Nêmesis nos leva de volta para as terras devastadas da antiga Iugoslávia, lar de Emil Kurjak, onde conhecemos um pouco de sua vida antes de se encontrar com Tesla e Harlan Draka. O escritor Maurizio Colombo nos apresenta uma história de amor trágico, vingança e também de magia, seguindo a atmosfera que sempre fez parte da série, adicionando, além dos vampiros, uma bruxa na trama — e uma bruxa também diferente daquela a que estamos acostumados. Se em Lâmia tivemos um pouco de contato com a história de Tesla e o roteiro procurou destacar pessoas para além do personagem-título, aqui em Nêmesis isso acontece com Kurjak, que resolve voltar para a sua aldeia natal e leva os amigos para passar umas férias com ele e sua família.
A ideia do roteiro é explorar a resolução de um “homem de guerra” que resolve se aposentar, largar as armas e viver uma vida simples, ajudando as pessoas que precisam; ou simplesmente passar seus dias em paz, num lugar que lhe faz feliz. Bem, como já vimos muito em filmes, quadrinhos e livros de máfia, noir e faroeste, esse tipo de resolução é sempre frustrada por algum acontecimento que acenderá no personagem uma sede de vingança e, como consequência, um impulso que o fará repensar a aposentadoria, entendendo que o mundo não está livre dos mais terríveis monstros e que ainda há muito trabalho a fazer. Uma espécie de “maldição do Homem Sem Nome ou do Cavaleiro Solitário” acaba sendo o resultado final para Kurjak aqui.
Duas frentes dramáticas são vistas em desenvolvimento nessa aventura. A primeira, ligada ao soldado, diz respeito a Nadjia (um antigo amor) e aos experimentos que o Dr. Nemech (ou Dr. Morte) realiza na fábrica Temsek, administrada por um sádico chamado Rovic. Os experimentos com o ‘gás nêmesis’ lembram imediatamente o que os nazistas faziam com os judeus nas câmaras de gás, e as imagens de morte desenhadas por Giuliano Piccininno são claramente alusões a esse terrível momento da História do mundo. Tratados como cobaias, os habitantes das vilas são entregues aos produtores desse gás, que seguem testando em humanos a eficácia do produto. Eles planejam vendê-lo para alguém muito importante e que aparece só no final da história, revelando-se um vampiro. Pela maneira como o roteiro o trata, é claramente alguém marcante para o cânone de Dampyr e deve voltar a aparecer na série. Por enquanto, porém, nem seu nome sabemos ainda.
Já a segunda frente dramática é ligada à presença dos visitantes na vila e a ação que tomam contra a família Kovash e contra os homens ligados à poderosa arma química. Ambos os lados são interessantes e possuem bons níveis de ação, embora a intenção de Colombo aqui seja explorar as emoções humanas, daí tudo voltar-se sempre para as antigas querelas entre famílias; para pessoas sofrendo, para uma criança sendo entretida por uma fábula salvadora antes de dormir… esse tipo de coisa. Talvez por se afastar mais de contextos vampirescos e dar maior atenção para outra coisa, a trama não consiga crescer tanto. A relação de Kurjak com o pai, por exemplo, é algo que poderia ser melhor trabalhado e ganhar espaço na história, caso ela fosse estendida por dois volumes — e o velho Miklos tem humor e garra o bastante para garantir boas páginas, não é não?
Também como ponto levemente negativo, posso dizer que o desfecho da história, após o clímax da batalha na fábrica, ocorre de um salto e nos dá a impressão de que falta algo entre os dois momentos. A saga termina, enfim, com uma calorosa despedida (eu ri e senti uma forte dose de fofura com Miklos dando um protetor solar de presente para Tesla) e a promessa de que a luta continua nas duas esferas que marcaram o enredo. Por enquanto, a paz não é algo que Kurjak nem os seus companheiros irão desfrutar.
Dampyr – Vol.11: Nêmesis (Nemesis) — Itália, 2001
No Brasil: Editora Mythos (2005) e Editora 85 (setembro de 2019)
Roteiro: Maurizio Colombo
Arte: Giuliano Piccininno
Capa: Enea Riboldi
100 páginas