Este ano temos mais uma edição do My French Film Festival, um festival online e totalmente gratuito (incluindo para nós da America Latina. Achou que eu ia dar dica ruim?) onde são selecionados alguns filmes para o público interessado em conhecer o cinema francês. São mais de 30 obras, a maioria de safras recentes a esta edição 2018, que estão em mostra competitiva e você pode participar da votação. Esta já é a oitava edição do festival, que começou no dia 19 de janeiro e vai até o dia 19 de fevereiro de 2018. Desta vez, decidi assistir ao máximo possível de produções. Aqui reuni algumas críticas bem objetivas sobre os curta-metragens disponíveis, com exceção de Planet e Um Vestido de Verão (o primeiro envolve uma jornada em 360º que não dá muito pra analisar e o outro é um curta de 1996, e como todos os outros são recentes, decidi manter ele fora). Alguns listados aqui são imperdíveis, então vamos lá.
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Vida Longa ao Imperador
Que Vive l´Empereur, 2015
Bébé está pronto para se juntar às tropas enquanto Napoleão se aproxima de Waterloo. Enquanto isso, aproveita as últimas horas antes da queda do Império para se preparar. Ao lado de sua mulher, começa a questionar a si mesmo e seu papel, não apenas na guerra. Este curta tem uma proposta curiosa e usa do anacronismo para poder criar um paralelo entre duas linhas temporais. Vida Longa ao Imperador mostra o poder dos soldados e seu líder, mas o foco está na relação do casal, que torna-se ainda mais importante que a guerra. A fotografia é o maior destaque aqui e tem algumas cenas que valem a pena assistir. No geral é uma ideia boa, mas mal aproveitada que não fica com você depois de assistir. (26 min.)
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Afogamento Proibido
Noyade Interdite, 2016
Em um mundo onde tudo pode ser acessível, mas apenas através da inserção de moedas, a sociedade ficou ainda mais fria e feliz com a solidão. Mesmo assim, uma dupla improvável é formada, e em um mundo onde acreditam que uma fonte dos desejos pode mudar tudo, ninguém sabe o que acontecerá se estes dois jogarem uma moeda. Cheio de elementos criativos e inteligentes, e maneiras de criar uma narrativa visual surpreendente, Afogamento Proibido é uma ficção científica contida, mas que dá pano para muito mais coisa. São duas ótimas atuações, uma premissa peculiar e um enredo que sabe aproveitar o formato de curta. Facilmente, o meu favorito. (17 min.)
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Caça Real
Chasse Royale, 2016
Um retrato da família de baixa renda dos subúrbios da cidade de Valenciennes. Angélique tem treze anos e vem de uma família grande, então silêncio é o que menos tem em sua vida. Uma oportunidade surge e ela consegue uma audição para algum filme. Além da interprete de Angélique, outros atores conseguem roubar a atenção do curta, o que começa a criar uma tensão entre os personagens. Caça Real é um estudo do comportamento familiar e tenta brincar com a realidade entregando um pouco de esperança, mas é difícil ficar feliz em um mundo como o de Angélique. (30 min.)
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O Filme do Verão
Le Film de L´été, 2016
Se prepare para aquela sensação de nostalgia e melancolia de todos os momentos da sua vida que passaram rápido demais. Em O Filme do Verão seguimos Philiphe e seu filho, Balthazar. Os dois seguem a estrada, comem e se tentam aproveitar o verão. Philiphe não está feliz e quer ir embora, mas seu filho quer continuar aproveitando a viagem. Não tenho muito o que dizer sobre este curta, ele foca bastante nos personagens e não tem uma narrativa que eu possa explicar sem entregar detalhes importantes. Vale a pena pelo tom e as decisões de filmar em formatos diferentes, o que colabora para aquela sensação que mencionei. (30 min.)
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O Gosto do Vietnã
Le Goût du Vietnam, 2016
Chloé tem que ir embora e deixar para trás Arnaud, com quem tem vivido uma paixão rápida. No pouco tempo que tem juntos, Arnaud decide fazer a despedida mais romântica possível. O Gosto do Vietnã é outro curta de pouca duração, assim como “A Carícia”, mas desta vez focando na interação entre seus personagens, diálogos que entregam muito mais e atuações que fazem sentir. É tudo muito rápido, assim como a relação do curta, mas ao mesmo tempo é tudo muito lindo e muito honesto. (10 min.)
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A Infância de um Líder
L`Enfance d`un chef, 2016
Vincent é um ator talentoso ensaiando para seu próximo filme: a biografia de Charles de Gaulle, o famoso general e estadista responsável pela exército da Força Livre durante a Segunda Guerra Mundial. É um papel importante, mas Vincent está tendo dificuldades em se adaptar a nova vida morando sozinho, longe dos pais. É um pequeno filme muito bem feito, cheio de personagens e diálogos verdadeiros. O protagonista tem um charme próprio e poderia entregar bem mais se este filme fosse um longa. Uma das coisas mais engraçadas é o diretor de Vincent, que está constantemente agredindo ele e seu assistente, procurando por uma atuação mais emocionante. Ele está sempre jogando coisas e berrando como o próprio Führer (em certo momento chega a lançar um “nein nein nein” e eu comecei a rir). O maior problema do curta é que ele sempre parece o começo de um filme bem maior, então quando termina, fica aquela sensação de que a obra está incompleta. Poderia ter aproveitado o formato e fechado de forma menos abrupta. (15 min.)
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Lazare
Idem, 2016
Talvez o curta mais engraçado do festival. Lazare é um jovem tímido demais para marcar um encontro, então pede para seu amigo Jacques, que consegue convidar Céline para seu apartamento. Está tudo pronto, a comida, as bebidas… e os microfones escondidos em vários cantos da casa para que Jacques possa explicar o passo a passo da conquista para Lazare. Mas uma reviravolta faz com que este seja o pior encontro da vida deles. O curta se diferencia pelas situações absurdas mas fica mais engraçado por conta dos protagonista, principalmente Cosme Castro, que interpreta Lazare. A comédia física é hilária e cheia de pequenos detalhes que deixam ainda melhor, como Lazare anotando um bilhete e corrigindo a ortografia para parecer que foi escrito por alguém que não sabe escrever. É um dos melhores curtas para começar o festival e facilmente o mais divertido. (22 min.)
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Please Love Me Forever
Idem, 2016
Esse é mais um daqueles contos que renderia facilmente um filme, com seus conceitos e personagens curiosos. É uma mistura de fantasia com terror que combina perfeitamente. Lili é uma menina que mora com sua mãe superprotetora, até a luz do sol pode ser forte mais. Quando sua mãe não está preocupada com a filha, está com sua própria beleza – o que a obriga a trocar constantemente algumas partes de seu corpo (é exatamente isso que eu acabei de escrever). Lili quer ser livre e procura ajuda em Lyesse, seu vizinho. Se formos debater aqui a direção de fotografia, figurino e cenário, este é um dos melhores curtas do festival. Não é nada extravagante, e é o que acaba cativando, enche os olhos com as coisas mais simples. Pode ter um problema sério quando se aproxima do final e parece não saber como encerrar o curta, o que é mais um problema do formato e da duração. O que eu não daria pra ver uma versão de longa metragem e com um orçamento maior…
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O Roteirista
La Scénarist, 2016
James é um roteirista que não consegue agradar seu produtor, até receber a proposta de trabalhar ao lado do grande John Loubric, outro roteirista capaz de deixar a história de James boa o suficiente para receber aquela luz verde do estúdio. Mas, e sempre tem um “mas”, Loubric não é nada como James imaginava. O Roteirista tem algumas atuações e uma comédia competente, mas nunca chega a fazer qualquer efeito. Além de tudo, quando tenta ser misterioso, acaba entregando demais e se torna um pouco previsível e tedioso de assistir. Para um curta que fala sobre o trabalho de um roteirista, aqui ficou faltando um pouco mais de atenção aos detalhes.
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Bonita
Belle à Croquer, 2017
Oscar é um homem peculiar. Solitário, inteligente e educado, mas também é um canibal (não dá pra deixar esse detalhe passar despercebido). Quando se apaixona pela sua vizinha, interpretada pela belíssima Lou de Laâge (é só assistir Agnus Dei – As Inocentes e Respire que você já vira fã da atriz), encontra um enorme obstáculo, ainda maior que sua timidez: ela é vegetariana. E para piorar as coisas, ela acaba de convidá-lo para um jantar. Criativo e cheio de truques visuais simples, mas efetivos e charmosos, o curta lembra um programa infantil completamente maluco, uma mistura da inocência estranha das aventuras de Pee Wee e um pouco do medo que dá vendo “aquela” cena de A Fantástica Fábrica de Chocolate (a versão do Gene Wilder, ou seja, a única que existe).
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A Carícia
La Caresse, 2017
Um jovem sofre o terror da agorafobia, onde não consegue nem provar uma torrada sem usar luvas ou assistir um casal se beijando sem que se sinta consumido por todas as bactérias encontradas ali. Tudo parece seguro dentro de seu ambiente limpo, até que um gato preto decide aparecer em sua porta e não parece ter pressa de voltar para casa. Este curta tem apenas 10 minutos de duração e dedica seu maior tempo desenvolvendo o habitat do protagonista, que nunca fala nada, tudo que ouvimos é o som de fora, das pessoas conversando, rindo no parque ou das crianças brincando. É um curta pouco imaginativo e tudo que você vê aqui é bastante previsível, mas ainda assim tem seus pontos positivos, como o efeito visual utilizado em uma cena com o gato preto. Uma curiosidade é que o estúdio Ratpac está listado como um dos colaboradores para o filme.
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Morte, Pai e Filho
La Mort, Pére & Fils, 2017
O que aconteceria se você fosse o filho da morte e não gostasse tanto assim do trabalho do seu pai. Em Morte, pai e filho, seguimos o cotidiano desses dois personagens. O pai vive na com sua prancheta e o filho assistindo desenhos animados. Parece normal até o dia em que o filho decide pintar seu corpo de branco e virar um anjo para ajudar todas as pessoas em perigo, mas não é tão simples assim. Essa é a única animação do festival, bastante charmosa sem perder o toque de horror, não é muito indicada para quem se assusta facilmente.
Curtas do My French Film Festival 2018 (2015 – 2017)
Direção: Axel Courtiére, Tristan Lhomme, François Paquai, Emmanuel Marre, Antoine de Bary, Romance Gueret, Lise Akoka, Winshluss, Denis Walgenwitz, Holy Fatma, Morgane Polanski, Mélanie Laleu, Aude Léa Rapin, Pier-Luc Latulippe
Roteiro: Magali Pouzol, Tristan Lhomme, Emmanuel Marre, Antoine de Bary, Romain Campingt, Serena Jennings, Couzinié
Elenco: Lou de Lâage, Sylvan Dieuaide, Cosme Castro, Vincent Lécuyer, Jean-Benoît Ugeux, Angélique Gernez, Isabelle Carlean-Jones, Edvin Endre, Diana Fontannaz, Victoria Diamond
Duração: 10 a 30 min.