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Crítica | Danton – O Processo da Revolução

por Fernando Campos
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A principal característica da filmografia de Andrzej Wajda são as constantes críticas à opressão e governos totalitaristas, algo que pode ser verificado no ótimo O Homem de Ferro. Mesmo em sua fase francesa, o diretor não abandonou seus ideais e nos presenteia com Danton- O Processo da Revolução, uma obra que, além de fazer essas críticas, apresenta o embate ideológico entre dois personagens importantes da revolução francesa.

A obra mostra Danton (Gérard Depardieu), um dos líderes da revolução, que enfrenta o governo na tentativa de mudar a situação. Confiando no apoio popular, ele entra em choque com Robespierre (Wojciech Pszoniak), seu antigo aliado, mas acaba sendo levado a julgamento.

O filme inicia 11 anos após a revolução francesa, a república já está estabelecida e a democracia é feita através dos comitês. Apesar de parecer um cenário promissor, Wajda, inteligentemente, logo na primeira cena, insere o tom de sua obra, mostrando uma carruagem aproximando-se da entrada de Paris e sendo abordada por guardas, enquanto a paleta de cores escura ressalta como o clima na França é de terror. Esse ambiente inseguro e de vigilância serve de motor para a trama. Portanto, vemos Danton questionando as decisões do governo enquanto Robespierre defende o país a qualquer custo, servindo para exemplificar os dois lados naquela disputa, o do povo e o dos governantes.

Além do confronto ideológico sobre o futuro da França, Danton e Robespierre mostram duas visões opostas entre os revolucionistas, a que ainda se importa com o povo e outra que se deslumbrou completamente com o poder. Aliás, o longa adquire um tom crítico com relação àqueles governantes, destacando como passaram a tomar atitudes que antes condenavam sobre o pretexto de ser pelo bem da nação. Portanto, as mesmas pessoas que condenavam os privilégios da elite moram em casas enormes e luxuosas, desfrutando do bom e do melhor, enquanto os cidadãos precisam passar horas na fila do pão, medida adotada pelos governantes para frear as manifestações contra-revolucionistas, que eles dizem ser “contra o povo”, ou será contra seus interesses?

Mais do que mostrar o deslumbramento que alguns revolucionistas tiveram com o poder, o roteiro, escrito por Jean-Claude Cirrière, Jacek Gasiorowski, Agnieszka Holland e Andrezj Wajda,  é perfeito em destacar como os ideais que motivaram a revolução francesa,  liberdade, igualdade e fraternidade, foram ignorados por estas mesmas pessoas que lutaram por eles anos antes. Há uma cena, por exemplo, onde uma gráfica é destruída porque os jornais impressos ali continham artigos anti-governo, representando a quebra da liberdade. Já o fim da igualdade pode ser visto quando Danton é julgado, uma vez que, não é concedido a ele os direitos previstos na lei, sem contar que o júri é manipulado para condená-lo. Por fim, a partir do momento que Robespierre diz que não pretende agir para dar felicidade às ruas fica claro que fraternidade também não é um dos objetivos dos governantes.

Além do ótimo roteiro, o embate entre Danton e Robespierre funciona graças a grandes atuações de Gérard Depardieu e Wojciech Pszoniak e ambos conseguem transmitir com precisão a essência de seus personagens. Depardieu traz uma composição mais eloquente, mais gesticulada, mostrando o pouco refinamento de Danton e como ele assemelha-se mais com o povo do que com os governantes. Já Pszoniak mostra-se mais contido em seu papel, mas transmite em Robespierre um olhar de superioridade, demonstrando através de suas falas firmes que irá até o limite para conseguir o que quer.

Tecnicamente o filme é extremamente eficiente em recriar o início do século XIX, através de cenários e locações que evocam com eficiência o período. O mesmo pode ser dito para o figurino que, além de representar a época, cria contrastes entre os personagens, deixando Robespierre intimidador com seu casaco preto e Danton acolhedor com sua larga manta marrom. Já a trilha sonora mostra-se extremamente melancólica e pessimista, ressaltando como, apesar do sucesso da revolução, o futuro no país não é promissor.

A direção de Wajda opta aqui por usar vários planos médios e planos gerais, visando enquadrar mais de um personagem e assim valorizar o misancene. O diretor traz ainda alguns travellings laterais que servem para dinamizar determinados momentos e transmitir informações, como na cena em que Robespierre é questionado por seus colegas e a câmera lentamente o desloca do lado esquerdo para o centro  do quadro, destacando como ele comanda aquele ambiente.

Conhecido por suas obras que se opõe ao totalitarismo, Wajda alcança aqui o auge de sua carreira, com uma obra que mostra como governos, por mais bem intencionados que sejam, podem se corromper facilmente com o poder. Além disso, fica claro aqui que o discurso populista e que se diz á favor da população, as vezes, não passa de uma fala para defender benefícios próprios.

Danton – O Processo da Revolução (Danton) – França, Polônia, Alemanha, 1982
Direção: Andrzej Wajda
Roteiro: Jean-Claude Cirrière, Jacek Gasiorowski, Agnieszka Holland, Andrezj Wajda
Elenco: Gérard Depardieu, Wojciech Pszoniak, Anne Alvaro, Roland Blanche, Patrice Chéreau, Emmanuelle Debever, Krzysztof Globisz, Ronald Guttman, Gérard Hardy, Tadeusz Huk, Stéphane Jobert, Marian Kociniak
Duração: 136 min

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