

The Key to the Dragon’s Heart!

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A Saga do Dragão Dourado em sua penúltima parte traz um misto de revelação e ilusão. A revelação sem dúvida se dá sobre a mente de Shang Chi, a fragilidade que o Mestre do Kung Fu tem com relação a tramas que envolvem confiança, como o exemplo da não espiã chinesa Sheraan que o engana, e dos outros variados personagens que tem algo a dizer para o protagonista que o coloca numa ampla dúvida, como um golpe de espiritualidade que o Shadow Thief, ou Cho Lee, provocam no filho de Fu Manchu. A ilusão, por outro lado, se baseia muito no visual que se propõe a colocar o dragão do taoísmo chamado Lung, um das mais importantes criaturas chinesas da religião, para provocar propulsões reflexivas para um desafio que Shang Chi parece não conseguir ter a mente e o corpo equilibrados para enfrentar.

O ritmo posto na narrativa de diálogos com pessoas meio fantasmagóricas para trazer sanidade a Shang Chi dentro da suposta barriga do dragão – que felizmente cria uma ambiguidade sobre ele ser real ou não, em vista que a ilusão seria ainda mais decepcionante – não tem tanta força dramática quanto poderia, pois as conexões com o protagonista de fato colocam mais peso em suas costas dentro da saga pelo Dragão Dourado e o que ele significa, mas também serve quase que exclusivamente para deixar o Mestre do Kung Fu no chão, como objetivo único, sem um desenvolvimento tão crível quanto o drama visual do poderoso lutador do Kung Fu deixando um gancho para a última edição do arco sobre a necessidade árdua de vencer o combate contra o Shadow Thief para salvar o dia e as pessoas envolvidas com a estátua dourada.

Deadly Hands of Kung Fu #17 (EUA, outubro de 1975)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Rudy Nebres
Arte-final: Rudy Nebres
Letras: Marcos Pelayo
Editoria: Don McGregor
18 páginas

Secret of the Dragon!

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É preciso admitir que Doug Moench realmente entende o personagem Shang Chi, e apesar da saga do Dragão Dourado ser uma inconstante, quando o protagonista se vê numa trama de espionagem e ação que torna ausente temáticas sociais e conflitos culturais que fundamentaram o personagem nas primeiras edições de Deadly Hands of Kung Fu, ainda assim a constante dramática do personagem, o Mestre do Kung Fu, é mais uma vez posto em foco. Não se poderia esperar um final tão melancólico. Após tanta ação, após tanto desenvolvimento da desconfiança nesse contexto de espionagem de Guerra Fria na incessante busca pela real estátua do Dragão Dourado, para alguns leitores da época pode ter sido decepcionante, mas não é nada mais nada menos que Marvel no seu auge com seus personagens representativos.

Se Shang Chi é um Mestre do Kung Fu, um guerreiro pacifista, nos meandros de sua cultura e tradição há um certa inocência em abordar certas sujeiras ocidentais, ou até confusões globais à la James Bond. Dessa forma, Doug Moench ao escrever a história que o protagonista luta contra ele mesmo, ganhando e perdendo na ilusão do dragão Lung que Shadow Thief proporcionou, a história do Dragão Dourado se evidencia ainda mais como uma contra-narrativa de macguffin, em que a valorização do objeto se torna dispensável como um comentário interno da história, especialmente para o aprendizado de Shang Chi com Sheraan que ele se meteu onde não devia e não sabia. Esse é o herói da Marvel, não o que acerta, mas que erra aprendendo, ao ponto do prólogo da saga ser uma carta para Shang e os leitores sobre por vezes não percebemos como corremos atrás do vento, como diria o rei Salomão em Eclesiastes. Realmente, não poderia ser mais melancólico, quebrando expectativas.

Deadly Hands of Kung Fu #18 (EUA, novembro de 1975)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Rudy Nebres
Arte-final: Rudy Nebres
Letras: Marcos Pelayo
Editoria: Don McGregor
18 páginas

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