No seguinte compilado, você encontrará críticas de cada um dos cinco indicados a categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem do Oscar 2021 em ordem alfabética. Os textos dos curtas A Concerto is a Conversation e Hunger Ward foram escritos por Davi Lima, enquanto os curtas Colette, Do Not Split e Uma Canção Para Latasha foram escritos por Iann Jeliel.
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A Concerto is a Conversation
Para qualquer espectador é perceptível que esse curta documentário explica seu conceito de estrutura de produção. Quando Kris Bowers explica para o avô o que é um concerto, semelhante a uma conversa, pode-se cria uma pergunta: quem veio primeiro? O método de elaborar um curta na base da conversa de planos fechados nos rostos dos interlocutores, ou a conversa homenagem do neto para o avô achou a ideia da interpretação do concerto o método de direção? Independente disso, o fato é que nessa pergunta conta-se bem a funcionalidade da linguagem cinematográfica do curta. Pois na dependência do interesse do espectador pela conversa, que se acochambra entre os planos fechados, ele se mantém na qualidade da simultaneidade temporal entrecortada no drama de geracional.
A narrativa se prepara antes de zarpar com a história que quer contar, então mesmo que o espectador já se sinta confrontado com a cara do avô e do neto dispostos frontalmente na tela, há o estabelecimento prévio, conceitual e ágil onde o espectador vai se colocar. Nesse sentido, a noção do concerto tematicamente e formalmente no audiovisual se entrelaçam em uma trinca felizmente e infelizmente imóvel. Esse imóvel não contradiz a história do avô para o neto quanto a dilema de Kris Bowers sobre o que ele poderia ou não fazer na sua carreira de compositor como pessoa negra nos EUA, quanto a mobilidade social e econômica como ser humano. A história do avô na Flórida e sua conquista de emprego lavando roupas, posta no curta com fotos e vídeos de arquivo, se envolvem com intimidade e escopo social que corresponde ao pensamento verbalizado do neto Kris. No entanto, a dinâmica horizontal da conversa não foge desse método diálogo, criando uma complementaridade apenas observável, embora efetiva dramaticamente no quesito responsivo do diálogo problematizante do racismo nos EUA.
Assim, apesar da direção buscar alguma poesia musical e uma fotografia onisciente que tenta perfurar o método de diálogo, usando até edições façam rimas visuais quanto ao conceito de observar e temporalizar a conversa geracional posta no curta; ainda assim serve para amaciar alguma falha na parede frontal do diálogo que o método de produção do curta denomina. Ao mesmo tempo que não há mobilidade dramática na narrativa, ao menos não há fuga, sustentando uma linda conclusão de história sobre a conquista de um negro idoso se preocupar apenas com um desafio na vida: a saúde.
A Concerto is a Conversation (Idem | EUA, 2020)
Direção: Ben Proudfoot, Kris Bowers
Com: Kris Bowers, Horace Bowers
Duração: 13 minutos
> Curtas Oscar 2021
Colette
A linha tênue entre um documentário de curta duração com uma reportagem jornalística é muito curta, especialmente em filmes como Colette, de estrutura bem semelhantes a aquelas reportagens de horário especial, em que o intuito é, ou relatar grandes histórias, ou relatar curiosidades que valem ser compartilhadas, ou algo do tipo.
Se encaixando nesse primeiro caso, basicamente no curta, acompanhamos uma senhora vítima do holocausto nazista e que decide revisitar o local do campo de concentração a qual seu irmão foi morto, para superar o fantasma que ficou em sua memória. Como a matéria teve iniciativa prévia, a montagem tem meio caminho andado para elaborar uma construção correspondente com a reação já conhecida por filmagens de Colette ao se deparar com o lugar que a assombrou. A premissa, na verdade, só foi para a frente em dissertação e virou um filme porque houve algo a se extrair dessa reação para compensar a matéria, portanto, todas as cenas antes de revelar tal reação irão preparar o terreno para potencializar seu efeito no público.
Felizmente, a manipulação emocional do curta é devidamente saudável, um verdadeiro respiro de respeito a uma memória, didatizada em entornos com objetividade e sem atrapalhar a jornada comovente de superação da vítima sobrevivente com seus traumas.
Colette (Idem | EUA, 2020)
Direção: Anthony Giacchino
Com: Lucie Fouble, Colette Marin-Catherine
Duração: 24 minutos
. Curtas Oscar 2021
Do Not Split
O registro presencial e participativo da velha história de protestos contra a liberdade, agora no epicentro capitalista chinês. Fato é, que pelo menos em cenário nacional, a revolta dos jovens nas ruas em combate a nova Lei de Segurança Nacional não foi tão noticiada, ou pelo menos, teve sua importância completamente esvaída pela pandemia do Corona Vírus tempos depois.
O vírus possivelmente interrompeu a construção desse documentário de um longa-metragem para um curta, tornando-o mais objetivo, enxuto, logo, menos didático do que poderia para a complexidade dos pormenores da revolta, mas, mas essencialmente uma vitrine de entrada para o exterior sobre a temática. O cineasta Anders Hammer acredita muito mais no poder da ação, do que no dos relatos ou explicações. Tanto que os poucos entrevistados, respondem as perguntas mais básicas possíveis, literalmente, no calor do momento, porque justamente ele quer preservar esse sentimento de urgência ao longo de toda duração, quase sem tempo para respiros, justificando aí, as poucas inserções de letreiros de contextualização. No máximo, a amostragem da data ou frases curtas de poucos segundos de aparição.
Essa estratégia não adiantaria de nada se ele não se garantisse com suas extraordinárias filmagens dentro da confusão que se contextualizam por si só. E realmente funcionam como tal. O relato imediatista, valorizado dessa forma, garante o impacto necessário para a busca do aprofundamento, porque o curta faz com que acreditemos na sua relevância.
Do Not Split (Idem | Noruega – EUA, 2020)
Direção: Anders Hammer
Com: Joey Siu, Rocky S. Tuan
Duração: 35 minutos
. Curtas Oscar 2021
Hunger Ward
A união da ideia culpabilizadora apenas do ser humano com a forma giratória em espiral de narrativa do curta documental acaba fundamentando uma denúncia simultaneamente fria em sua forma, mas extremamente dolorosa do ambiente do Yemen, sem tendência palpável de resolução além do espectador.
Em geral, é uma obra de pedido de ajuda, admitindo a realidade esvaziada de esperança no olhar puramente humanista. A noção das crianças, em como história de duas garotas com má nutrição e o ambiente médico evidencia-as como adultos precoces como efeito do sofrimento, também estrutura uma narrativa que parece avançar entre os espaços do Norte e do Sul do Yemen, porém volta sempre ao mesmo ponto da morte inevitável. Mesmo que se arranque um sorriso de uma criança em um brinquedo girando, ou uma das garotas volte para casa, a insistência fria e apelativa de gravar mães atordoadas com seus filhos morrendo retoma a frase inicial do curta que culpabiliza o ser humano em eterno giro.
Por isso os espaços físicos servem como transição visual e acomodação de planos estáticos que denotam um sofrimento cotidiano de famílias em espera nos hospitais com suas crianças. Porque não há para onde fugir. Se o curta começa usando a frase da Graphic Novel Watchmen para centralizar o drama nos próprios defeitos humanos, e o desenvolvimento da história é o efeito desses defeitos, a conclusão é a sugestão de quebrar a situação giratória do curta que dramatiza “honestamente” com a tentativa e a falha como fato. A sugestão é a ajuda do espectador, o último fim da linha giratória de um curta-metragem que coloca em decalque frases sobre prédios, discurso sobre a verticalidade de instituições gravadas por uma fotografia isométrica. O espectador vira o deus que pode quebrar o giro de dor.
Hunger Ward (Idem | EUA, 2020)
Direção: Skye Fitzgerald
Com: Aida Alsadeeq, Omeima Essa Salem Abdullah, Mekkia Mahdi, Abeer Otham
Duração: 40 minutos
. Curtas Oscar 2021
Uma Canção Para Latasha
Geralmente não gosto tanto de documentários somente de relato, porque o preenchimento imagético na contagem do tal, dificilmente consegue ser pensado de maneira correspondente sem se tornar obvia demais. No entanto, em Uma Canção Para Latasha essa estrutura de relato e recriação de fundo adquiri um status quo fundamental na construção da denúncia, que se fosse entregue de primeira mão poderia facilmente cair no território genérico e emocionalmente apelativo, diminuindo a força moral da injustiça.
Por partir de um ponto de vista secundário, não exatamente participativo e sem explicações primárias, a montagem encontra um terreno livre para elaborar a primeira parte dos depoimentos com um descompromisso da narração, que poetiza a lúdica vida da amizade de Latasha e sua prima Shinese, em que pequenas interseções vão deixando claro o caráter de valorização de legado, mas ainda escondendo a primitiva informação de como aconteceu. Aos poucos, os relatos desse cotidiano vão se adentrando no discurso racial, e quando menos se espera, o curta transaciona primordialmente as duas coisas no desfecho melancólico de Latasha, em qual, a dedicatória começa a fazer mais sentido.
Uma transição guiada através de imagens turvas. A recriação é abandonada para dar lugar a narração pesada, sem trilha sonora e seca de Shinese através de um jogo de imagens turvas. Basicamente o curta no acompanhar da narração recria o sentimento lúdico perdido pelas vidas ao redor de Latasha e a injustiça social vira apenas um detalhe, ou melhor, a cereja para colocar a razão da absurda morte pelo suco de laranja, mas que poderia ser por qualquer outra banalidade parecida.
Uma Canção Para Latasha (A Love Song for Latasha | EUA, 2019)
Direção: Sophia Nahli Allison
Com: Raigan Alex, Zoe Flint, Shinese Harlins, Brittany Hudson, Tybie O’Bard, Londyn Sharp
Duração: 19 minutos