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Crítica | Dampyr – Vol. 18: A Tela Demoníaca

Uma noite de terror.

por Luiz Santiago
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A Tela Demoníaca é uma das histórias mais criativas e mais referenciais que já tivemos ao longo de 18 volumes de Dampyr. Escrita por Maurizio Colombo, a trama coloca Harlan Draka mais uma vez no caminho de um Mestre da Noite, agora um indivíduo chamado Alexis Musuraka, cineasta da Era de Ouro do cinema especializado em filmes de terror. Muitas leituras comparativas podem ser feitas aqui, tanto para ele quanto para o seu ex-assistente de direção, Louis Fuller, que também viria a se transformar em um icônico cineasta especializado em filmes de terror. As comparações vão de Robert Wiene e F.W. Murnau até artistas italianos do gênero, como Mario Bava e Lucio Fulci. O leitor não precisa escolher nenhuma representação específica e nem o roteiro faz isso, porque essa escolha não é importante. Ela apenas sugere uma aproximação para que a identificação e as referências estejam com os dois pés firmes em nossa realidade. 

A fantástica arte de Luca Rossi cai como uma luva para essas representações terríveis, da face dos novos personagens às criaturas dos filmes de terror e arquitetura ou cenários típicos, que ficam cada vez mais imponentes à medida que a história avança. A aventura se passa em Amsterdã, em um cinema chamado Murnau Bioscope, onde Musuraka, após anos de letargia, “revive” e começa uma nova onda de matanças cinéfilas. A história é inteiramente marcada por clássicos do cinema, com uma representação estética geral que se aproxima do Expressionismo Alemão, mas que viaja pelas mais diversas Eras, brincando com elementos visuais ou personagens vindos de filmes como A Noite dos Mortos Vivos, O Homem Que Ri, Psicose, O Massacre da Serra Elétrica, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Piranha e Hellraiser; iniciando com recepcionistas muito reais, na figura de Nosferatu e Drácula, dando as boas-vindas a um casal que entrava em uma sessão de O Vampiro da Noite (1958). O que ocorre neste ato inicial dá o tom de toda a aventura: as criaturas da tela ganham vida e massacram os espectadores na plateia. É a versão macabra de mortal de A Rosa Púrpura do Cairo, uma vez que os espectadores, se forem escolhidos pelo diretor, também poderão ser transformados em atores desses longas-metragens vivos.

A ameaça, desta vez, tem um peso e uma característica diferente. Ela não é menos impactante ou menos violenta, mas tem uma atmosfera artística que de certa forma “suaviza” o perigo, faz com que a metalinguagem assuma também o posto de personagem narradora e nos lembre dos filmes found footage e de tantos enredos ligando o slasher e o gore aos bastidores do cinema. Enviado por Caleb Lost para combater essa ameaça, Harlan, Tesla e Kurjak são colocados em contato com Louis Fuller, e então descobrem a longa história que esse diretor tem com Musuraka. A inimizade entre eles é resolvida numa linha de espetáculo fílmico, especialmente porque o vampiro da vez é um orgulhoso e sanguinolento “artista”, que procura fazer tudo da maneira mais autoral e chamativa possível. Ele é responsável por transformar pessoas em “fantoches vivos” dos filmes que altera (vide Os Mortos-Vivos do Quarto Reich, cujo cartaz está na parede do cinema), e por se divertir com a morte dos espectadores dessas obras.

A resolução do caso é a parte que eu menos gosto do volume, apesar de sua preparação ser muito boa. No ato final, Kurjak é colocado no set de Os Doze Condenados; Tesla em uma sala cheia de versões dos vampiros mais famosos do cinema e Harlan e Louis ficam à mercê de Musuraka, que usa metros e metros de película no chão ou como matéria-prima para fazer monstros e atacar o dampyr. O estabelecimento desse cenário de batalha, assim como toda a preparação que o precede é muitíssimo interessante, especialmente para cinéfilos, mas a conclusão da batalha em si é anticlimática. O leitor não vai se esquecer do tom solene no encerramento, que faz homenagem a um mestre do cinema que morreu batalhando contra um inimigo pessoal, um Mestre da Noite que se denominava “artista”. Uma história que sugere uma forma  bem mais sombria de consumir e conceber o terror no cinema. 

Dampyr – Vol.18: A Tela Demoníaca (Lo schermo demoniaco) — Itália, setembro de 2001
Roteiro: Maurizio Colombo
Arte: Luca Rossi
Capa: Enea Riboldi
Letras: Luca Corda
100 páginas

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