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Crítica | Cut: Cenas de Horror

Uma das últimas narrativas do slasher metalinguístico pós-Pânico.

por Leonardo Campos
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Um slasher que mirou em Pânico e acertou em Lenda Urbana 2. Cut: Cenas de Horror, é uma narrativa cheia de irregularidades, mas não podemos deixar de destacar que diverte, atende ao clima dinâmico de um filme do segmento que traz mortes e personagens geralmente rasos, além de flertar com algumas referências cinematográficas       que criam identificações com o seu público. É uma produção que integra a fase Slasher Decadente, filmes que surgiram na esteira do sucesso de Wes Craven e Kevin Williamson, parceiros da franquia de Ghostface, avalanche de histórias que tentaram emular a fórmula do assassino mascarado a perseguir jovens por causa de segredos do passado. Aqui, as figuras ficcionais são estudantes de cinema. Eles desejam encerrar um filme amaldiçoado, responsável por banhos de sangue toda vez que é retomado ou tem os seus trechos exibidos em algum lugar. Jovens e cheios de vitalidade, o grupo almeja a realização de um filme de terror intenso, conforme as palavras da cineasta responsável pela empreitada, melhor que Halloween: A Noite do Terror, mais assustador que Sexta-Feira 13 e mais sangrento que O Massacre da Serra Elétrica. Será que conseguirão?

Sigamos. Cut: Cenas de Horror abre com uma cena situada nos bastidores de filmagens desta tal narrativa amaldiçoada. A diretora, interpretada por Kylie Minogue, aborrecida com o ator intérprete do antagonista, cria uma situação constrangedora para o membro da equipe, após o rapaz não seguir corretamente as indicações de cena. Todos precisam trabalhar mais, refazer a maquiagem e ajustar os efeitos. Nesta onda de estresse, uma crise acaba se estabelecendo e a cineasta é sadicamente assassinada pelo ator revoltado. Alguns anos depois, uma equipe formada por jovens estudantes deseja retomar o filme em questão, tendo em vista ressignificar a sua história. O problema é que neste novo começo, mortes voltam a acontecer e algo nos leva a crer que a tal maldição de fato existe. Entre idas e vindas, observamos inicialmente a escalação dos atores, o retorno da protagonista do filme amaldiçoado, Vanessa Turnbill (Molly Ringwald), bem como a distribuição de funções que vai da organização da fotografia ao processo de pesquisa por locações, estabelecimento da cenografia, figurino, dentre outras etapas.

Descobriremos, logo mais, que a exibição do filme é o que torna a existência do assassino real. É um elemento sobrenatural inserido na história que segue os passados de Pânico, mas se diferencia pela falta de qualidade na execução e pelo enredo interessante, mas com muitas falhas dramáticas, o que nos impede de considera-lo um slasher com relevância. O que nos resta é se divertir com os poucos bons momentos e rir das abordagens referenciais do roteiro, num flerte com a temática dos impactos da violência cinematográfica na vida real, algo já realizado com esmero em Pânico 2, aqui retomado ligeiramente para acrescentar pontos de complexidade na história fajuta de Dave Warner, material dramático dirigido por Kimble Rendall, dupla que entrega ao público um decadente slasher básico, sem grandes momentos, isto é, desprovido de passagens memoráveis, mas funcional para quem curte um entretenimento mais ligeiro. Em seu desfecho, há uma tentativa de abrir espaço para uma continuação, algo que ficou apenas no terreno das intencionalidades, até então não consumado por novos produtores.

Com muitas mortes fora de cena em seus 98 minutos, a maquiagem do filme possui poucos momentos para nos colocar dentro do clima basilar do slasher. Sua direção de fotografia, assinada por David Foreman, peca por alguns trechos muito escuros, equivocados ao não nos permitir melhor compreensão do que acontece em cena. Guy Gross puxa alguns tons rápidos da textura percussiva que Marco Beltrami compôs para Pânico, mas os trechos são bem fugazes, reconhecidos por aqueles que talvez conheçam mais profundamente tal trilha sonora. Ademais, na concepção dos espaços, talvez um dos acertos seja a o design de produção de Steven Jones Evans, responsável por nos colocar como espectadores de uma trama situada numa região nebulosa, dispersa dos grandes centros urbanos, clichê maior do slasher, desdobramentos do estilo gótico que vez ou outra, domina este profícuo subgênero de muitas fases. Lançado em 1999, Cut: Cenas de Horror é uma das últimas narrativas da fase metalinguística deste segmento na época. Por sinal, um dos suspiros finais e agonizantes.

Cut: Cenas de Horror (Cut, Austrália/Alemanha/Estados Unidos– 2000)
Direção: Kimble Rendall
Roteiro: David Warner
Elenco: Molly Ringwald, Frank Roberts, Kylie Minogue, Geoff Revell, Jessica Napier, Sarah Kants, Stephen Curry, Matt Russell
Duração: 89 min.

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