Home QuadrinhosArco Crítica | Dampyr – Vols. 6 e 7: A Costa dos Esqueletos e Zona Proibida

Crítica | Dampyr – Vols. 6 e 7: A Costa dos Esqueletos e Zona Proibida

por Luiz Santiago
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Este arco formado pelas edições 6 e 7 de Dampyr, sob os títulos A Costa dos Esqueletos e Zona Proibida, leva o nosso protagonista da cidade de Praga para a costa da Namíbia, país ao sul do continente africano. Nessa viagem, Harlan Draka está ao lado de sua amiga Tesla e de seu amigo Kurjak, tendo recebido algumas dicas de Caleb Lost (Sob a Ponte de Pedra) dando conta da existência de uma criatura da noite numa região de mina parcialmente abandonada.

Trata-se de uma aventura um tantinho incomum do personagem, tanto em termos de início de jornada para os caçadores de vampiros quanto em constituição interna da história, que mescla a guerra de independência da Namíbia e outras disputas de poder entre brancos e negros, tendo em consideração dois Mestres da Noite. O primeiro deles é Vathek, um branco racista que controla as minas e tem duas milícias; uma de racistas psicopatas e outra de não-mortos. E o segundo é Omulu, um negro que utiliza da iconografia de mitologias da região — o orixá de mesmo nome, por exemplo — para criar uma base de fiéis seguidores e livrar-se de inimigos da época da colonização.

Pela forte marca política que compõe a história, o roteiro de Mauro Boselli se esforça para fazer com que o drama de horror jamais perca a importância, mas em alguns momentos eu não pude deixar de sentir que isso ainda acontece. Não é um grande escanteamento mas ele está lá, em algumas explicações possivelmente desnecessárias e em desvios para apresentação de novos personagens e para mais camadas dramáticas dentro de um enredo já complexo e lotado que acaba fazendo mal ao arco, especialmente na edição Zona Proibida. Esta segunda parte, além de herdar problemas mais escondidos na primeira, acaba tendo um impacto anticlimático notável, com a trama sendo interrompida a partir de um dado momento, e então continuada, quase sem muita graça. A meu ver, um erro de condução narrativa do autor que, mesmo não baixando o nível da história, impede que ela se mantenha muito alta.

Não entendi qual foi a do autor em insistir num possível/quase/suposto romance entre Tesla e um ex-guerrilheiro namíbio. Se houvesse uma função maior na história, nem que fosse para mostrar os dois ficando juntos e, a partir daí, nos trazer mais informações sobre a vampira, tudo bem. Mas termina que esse flerte não tem nenhum tipo de impacto, nenhuma função dramática. Não é ponte para atingir conhecimento algum sobre o “amor vampírico” ou trazer algo que servisse melhor ao arco. Eu até entendo que era necessário a adição de um ponto mais leve na história, mas não lembro de nenhum roteiro de Dampyr fazer isso de maneira gratuita, apenas para divertir. E pra falar a verdade, o tratamento de Tesla para o soldado me incomodou do começo ao fim, mesmo ficando claro que era apenas a forma dela se expressar, sem nenhum tipo de conotação racista. Ainda assim…

O final desse arco é ao mesmo tempo promissor e relativamente decepcionante. Promissor, porque Vathek, como já era de se esperar, não está morto. Isso abre a possibilidade de o Mestre da Noite voltar outras vezes à série, criando aí uma tradição de encontros futuros com o caçador de vampiros. E relativamente decepcionante porque não é um final fluído. Há uns pulos narrativos feitos para que tivéssemos apenas a resolução do problema e não o seu processo, o que se torna um problema porque o primeiro volume não tem esse recurso e a maior parte do segundo, idem. Daí quando aparece, a gente só consegue mesmo revirar os olhos e ver a tal abordagem minando uma história tão boa. Lá no fundo, isso acaba nos irritando ainda mais.

Dampyr #6 e 7: La costa degli scheletri e Zona proibita (Itália, setembro e outubro de 2000)
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora 85 (2019)
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Maurizio Dotti
Capa: Enea Riboldi
200 páginas

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