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Crítica | A Luz Negra (Dampyr #19)

Escritores em Marraquexe.

por Luiz Santiago
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Em A Luz Negra, o escritor Maurizio Colombo visita novamente o mundo das artes, mais especificamente o da literatura, para contar a história de um grupo de escritores que buscam a ajuda de um mago na cidade de Marraquexe, Marrocos, para que tenham benefícios de um determinado espírito, um demônio-sombra chamado Kyazar. Sabemos que ele faz parte de uma espécie demoníaca invocada por palavras misteriosas e pelo sangue daqueles que querem suas bênçãos. Retirado de um reino de fantasia que parece formado por variações de realidades fictícias criadas por humanos e povoada por demônios, guerreiros e lutas épicas. Trata-se, então, de uma narrativa metalinguística, onde a arte da escrita está ligada a um demônio-sombra aprisionado, que se sentiu traído por aqueles a quem deu inspiração e que, quando se liberta, quer vingança.

É uma pena que o autor não explore o Universo ou mais características da espécie de Kyazar, dando indicações sobre qual tipo de panteão ou mitologia ele pertence; ou quais são os limites de seu poder, dentro ou fora da nossa realidade. No início da história, Caleb Lost se mostra bastante preocupado com o fato desse Ser estar solto em nosso mundo, por isso faz com que os escritores encontrem a Biblioteca e sigam, juntamente com Harlan Draka, para Marraquexe, onde devem encontrar o mago que iniciou tudo, o velho Mulawa. Se o autor tivesse dado um pouco mais de informações a respeito do Universo do demônio e explorasse um pouquinho maior as características de seu mundo, o enredo seria bem mais interessante, especialmente no final, quando conhecemos os Sentinelas Negros, desenhados de maneira sensacional por Nicola Genzianella (em sua segunda participação na série, depois de Das Trevas).

A reflexão que o roteiro desta edição nos traz é sobre o preço a ser pago por querer inspiração fácil (e digo isso porque fica claro que sucesso literário foi o pedido de todos os escritores que invocaram o demônio). Considerando as características próprias de cada história, é possível até traçar um paralelo com uma famosa aventura de Sandman, chamada Calíope. Em ambos os casos temos pessoas que aprisionam suas fontes de inspiração e, embora estejamos falando de seres de diferentes alinhamentos, o resultado final é ruim para os escritores que levam esse plano adiante. Para os homens de A Luz Negra, o que se destaca é o tipo de morte que Kyazar traz para cada um deles. Eu achei muitíssimo criativa a execução literal da frase “morrer de medo“, com todos os autores levados até um dos Universos ficcionais que criaram, sendo mortos nesse mundo literário pelos vilões da obra — enquanto seus corpos no mundo real se paralisavam de medo.

Das aventuras de Dampyr até o momento, A Luz Negra foi certamente a mais tranquila em termos de desenvolvimento. Apesar da ameaça ser grande, caso o espírito não seja preso novamente, o espaço de ação e a maneira como a trama se desenrola não têm o impacto dos outros volumes, havendo, inclusive, um lado sentimental muito bacana que é a relação do mago com um demônio criança do mesmo Universo de Kyazar, que o velho Mulawa resgata de um sacrifício e adota como seu neto, chamando-o de Kaled e dizendo que, no mundo Ocidental, ele é o equivalente a um fâmulo. Será que o único escritor que sobreviveu resolve não escrever mais porque não quer colocar à prova o seu talento “sem a inspiração demoníaca” ou porque ele não tem mais ideias, como aconteceu com o protagonista de Calíope? Em situações artísticas, o bom mesmo é permanecer com aquilo que se tem. Nem sempre os acordos para melhorar uma capacidade de criação acabam em bons termos.

Dampyr – Vol. 19: A Luz Negra (La luce nera) — Itália, outubro de 2001
No Brasil:
Editora 85 (setembro de 2020)
Roteiro: Maurizio Colombo
Arte: Nicola Genzianella
Capa: Enea Riboldi
Letras: Luca Corda
100 páginas

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