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Crítica | Curtas do Oscar 2024: Animação

Diferentes discursos e como a animação pode pontencializá-los.

por Davi Lima
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No seguinte compilado, você encontrará críticas de todos os indicados a categoria de Melhor-Curta Metragem em Animação do Oscar 2024 em ordem de indicação do Oscar. Esse ano há muito trabalho com histórias orais e como a animação interpreta-os. Um exercício historiográfico, memorialísitico e jornalístico. Confere abaixo:

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Letter to a Pig

2024: Animação

Com uma mensagem bem condescendente quanto ao Holocausto, esse curta metragem animado com a direção de Tal Aktor é feliz muito mais em tratar do esvaziamento identitário quanto a um testemunho histórico do que dramatizar metaforicamente o seu tema anti-guerra. 

Na história traduzida em rabiscos e traços de live-action, há uma reprodução como uma aula de História hoje é um grande esforço para um geração informacional adentrar na narrativa que apresenta resultados culturais e aspectos de movimentos sociais contemporâneos. Aliás, a História se faz pelas perguntas que ainda se fazem hoje. Mas assim como uma sala de aula se faz à parte de um testemunho de um judeu que sofreu a perseguição Nazista, a ilustração reflete um ambiente branco com rabiscos de presenças aquele local de aprendizado.

E é dessa forma que a animação comenta a grande problemática da neutralidade quanto a histórias de guerra. A metáfora do porco, um símbolo inimigo da purificação judaica na lei mosaica, salvando um judeu dos nazistas é uma ironia poderosa para afetar estudantes quanto a falta de reflexão quanto ao Holocausto. O drama maior é que diante da falta de empatia com testemunhos do holocausto, o resultado é a violência; seja permanecer o antisemitismo, seja alguma vingança contra os alemães. 

As pessoas ao visitarem os museus em Israel não chegam a pormenores identitários, como mãos em live action que invadem os rabiscos animados preto e branco para cuidar do porco violentado pela ignorância. O curta é sobre isso, algo talvez tranquilo demais para discursos mais calorosos sobre o tema entre israelitas, ou simplista demais na complexidade da metáfora irônica. Porém, seu formato é poderoso para mostrar como a História pode estar em maus lençóis quando está sendo contada para uma nova geração.

Letter to a Pig (Israel, França 2023) 2024: Animação
Direção: Tal Kantor
Roteiro: Tal Kantor
Elenco: Moriyah Meerson, Alexander Peleg, Ayelet Margalit, Indra Maharik
Duração: 17 minutos.

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War Is Over!

2024: Animação

Num formato visual de videogame, inclusive produzido pela Weta (Warcraft), War is Over é uma produção muito mais alinhada com a universalidade do xadrez como comunicação do que com um drama mais elaborado da guerra em si. E isso causa uma certa disparidade com a causa da história: se quisermos paramos a guerra.

Inicialmente a narrativa indica o terror da guerra como símbolos contemplativos. Sangue escondido na neve, tiros nas trincheiras, e todo aquele ambiente hostil da Grande Guerra na Europa. Dentro de um formato amigável que uma cut scene de video-game traduz, isso não soa insensível, pois foca em exclusivamente situar onde o jogador vai se aventurar. Nisso, o xadrez ser um interceptor do pombo de mensagens entre os capitães do exército faz todo sentido narrativo.

O jogo é o principal, não só na estética do curta. Isso fica ainda evidente em como a guerra vai sendo desfeita, pois os soldados se juntam aos jogadores de xadrez de ambos lados da guerra. O problema é a transição para a realidade da guerra, que não sai do contemplativo; ou melhor: não sabe propor conflito e por fim o drama.

De maneira abrupta o tabuleiro é cessado, fica sem comunicação, e tudo parece virar um conto de fadas também contemplativo para uma guerra. Mesmo na possibilidade que o universo visual da Weta possibilite a aceitação de jogadores de xadrez se acharem no na Terra de Ninguém [região entre as trincheiras]. Essa conveniência pouco dramática é ainda mais sintomática quanto toca a música Happy Xmas de John Lennon e Yoko Ono.

Em resumo, a mensagem anti-guerra é boa, nos estilo hippie da própria música que dá base para o curta. Mas todo o contexto parece só uma justificativa uma conclusão musical que é necessária, porém pode se agregar de maneira antiquada e chinfrim – até porque a Grande Guerra é bem diferente da Guerra do Vietnã que a música se coloca.

War Is Over (EUA, 2023) 2024: Animação 2024: Animação
Direção: Dave Mullins
Roteiro: Dave Mullins, Sean Lennon
Elenco: pombo e soldados inimigos da Grande Guerra
Duração: 11 minutos.

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Our Uniform

2024: Animação

Com um disclaimer meio irônico, mas também respeitoso com a cultura do Hijab, a diretora do curta Yegane Moghaddam faz um misto de discurso memorialístico com um estudo de moda básico sobre a expressão social da roupa. No reino frutífero para se falar de diversidade no presente, de maneira meiga e pueril há um grito da obra por liberdade em meio a calças, blusas e saias, etc. 

O formato é totalmente temático para que a narração, na interação com os ritmos da animação, tornasse a memória única. Mesmo que seja um relato muito comum entre meninas iranianas, nem todas podem falar sobre suas roupas abertamente. E mesmo que no fundo dessa história haja uma crítica – não a roupa – sobre o modo de vida cultural religioso islâmico, há muita graça na maneira de tornar a lembrança da escola com comédia.

Mesmo que a relação de forma e conteúdo esteja quase pronto, na medida que a animação das roupas ilustra o que se fala, a criatividade se faz tanto pelos modelos de roupas, quanto por direções diferentes do movimento do desenho e a quebra de expectativa com a simplicidade. O tema é algo sério, mas o drama aqui se equivale mais pela conclusão nos uniformes personalizados que criamos todo dia de nós mesmos do que sobre a gravidade de pressões de tradições sobre as vestimentas.

O fluir da narrativa se faz tanto pela costura da roupa quanto pela antropoformização de ações com base na roupa, enquanto narra-se o desejo pela diversidade de roupas. Yegane Moghaddam consegue tornar o cabide em seu quarto, em sua intimidade. Então, falando de corpo e liberdades sexuais, a diretora fala da liberdade mais básica para temas mais amplos e mais palpáveis para as sociedade: a vestimenta.

Our Uniform (Irã, 2023) 2024: Animação 2024: Animação
Direção: Yegane Moghaddam
Roteiro: Yegane Moghaddam
Elenco: Yegane Moghaddam
Duração: 7 minutos.

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Ninety-Five Senses

A animação por vezes é usada para eufemizar histórias, ou dar a oportunidade para pessoas contarem o que passaram sem preocupação em ser exposta além do que se expõe pela voz. De maneira criativa, até mesmo no título, esse curta de animação tenta explorar outros 95 sentidos para falar dos 5 sentidos que nós podemos ver no mundo no ponto de vista do protagonista – provavelmente no corredor da morte. 

Lembra um pouco o documentário Flee de 2021, mas sem a busca desesperada e necessária de usar o formato da animação para esconder seu confidente. Aqui, os diretores Jared e Jerusha Jess parecem mais usufruir de um testemunho de um prisioneiro, ilustrando com variações de ilustração, do que desenvolver algo acerca da aterrorizante descoberta que sempre estamos ouvindo um assassino se justificando pela ausência de um sentido defeituoso da audição.

Evidente que a animação contribui para a descoberta sobre quem estamos ouvindo seja mais adiada, pois ela é nosso guia em reproduzir o diálogo do idoso preso, nos captando pelos eventos contados, sem dar contexto de quem fala. Por outro lado, não parece haver muita importância por parte dos desenvolvedores o reflexo desse discurso. Busca-se a sensibilização pelo próprio tema dos sentidos, mas todo o foco é em ilustrar em pura paralelização de voz e efeito, apenas.

Poderia ser mais um vídeo de Youtube que conta a história com imagens, como o famoso curta documentário A História das Coisas de Louis Fox. Mas pela grife do Oscar e pelo protagonista idoso colocar seu discurso como um relato pré-morte, o drama surge mais pela sua expectativa de ter sido tudo diferente, do que pela ilustração abstrata sobre seus sonhos.

Para um trabalho com um material auditivo tão poderoso como é a história oral, não há nem ousadia para interpretar o que se diz, nem composição hiperbólica do que se conta nas imagens. No máximo há ambiguidades que se propõem na dúvida da real tragédia que se conta a nós. Até nisso pode soar maldoso. Pois mesmo que evidencie um dos sentidos que o personagem cita como problemático – a audição que captamos a história que ele conta – há induções a não sabermos sobre a verdadeira história. A interpretação é diferente da ilustração literal.

Ninety-Five Senses (EUA, 2024)
Direção: Jerusha Hess, Jared Hess
Roteiro: Chris Bowman, Hubbel Palmer
Elenco: Tim Blake Nelson
Duração: 14 minutos.

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Pachyderme

De uma profunda subjetividade sobre eventos trágicos ou célebres na vida de uma criança, a diretora Stéphanie Clément utiliza o lirismo para provocar pureza e depravação num amadurecimento de uma personagem no verão na casa dos avós. Se por um lado reflete a mente infantil com ares realistas, ao ficar longe dos pais e se incomodar o tédio do espaço da casa dos avós; há algo intrigante e epifânico na criança no mesmo contexto que a esconde na parede.

Nesse curta, o lirismo da narradora busca interpretar sentimentos que observamos no realismo da animação, ao mesmo tempo que o fantasioso desabafa o tom poético de algumas palavras e da voz de quem narra. Enquanto pode-se extrair muitos sentimentos do que se acompanha, o tal do Pachyderme e o chifre (provavelmente de Rinoceronte) podem emular uma pele espessa que resguarda a memória da protagonista em seus detalhes mais lindos e obscuros.

A morte, a flor e o onírico são mistérios de significados de sentimentos. Quanto mais se mostra ações, o avô por perto, pode-se imaginar múltiplas tragédias sexuais contra a menina, ou pode ser um abuso da nossa imaginação, que não consegue apenas entender que a criança pode sofrer pelo seu contexto de isolamento interno. E nessa dúvida que alcançamos a certeza que existe uma dor misturada de prazer de uma cara de verão. Como as férias boas e ruins, Pachyderme é uma obra que mantém o sentimento independente da real lembrança ou poesia retratada ou interpretada.

Pachyderme (França, 2022) 2024: Animação
Direção: Stéphanie Clément
Roteiro: Marc Rius
Elenco: Michelle Brubach, Christa Théret
Duração: 11 minutos.

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