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Crítica | Curtas do Oscar 2025: Animação

Muita pedagogia envolvida nesses curtas animados do Oscar.

por Davi Lima
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No seguinte compilado, você encontrará críticas de todos os indicados a categoria de Melhor-Curtas Metragem de Animação do Oscar 2025. Leia as críticas e manda seu comentário!

Yuck!

A transformação do prazer sexual em um brilho púrpura, algo inocentemente belo em meio ao 2D, mostra uma tradução muito poderosa de uma possível inocência infantil, um ideal. Mas o mais forte é a descoberta que você não está sozinho nesses prazeres, apenas alguns renegam por ser estranho, e outros acham que são mais livres por acharem que controlam facilmente.

Resumindo: o curta francês é pedagógico em mostrar o ponto de contato entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças. O beijo é um dos atos mais simbólicos da humanidade, e nesse curta ele é a ponte para o mundo secreto dos prazeres. As crianças só beijam atrás da cortina, e alguma só brilham a boca quando estão sonhando uma experiência que só viram.

Embora exista o problema de lidar isso com as crianças, numa pedagogia libertária, que a liberdade é entendida pela experiência ativada, há a solução contraditória evidente no curta: as crianças se tornam “escravas” do desejo, ou da vergonha. A transição do menino cada vez mais admirar e menos enojar o beijo é uma espécie de conhecimento do bem e do mal. A menina até fala: não vamos contar para ninguém.

Os adultos não têm vergonha, mas reclamam quando são recriminados pelo nojo. Porque, no final, é o conflito de quem evidentemente não controla os prazeres contra quem acha que controla. A relação de crianças e adultos se resume nisso, mas que acabam ficando na bela prisão dos prazeres — sempre um segredo, ainda que pareça liberdade.

Yuck! (França, 2025) 2024: Animação
Direção: Loïc Espuche
Roteiro: Loïc Espuche
Dubladores: Noé Chabbat, Katell Varvat, Enzo Desmedt, Camille Bouisson, Hugo Chauvel, Roman Freud, Mattias Marcussy, Mokhtar Camara, Olivia Chatain, Théo Costa-Marini
Duração: 13 minutos.

Magic Candies

A jornada para não brincar sozinho, de que não há como viver sozinho, necessário socializar e ser intencional com a primeira pergunta; tudo parte do ouvir para finalmente ter coragem de falar. Isso que acontece quando se rumina demais um doce.

Esse curta japonês passa por todas as tradições culturais do país, desde a comédia, ao respeito aos idosos, à educação rigorosa, e finalmente o ouvir da natureza. Se os doces mágicos remonta o imaginário do João e o Pé de Feijão, ou até o Neo do Matrix com sua pílula; no Japão faz a natureza chamar o protagonista, não o contrário.

Normalmente a história é sobre a reação do herói ao chamado, ou como há uma decisão que muda tudo. Aqui o acaso dos doces leva ao menino ouvir a casa, o cachorro, o pai, a avó, e finalmente, a natureza. Ele não teve escolha, até ter que tomar a iniciativa de brincar com alguém.

É um curta pedagógico sobre como as crianças não ouvem, e por muito disso não seguem ordens, não obedecem, ou simplesmente não compreendem a sua realidade, e sim, como ela desafia até a criança. Uma lindeza de stop motion para lidar com o desafio de ser intencional e apenas brincar sozinho — quando esse tipo de animação necessita tanto de coletividade quanto de cada detalhe ser intencionado para a magia acontecer.

Magic Candies (Japão 2024) 2024: Animação
Direção: Daisuke Nishio
Roteiro: Ichiro Takano baseado no livro de Heena Baek
Dubladores: Yoshifumi Hasegawa, Hiroshi Iwasaki, Haruto Shima, Sakiko Uran, Ikkei Watanabe, Kazuhiro Yamaji, Kiko Ôi
Duração: 21 minutos.

Wander to Wonder

A morte da TV se torna o terror da memória. Quando a composição dos programas infantis ganham vida, a natureza séria e temporal por trás do cenário teatral demonstra toda a podridão que reflete o esquecimento dos personagens e envelhecimento que não se torna nostalgia. Assim, o programa em si sempre está tentando voltar para o que o tornava vivo: a câmera.

Tudo que o curta apresenta é um grande depósito da TV. Desde fitas, o apresentador morto, até as fantasias que não mais cobrem nem a nudez; o programa televisivo Wander to Wonder se torna o completo contraste. Não existe salvação além da câmera.

Esse comentário britânico no roteiro é rico se comparada a força da TV no país do Reino Unido. Ao menos suas marcas televisivas como a BBC e talk shows artísticos são traduzidos para EUA e Brasil como sucessos culturais do britânico. No entanto, o curta aponta para um setor infantil da TV que não se libertou ainda, na Europa em geral.

A morte do pombo e a morte da câmera fez uma espécia de mito da caverna de Platão, em que o trio de personagens tentavam fugir, sem saber ainda. Agora, qual futuro esses programas tem? A comédia ácida que reinventa para o público infantil, ou histórias mais densas atraem as crianças?

A morte da TV no curta é muito exagerada, numa comédia tipicamente britânica. Talvez haja um pessimismo que rodeia as produções da década de 80, sempre revisitadas para evidenciar os dramas por trás das câmeras. O que se sabe é que existe alguma piada no fim do túnel para os dramáticos ursos da floresta imaginária se tornem os conservadores do stop motion. Mary, Billybud e Fumbleton tem seus dias contados, só descobriram poderem viver longe das câmeras tarde demais.

Wander to Wonder (Reino Unido, Holanda, França, Bélgica, 2024) 2024: Animação
Direção: Nina Gantz
Roteiro: Daan Bakker, Stienette Bosklopper, Simon Cartwright, Nina Gantz
Dubladores: Neil Salvage, Toby Jones, Amanda Lawrence, Terence Dunn
Duração: 14 minutos.

Beautiful Men

Apesar de o stop motion ser uma técnica de animação muito usada por tanto se aproximar do live action, quanto potencializa o drama; aqui em Beuatiful Men acontece o inverso. Os dramas masculinos concretos se tornam abstratos, até oníricos de tão exagerados e não críveis em ritmo e contexto.

Os três irmãos carecas do curta tem várias inseguranças clássicas. Possível câncer no testículo, impotência, físico fraco, e o principal: a calvície. A motivação de fazer a cirurgia capilar em Istambul e o melodrama sobre isso é uma premissa recheada, que a direção parece se esvair dos personagens.

Todos os planos nas costas dos personagens, a câmera do ponto de vista de portas, planos laterais; sempre uma tentativa de pressionar e evidenciar vergonha dos irmãos. Mas até mesmo quando tem a neblina, ou quando há notícia feliz, a virada da história, a insegurança não acaba, e também não se desenvolve.

O stop motion parece travar a relação dos personagens, embora desnude eles, literalmente, para nós. No entanto, esse literal parece querer compensar a fragilidade do roteiro em dramatizar uma traição, ou um nude que nem isso a insegurança do personagem permite.

Mesmo que haja uma profunda fragilidade em todo momento, não há muito algo a se palpar na história. Na fragilização se tirou os contatos da narrativa que a tornaria crível, como ela tenta sempre ser.

Beautiful Men (Bélgica, França, Holand, 2024) 2024: Animação
Direção: Nicolas Keppens
Roteiro: Angelo Tijssens, Nicolas Keppens
Dubladores: Peter Van den Begin, Peter De Graef, Tom Dewispelaere, Nayat Sari, Laure Van Medegael
Duração: 18 minutos.

 

In the Shadow of the Cypress

Tudo nesse curta tem uma metáfora narrativa, em que o movimento libera a tensão do drama. Além da montagem frenética sobre o passado do protagonista mais velho, existe um suspense de entender o criou a relação dele com uma mulher. E isso tudo é nada mais nada menos que a baleia encalhada.

Existe a dimensão literal e a dimensão dramática no curta. A dramática está no desespero dos personagens, no trauma de um naufrágio e algum aspecto de jihad que trouxe consequências emocionais para o casal de protagonistas. E a questão literal é que os movimentos da história, da personagem ir, ou do outro se afastar, se movem a partir do que acontece com a baleia: o que prende todos os personagens.

Isso fica ainda mais claro quando os personagens se transformam, se derretem, se floreiam; enfim, modificam a estrutura física do corpo em algum sentimento. Essa régua serve para toda a história, sem abusar desse aspecto do universo do curta, trazendo o palpável para o drama e dando dimensões ao que está posto literal.

Assim, o curta está pronto para perder sua estrutura assim como os personagens para se deleitar na emoção do mar — assim como a baleia. Uma obra iraniana que utiliza a animação para alcançar outros patamares de tradução visual.

In the Shadow of the Cypress (Irã, 2023) 2024: Animação
Direção: Shirin Sohani
Roteiro: Tal Kantor, Hossein Molayemi
Dublador: Zahra Moosavi
Duração: 20 minutos.

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