Home FilmesCríticas Crítica | Corte no Tempo

Crítica | Corte no Tempo

Que vontade de voltar 92 minutos no tempo...

por Ritter Fan
1,6K views

Será que estamos diante de um subgênero novo que mistura viagem no tempo com slasher? Afinal, o Prime Video lançou Dezesseis Facadas em 2023 e, pouco mais de um ano depois, é a vez do Netflix embarcar na “moda” e, considerando a qualidade geral dessas produções, fica a torcida para que parem por aqui. Ah, e se você acha que Corte no Tempo é plágio de Dezesseis Facadas, saiba que Corte no Tempo foi filmado antes – com direção de fotografia de Halyna Hutchins em seu último trabalho completo antes de falecer no set de filmagem de Rust -, mas lançado depois, pelo que, se houve algum plágio, ele foi cometido pelo pessoal da produção protagonizada por Kiernan Shipka.

Na verdade, pouco importa quem copiou quem aqui, pois tudo, hoje em dia, é a “cópia da cópia da cópia”, como diria o Narrador em Clube da Luta e tudo o que podemos fazer é torcer para que uma das cópias seja pelo menos boa (como é o caso de Iluminadas, série que merece ser mais conhecida e cujo material fonte é de 2013). Não é o caso aqui, que fique bem claro, pois se Dezesseis Facadas já era fraquíssimo, Corte no Tempo consegue ser ainda mais decepcionante e não apenas porque o longa se baseia em nostalgia barata e aleatória ou porque a trinca protagonista parece estar no automático, mas sim, principalmente, em razão de não haver nenhum semblante de esforço por parte do roteiro de Hannah Macpherson e Michael Kennedy de criar uma mínima lógica interna para a viagem no tempo e para a motivação do serial killer que estão no âmago da narrativa.

Fico imaginando uma série de reuniões para trocar ideias sobre o filme que provavelmente começou com algo como “que tal um De Volta para o Futuro com slasher?”, continuou com “mas tem que ser com adolescentes, não muito complicado e não muito pesado” e que acabou com uma obra que não é nem ficção científica, nem slasher, sem sequer conseguir usar a muleta narrativa da nostalgia de maneira minimamente eficiente. O que vemos em tela é, com boa vontade, um esboço mal ajambrado de algo que talvez pudesse ser o resultado de um trabalho de grupo de 5ª ou 6ª série escrito entre partidas de Mario Kart ou algum outro jogo semelhante. A viagem no tempo é risível, o serial killer dá menos medo que os Bananas de Pijamas, a conexão entre a viajante no tempo Lucy (Madison Bailey) e sua irmã Summer (Antonia Gentry), assassinada 20 anos antes, é forçada, sem que as atrizes estabeleçam qualquer química, e os eventos que seguem são tão didaticamente telegrafados que todo o semblante de tensão desaparece juntamente com o sangue que inexiste no longa provavelmente para não traumatizar (ainda mais) os espectadores.

Macpherson, em seu primeiro longa-metragem de verdade (além de curtas e de episódios de séries de TV, ela dirigiu um filme de 68 minutos que poderia ser considerado como longa, mas haja o benedito, não é?), não sabe muito bem o que fazer com o material que ela mesmo redigiu e se perde na decupagem, na montagem, na sincronização da (fraca) trilha sonora, e acaba levando a história a sério demais, o que só evidencia o quanto Corte no Tempo parece ter nascido como um conceito até interessante que, durante as fases da produção, foi quase que completamente deformado, transmutando-se de sci-fi com toques de slasher ou vice-versa em mais um filme adolescente idiota construído a partir do que os tirânicos algoritmos determinam que boa parte do público gostará para o famoso “entretenimento descerebrado” que tanta gente parece almejar. E olha que costumo simplesmente ignorar muita coisa quando algum filme ou série tem viagem no tempo, pois esse artificio narrativo é meu preferido, mas tudo tem limite e essa produção aqui ultrapassou todos eles, atropelando tudo no processo e, claro, derretendo um pouco mais de minha já quase totalmente liquefeita massa cinzenta.

No final dos 92 minutos de Corte no Tempo, tudo o que pude pensar era que eu queria uma máquina do tempo para retornar 92 minutos e clicar em quase que literalmente qualquer outra coisa para assistir. Não que eu já não tivesse pensado nisso com 10 minutos de filme, pois eu certamente pensei, mas minha teimosia, como sempre, falou mais alto e deu no que deu. Infelizmente, porém, só posso lamentar ter perdido tempo assistindo bobagem imbecilizante e, como se isso não bastasse, escrevendo sobre ela. Mais do que arrependido em ter sido fisgado pela expressão “viagem no tempo” na sinopse, fiquei foi pasmo por eu ter tido a pachorra e insensibilidade de estabelecer paralelo com De Volta para o Futuro, uma blasfêmia que já de antemão peço perdão a Robert Zemeckis por tê-la cometido.

Corte no Tempo (Time Cut – EUA, 30 de outubro de 2024)
Direção: Hannah Macpherson
Roteiro: Hannah Macpherson, Michael Kennedy
Elenco: Madison Bailey, Antonia Gentry, Michael Shanks, Griffin Gluck, Megan Best, Samuel Braun, Sydney Sabiston, Kataem O’Connor, Rachael Crawford
Duração: 92 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais