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Crítica | Dampyr – Vols. 21 e 22: Transylvanian Express e O Segredo das Sete Cidades

Harlan aproxima-se de Draka.

por Luiz Santiago
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Os filhos da noite perdem todos os ideais. A eternidade tem uma coisa boa: é um remédio eficaz contra todo fanatismo!

Este arco de duas edições dá continuidade aos eventos de O Castelo nos Cárpatos, quando o pai de Harlan ajuda-o a livrar-se de uma situação mortal. Isso deixa o Dampyr desconfiado, questionando-se (mais uma vez) se está ou não sendo usado pelo pai para matar inimigos. Esse conflito moral e existencial já tinha sido abordado anteriormente na série, mas aqui ele ganha uma forte presença crítica, com cenas e comentários assertivos de Kurjak a respeito da manipulação à distância do vampiro Draka em relação ao seu rebento, que passa a “sonhar acordado“, tendo “alucinações” que acabam colocando-o em perigo. Bem, ao menos na perspectiva do próprio Harlan, pois como vemos, no final, até os piores momentos da história são necessário para levar o caçador de vampiros até à Igreja Negra de Braşov (Biserica Neagră), uma catedral gótica que de fato existe, na Romênia.

Entre o volume anterior (#20) e o início do presente arco, Harlan descobriu (através de Caleb Lost) um misterioso romance escrito por uma autora escocesa de nome Dolly MacLaine. O roteiro de Transylvanian Express, a primeira parte da saga, propõe uma inteligente ligação entre o romance inacabado de MacLaine e a vida pessoal de Harlan. Entre o passado histórico em algum lugar dos Bálcãs e o momento presente do time principal da série. Além disso, a obra traz uma boa riqueza de eventos reais. Ela é ambientada na 1ª Guerra Mundial e explora, além do amor entre os protagonistas, as tensões entre Tríplice Aliança e Tríplice Entente, além dos conflitos entre britânicos e irlandeses, com pitadas de aventuras de espionagem, cabendo até uma referência interessante ao clássico A Dama Oculta.

O escritor Mauro Boselli cria uma sequência narrativa que não é muito comum nos quadrinhos, e que nos encanta pela versatilidade, pela maneira como representa diferentes tempos, estilos de narração e jeitos de se comunicar, sendo muitíssimo bem acompanhado pelos desenhos de Majo, que também brinca com diferentes estilos de finalização e constituição dos traços para contar diferentes histórias ou representar diferentes atmosferas cênicas (como a do Flautista de Hamelin ou dos momentos oníricos de Tesla e Harlan). No conteúdo, o trio principal procura encontrar Draka, o pai do Dampyr. Mas durante essa jornada, eles acabam se deparando com os Lobos Azuis, uma associação secreta da extrema direita alemã, ou seja, um grupo neonazista (e relativamente místico) que está na Transilvânia em busca de uma “arma definitiva” deixada ali, em algum lugar, pelos Cavaleiros Teutônicos — tema explorado na segunda parte da trama, O Segredo das Sete Cidades. Esse lado da narrativa também se afunila para o bloco de Draka, como não podia deixar de ser.

Apesar de ter várias linhas de ação, a trama não é confusa. O autor apresenta, neste arco, um de seus textos mais densos e mais ricos na série até aqui, além de experimentar um caminho de narração que ele só tinha brevemente ensaiado antes. Gosto muito quando séries longevas se dão a liberdade de incorporar caminhos dramáticos diferentes, pois é esse tipo de abordagem que garante a qualidade e o charme da obra, mesmo estando tanto tempo no mercado.

O meu maior problema com essa trama está concentrado na forma bem abrupta com que Boselli encerra o tão esperado encontro de Harlan com o pai. Eu até entendo a intenção do autor em “fazer figa“, em sustentar ainda mais o suspense, mas isso não caiu muito bem à narrativa. O leitor sente o clímax cortado ao meio e sofre com o salto diegético que se dá para uma conversa entre Harlan e seus amigos num carro, dirigindo para fora da cidade. É, porém, o início de um encontro mais sério entre o Dampyr e seu pai, um encontro que já nesses primeiros passos, mostra que vem com uma quantidade imensa de segredos para se explorar.

Dampyr – Vols. 21 e 22: Transylvanian Express e O Segredo das Sete Cidades (Transylvanian express / Il segreto delle sette città) — Itália, Dezembro de 2001 e Janeiro de 2002
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Majo
No Brasil: Dampyr – Vol.6 (Editora 85, abril de 2021)
Capa: Enea Riboldi
200 páginas

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