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Crítica | Cotton Club

Gângsteres da Broadway.

por Kevin Rick
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Como é recorrente na carreira de Francis Ford Coppola, Cotton Club é mais uma produção do diretor com bastidores conturbados, dessa vez com produtoras falindo, diversos roteiros reescritos, a estrela do filme deixando e depois voltando ao set com um cachê maior, muitos atrasos de filmagens e um orçamento que aos poucos explodiu para mais de três vezes os valores iniciais. Como de praxe, porém, o cineasta transforma o caos em um bom exercício artístico. Dessa vez não tão bom quanto outras grandes obras do diretor, mas ainda assim um longa divertido e extremamente elegante que acompanha gângsteres inspirados em figuras reais, músicos e dançarinos do Cotton Club, um clube de jazz do Harlem, durantes os loucos anos 20 e os anos 30.

Se o clube é o protagonista do filme, Coppola faz questão de retratar o entretenimento de números de jazz, de danças sensuais, do sapateado e de apresentações gostosíssimas de assistir, claramente se divertindo com homenagens à Hollywood clássica e seus musicais. Nesses momentos espalhafatosos e exuberantes com grandes coreografias e um design de produção notável, Cotton Club faz valer a pena seu orçamento inflado, exaurindo glamour e gritando exagero visual ao ponto de encontrarmos uma autoindulgência agradável por parte de Coppola em suas intermináveis set-pieces bem pensadas, bem filmadas e bem performadas.

Esses momentos “sofrem” uma justaposição com as tramas de mafiosos e suas repentinas explosões de violência, no jogo narrativo que a obra faz entre a fantasia de artistas e uma realidade criminal complicada no período de Proibição nos EUA, com destaque especial para os tópicos sobre preconceito racial. Para sustentar essas transições, somos apresentados a duas histórias de amor. Uma envolve Dixie Dwyer (Richard Gere), um jovem músico que salva a vida de um gângster e acaba sendo forçado a entrar nesse meio, onde conhece e se apaixona por Vera Cicero (Diane Lane), a namorada do mesmo criminoso que salvou. De maneira paralela, acompanhamos Sandman Williams (Gregory Hines), um sapateador negro que se apaixona por uma dançarina/cantora chamada Lila Rose (Lonette McKee).

O texto em torno dos romances é muito frágil e fragmentado, com nenhum dos blocos ganhando bom desenvolvimento para serem no mínimo intrigantes. Pouco nos importamos com esses personagens e menos ainda com o cenário do crime, que Coppola parece utilizar só de background e com um trabalho quase bobo, incluindo a participação cômica de um Bob Hoskins como um chefe da máfia. Assim como acontece em muitos filmes pós-anos 70 da carreira de Coppola, o cineasta parece nunca encontrar o tom certo da película, que navega entre números musicais e uma disputa de gangues mal estabelecida com vários coadjuvantes sem tempo de tela, incluindo um desperdiçado Laurence Fishburne, sem nunca realmente encontrar um foco propriamente dito.

Dá para notar um argumento interessante entre o cinismo do crime e a mágica do entretenimento fazendo um cabo de guerra em torno de artistas que precisam sacrificar a moral ou então enfrentar diferentes preconceitos para atingirem seus objetivos, mas nada realmente aprofundado por um roteiro claramente confuso e caótico, com problemas de continuidade, de transitar entre as duas histórias de amor principais e ainda dar tempo para os bandidos, e principalmente com muitos diálogos terríveis. Sempre que os personagens abrem a boca, dá medo. O que realmente sustenta a produção é o olhar romântico, lúdico e sensual que o cineasta cria diversas vezes com uma verdadeira poesia visual dançante no meio de uma história que parece tentar ser muitas coisas. Ironicamente, se o artista que criou a trilogia de O Poderoso Chefão desse menos atenção para o lado gângster do texto, talvez seu musical brilhasse ainda mais.

Cotton Club (The Cotton Club, EUA, 1984)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: William Kennedy, Francis Ford Coppola, Mario Puzo (baseado no livro The Cotton Club, de James Haskins)
Elenco: Richard Gere, Gregory Hines, Diane Lane, Lonette McKee, Bob Hoskins, James Remar, Nicolas Cage, Allen Garfield, Gwen Verdon, Fred Gwynne, Laurence Fishburne
Duração: 114 min

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