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Crítica | Curtas do Oscar 2025: Documentário

Gravar um documentário é um desafio, ainda mais narrativas de decisões difíceis.

por Davi Lima
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Curtas Documentário Oscar 2025

No seguinte compilado, você encontrará críticas de todos os indicados a categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem do Oscar 2025 na ordem da lista dos indicados.

 

Instruments of a Beating Heart

Curtas Documentário Oscar 2025

As crianças estudantes da Tsukado Elementary School em Tóquio são exemplos dramáticos para corações orgulhosos do perfeccionismo. O drama documental de crianças treinando para uma apresentação com instrumentos de percussão é tematicamente harmonizado à tensão de uma criança buscando a perfeição.

Tudo é muito singelo no documentário, com três atos claros da menina protagonista Ayame passando pela narrativa heroica do aprendizado na educação japonesa. Os sucessivos choros da criancinha são fatais para ensinar sobre a dificuldade da disciplina, mas também a dificuldade de não querer ser perfeito.

Tanto na música quanto na cultura japonesa existe essa conexão: perfeccionismo bate o coração. O documentário mostra de maneira simplificada o terror que pode acontecer no coração de uma criança treinando para fazer dois toques no prato de bateria. Por isso o papel dos professores tem uma intensidade diferente para sincronizar o coração das crianças nessa história.

A diretora Ema Ryan Yamazaki define bem seu recorte, lida com o problema de expor crianças com tanta emoção confessada, e entrega o respiro de uma boa apresentação de uma banda de percussão, com Ayame aprendendo a lição da percussão e do coração na prática. Isso faz as batidas do curta facilmente se ritmarem com espectadores que têm dificuldade aceitar seus erros.

Instruments of a Beating Heart (Japão, 2024)
Direção: Ema Ryan Yamazaki
Roteiro: Ema Ryan Yamazaki
Com: Ayame e outras crianças do Tsukado Elementary School
Duração: 23 min.

A Única Mulher na Orquestra

Curtas Documentário Oscar 2025

Esse curta revela a natureza do documentário, tanto na mudança do projeto – baseado nas fontes que vão se transformando – como na construção da narrativa. Isso evidencia o papel do diretor como criador da história – mesmo sendo um documentário, de uma história real, mas ainda assim é montada por alguém.

Essa revelação é o que torna a homenagem de Orin O’Brien um misto do que a tia quer e o que a sobrinha, a diretora Molly O’Brien, queria. A princípio isso poderia gerar um problema no projeto, mas a diretora converte esse conflito da fonte oral em “improviso narrativo”. Acaba sendo uma reviravolta dentro de um curta arquitetado e enfeitado para representar a tia como artista e música.

A introdução bem clássica de documentário, utilizando flashbacks, fotos e materiais de jornais – lidas e colocadas na montagem – cria uma dinâmica para a abertura da protagonista documentada. Porém, a sobrinha faz uma espécie de flashback dentro de sua narrativa como segundo ato, mostrando que o maior tesouro da sua tia era ser constante com a música.

Essa constância era o que a mantinha sã depois de mudar de casa e se aposentar. A celebração dela como artista, que a sobrinha se inspirava, remontava muito o passado pouco constante que os avôs hollywoodianos viviam – pais de Orin. Ela não queria ser famosa para depois se decepcionar com seu trabalho que amava, que no final de carreira poderia se desagradar – como acontece com seu pai George O’Brien, que se torna vilão de cinema, após anos ter de interpretar personagens heroicos do faroeste nos filmes de John Ford.

Assim, as frases dela sobre a paixão pelo instrumento ser a prioridade para continuar na carreira, e como a música organiza as emoções, são muito mais celebrativas do que fazê-la ser parecida com seus pais: artistas que se propagavam como tal. A reviravolta é essa, em que a melhor homenagem é quando a sobrinha aparece em tela e é confrontada pela tia por não querer ser protagonista.

Ela é o apoio da orquestra, não o maestro ou o violinista, ou o trompetista. Mesmo sendo uma mulher única na orquestra de Leonard Bernstein, sendo a mulher que levava seu instrumento e enfrentou o machismo no seu trabalho, ela se contentava em ser invisível para haver o melhor som da orquestra. Essa mudança de curso na narrativa é um trunfo de uma documentarista que ouviu sua fonte, mas manteve seu olhar.

A Única Mulher na Orquestra (The Only Girl in the Orchestra | EUA, 2024)
Direção: Molly O’Brien
Roteiro: Molly O’Brien
Com: Molly O’Brien, Orin O’Brien, Leonard Bernstein, George O’Brien, Marguerite Churchill
Duração: 34 min.

Incident

Curtas Documentário Oscar 2025

Curta documentário no formato contemporâneo do jeito difícil, do jeito cinematográfico hercúleo de produção: pesquisa e montagem para se ater aos fatos e ao discurso simultâneo do cinema do fato registrado.

A admiração para esse curta está no uso dos videotapes gravados pelas novas câmeras policiais, o tema moderno do sistema de segurança dos EUA que quase todos os estados aceitaram. Então há aqui um projeto que não apenas responde ao racismo e a violência policial, como se utiliza das técnicas à disposição do presente para tornar a forma e o conteúdo ainda mais atual.

A simultaneidade visual, as evidências policiais de autoproteção corrupta e um fato social escolhido como consequência dos problemas policiais daquele estado americano; tudo é tão bem pesquisado quanto contemporâneo ao apresentar a pesquisa como arte documental.

Mesmo que pareça mais um caso de racismo policial nos EUA, é também uma reavaliação da equidade da lei sobre porte de arma. E equidade é forte no curta, na simultaneidade das imagens, com a divisão de tela que dá espaço para vários personagens que convergem no mesmo cenário do corpo morto de Augustus, o barbeiro alvejado.

Incident (EUA, 2023)
Direção: Bill Morrison
Roteiro: Bill Morrison
Com: Harith Augustus, Leon Coleman, Megan Fleming, Dillan Halle, Quincy Jones, Danny Tan
Duração: 30 min.

I Am Ready, Warden

Curtas Documentário Oscar 2025

Mesmo que seja um documentário bem padrão e bem apelativo, o tema da pena de morte prende o espectador de maneira inevitável; não há uma resposta fácil para as vítimas e para os executados.

A discussão ética é colocada por meio de testemunhos e de conversas familiares, da igreja e de advogados. Mas não há uma discussão propriamente dita, como uma pauta pesquisada a partir de um caso.

O estudo é feito para mostrar ao espectador que John Ramirez está no corredor da morte por um assassinato realmente brutal. Ainda mais, ele fugiu e passou um tempo foragido. Nisso, fica um pesar sobre o passado de Aaron Castro, filho da vítima de assassinato.

Ao mesmo tempo, sem religiosidades aparentes, Ramirez parece estranhamente grato pela sua narrativa de vida por agora ser uma pessoa melhor, e até mudando opinião dos idosos sobre a pena de morte. Além de evidenciar que ele é um pai que morreria, assim como ele assassinou um pai.

Assim, o curta direciona para os Dez Mandamentos sutilmente. Até que ponto a lei mosaica, culturalmente imbuída da Mesopotâmia, mas com princípios santos de um contrato com Deus, é eticamente posta na lei da pena da morte?

Pai por pai: será tão fácil fazer justiça assim? O curta ainda evidencia um suspense sobre o acontecimento, com advogados e religiosos tentando evitar a cadeira elétrica. Mas o que fica mais forte é que a justiça que Aaron Castro queria nunca vai trazer seu pai de volta. Basta desculpar, depois de morto, o assassino.

I Am Ready, Warden (EUA, 2024)
Direção: Smriti Mundhra
Roteiro: Smriti Mundhra
Com: John Henry Ramirez, Aaron Castro, Jan Trujillo, Mark Gonzalez
Duração: 37 min.

Death by Numbers

Um grande diário ilustrado em formato documental. Por um lado potencializa as palavras da Sam, a protagonista e a roteirista, por outro busca falar mais do que a Sam nas variadas buscas de transições criativas da montagem. O peso fica na sensação de que são as palavras de poder no tribunal de uma vítima manifestar superação para o réu.

A história de 2018, bem recente, cria um aspecto da geração Z lidando com a pena de morte. Além disso, existem as várias doenças que um tiroteio em escola provoca que hoje ainda mais é evidenciado e descoberto pela medicina. Tem esse tema implícito, especialmente quando mostra as fotos de escola, e como há na narrativa um tom de redação na associação dos números com toda a sua trajetória pós tiroteio.

Esse aspecto redentivo cresce quando outros documentos inclusos no relatório sobre o réu adicionam fatores pessoais a Sam. A suástica na arma do atirador e a aula sobre holocausto durante o tiroteio parecem uma grande “coincidência” na vida da sobrevivente documentada – alimentando a boa necessidade de ilustrar o seu diário e contar sobre o atentado ao mesmo tempo.

Essa coincidência torna o documentário exclusivo sobre o terror. Relacionar o atentado a outros grupos totalitários e violências que são alimentadas nos EUA. No entanto, esse terror se torna deslocado do drama de Sam, mesmo que se associe ao seu discurso de raiva e vingança. Soa deslocado do mesmo jeito que aparece Sam assistindo 12 Homens e Uma Sentença. O filme é muito mais semelhante ao drama dos pais e do comentário de Sam sobre a dificuldade de aprovar ou não a pena de morte do réu; tal assunto que é tratado apenas como um fato triste no terceiro ato do curta, mediante a decisão do júri.

Afinal, o curta tenta ser várias coisas, exatamente porque recorta partes do diário de Sam para narrar sobre ela e o atentado. Esses recortes chegam ao final seguindo de maneira honesta o tom do diário, mas ao longo do curta há uma traição dessa voz na linguagem do curta, uma contradição suficiente para bagunçar estímulos criados, mas não o suficiente para perdermos Sam de vista.

Death by Numbers (EUA, 2024)
Direção: Kim A. Snyder
Roteiro: Sam Fuentes
Com: Sam Fuentes, Ivy Schamis
Duração: 33 min.

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