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Crítica | Dampyr – Vol. 9: Lâmia

Dois olhares para o passado. Duas histórias de sangue.

por Luiz Santiago
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O Manual do Vampirólogo, no início desse volume, faz uma excelente e breve passagem pelos primórdios das febres vampíricas na Europa, começando pelo caso de Jure Grando Alilović, de Kringa (1672), possivelmente o primeiro caso histórico registrado de um “indivíduo vampiro” e passando por outras ocorrências no continente, como as que se seguem: Grécia (1701), Prússia Oriental (1710, 1721 e 1750), Hungria (1925 – 30), Sérvia (1725 – 32, de onde vem o famoso caso de Arnold Paole e a escrita do relatório médico de Johann Flückinger intitulado Visum et Repertum), Silésia (1755), Valáquia (1756) e Rússia (1772). Essas indicações nos ajudam a preparar o espírito para o conteúdo que leremos adiante, trazendo da mitologia o nome da personagem protagonista: Lâmia.

Existem dezenas de versões para a história de Lâmia, mudando não só a sua origem, mas também sua aparência e os seus terríveis poderes. Na mais conhecida versão, a greco-romana, ela era a rainha da Líbia, uma mulher muito bonita, filha de Poseidon e amante de Zeus. Hera, com ciúmes do esposo, acabou transformando Lâmia em um monstro (uma variação dessa parte da história conta que Lâmia foi se esconder em uma caverna isolada e o que a transformou em um monstro foi o seu próprio desespero) que não podia fechar os olhos, para que ficasse eternamente obcecada com a imagem dos seus filhos mortos por Hera. Zeus, apiedado, deu-lhe o dom de poder extrair os olhos de vez em quando para descansar. Em outras mitologias, ela é tida como um demônio que devora crianças, ou ainda, parte de uma classe de monstros, bruxas ou espíritos femininos (as lâmias), que tinham metade do corpo humano e metade serpente, atacando jovens ou viajantes e lhes sugando o sangue. É dessa última versão que vem a referência de Maurizio Colombo para a presente história.

Em Berlim, “numa noite como qualquer outra“, vemos um homem perseguido por um Ser das trevas. Num primeiro momento até achei que fosse Tesla, mas já era a apresentação da protagonista. O curioso é que o roteiro faz a necessária contextualização para a história de vida da personagem (seu passado de traição com o rival Shrek, por exemplo, que tem impacto no presente relato), mas não mantém Lâmia o tempo inteiro nos holofotes. A bem da verdade, o drama de Tesla e seu ex-amante é que parece ter mais força narrativa nessa aventura, fornecendo informações importantes sobre como a vampira foi transformada por Gorka. Claro que não é nada absurdo em termos de qualidade — termina sendo mais uma história de traição bem contada — mas por estarmos a mais tempo ao lado de Tesla, tal narrativa acaba parecendo mais interessante.

Mais do que a história em si, o leitor aprecia com gosto a arte de Majo, que é cheia de detalhes macabros — adoro os desenhos que ele faz da cidade ou do subterrâneo da catedral onde Harlan Draka encontra a tumba de Lâmia — e cenas de luta com golpes precisos e cheios de intensidade. Lá pelo meio do volume, quando a história de Tesla e seu antigo parceiro (um astro do rock no leito de morte, morrendo de AIDS, parecendo emular a situação de Freddie Mercury) se mistura com o drama do Dampyr, a unidade geral do enredo parece melhorar consideravelmente, tornando-se mais completa… embora não por muito tempo.

Uma coisa é certa: Lâmia apresenta uma personagem que deve voltar à série no futuro e que pode ter uma relação bem interessante com Draka, daquelas que charmosas vilãs femininas possuem com mocinhos das histórias de super-heróis. O trato que eles fazem para matar Shrek e os termos da conversa que travam depois disso indicam uma certa cumplicidade. Aqui, o leitor divide sua atenção em dois blocos vampíricos trazendo informações do passado e mostrando como podem influenciar no presente (ambas as histórias são trajetórias de vingança, por sinal). Mas de impacto mesmo, apenas a possibilidade de vermos a protagonista em outras aventuras. Isso, e a narração da origem de Tesla, o tipo de apresentação que sempre empresta um bom peso a qualquer plot, por mais simples que seja.

Dampyr – Vol. 9: Lâmia (Lamiah) — Itália, dezembro de 2000
Editora original:
Sergio Bonelli Editore
No Brasil:
Editora 85 (2019)
Roteiro: Maurizio Colombo
Arte: Majo
Capa: Enea Riboldi
100 páginas

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