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Crítica | Corrida da Morte – Ano 2000

por Ritter Fan
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Roger Corman não só é um mestre do trash de qualidade, como um produtor de tino ímpar e de certa forma até de moral duvidosa. Basta ver seu ímpeto para produzir Corrida da Morte – Ano 2000 que surgiu não a partir de um bom material em mãos que ele genuinamente queria colocar nas telas por suas qualidades intrínsecas, mas sim para ele surfar na onda do marketing de Rollerball: Os Gladiadores do Futuro, produção de alto orçamento com James Caan no elenco. Para isso, ele tinha que manter os panos de fundo, ou seja, um esporte mortal em um Estados Unidos distópico, o que o levou a comprar os direitos do conto de Ib Melchior. E o mais interessante é que, se pensarmos em retrospecto, o filme que realmente ficou para a História foi o de baixíssimo orçamento (algo como 500 mil dólares) de Corman.

A história quase inexistente lida com os EUA totalitário no ano 2000 que patrocina uma corrida automobilística transcontinental em que os pilotos ganham mais pontos na medida em que atropelam pessoas, com idosos e crianças de menos de 12 anos valendo mais do que adultos. De enorme sucesso e acompanhada por toda a população, com direito a seguidores que sacrificam pessoas e se sacrificam em prol de seus ídolos, a corrida passa a ser sabotada por um grupo de resistência liderado por Thomasina Paine (Harriet Medin) que se opõe ao governo fascista do Sr. Presidente (Sandy McCallum). O que segue, daí, é uma divertidamente macabra chacina, com direito a velhinhos em cadeiras de rodas sendo colocados no meio da rua em frente ao asilo onde vivem como oferendas por suas enfermeiras…

Ainda que seja marginalmente engraçado ver David Carradine como Frankenstein, um piloto vestido de couro preto sadomasoquista (como o The Gimp, em Pulp Fiction) de rosto deformado e com diversas partes mecânicas no corpo e Sylvester Stallone pré-Rocky como Joe “Machine Gun” Viterbo de metralhadora de gângster em punho e seu carro com uma enorme espada na frente, o frescor dessa ideia assassina logo se perde, juntamente com toda a potencialmente sátira política que só ganha alguma abordagem nos minutos iniciais, permanecendo subdesenvolvida ao longo do restante da projeção. Até mesmo uma dupla nazista de pilotos “arianos”, com direito a suásticas no capacete e uma torcida organizada com a bandeira do Terceiro Reich é meramente um artifício visual que choca nos primeiros segundos e que é logo esquecida.

A própria estrutura de atropelamentos variados é consideravelmente cansativa, ainda que memorável como a já mencionada oferenda dos velhinho e também o atropelamento, por Joe, de sua própria equipe. A repetição cansa, com os intervalos de descanso dos pilotos sendo usados unicamente para mostrar corpos desnudos e para desenvolver a conexão entre Frankenstein e sua nova navegadora Annie Smith (Simone Griffeth), com ambos guardando “mistérios” que, não demora, são revelados. É como ver uma sucessão de boas ideias sendo mantidas à margem de um filme que se preocupa mais com o espetáculo do que aliá-lo a algum tipo de substância. Porque há substância e o roteiro de Robert Thom e Charles B. Griffith ensaia abordá-la com mais foco do que apenas repetir umas 50 vezes que a culpa por todas as mazelas americanas é dos “malditos franceses” em uma ótima brincadeira com a mania – que não é só dos EUA – de sempre culpar os outros por seus problemas. Mas tudo fica apenas no ensaio mesmo.

Na direção, Paul Bartel faz o que pode e consegue bons resultados bem no estilo trash que Corman se notabilizou. Chega até a ser surpreendente – olhando em retrospecto, já viciado pela banalização da violência nos filmes atuais – como os atropelamentos são “domados” e pouco gráficos, mas normalmente muito divertidos. O design de produção esmerou-se com o parco orçamento, criando interessantes cinco carros de corrida e, mais ainda, com os uniformes de Frankenstein e Viterbo, com o de Stallone bebendo de sua fama de “garanhão italiano” à época (aliás, é curioso notar como seu personagem apanha de Frankenstein, sendo nocauteado em uma garagem, no ano anterior ao lançamento de Rocky).

Mas Corrida da Morte – Ano 2000 marcou sua época muito mais do que seu “rival” mais caro e pretensioso, tornando-se um ícone trash que, hilariamente, revoltou muita gente e muitos críticos, além de ter gerado videogames também muito polêmicos como o homônimo Death Race e, depois, claro, Carmageddon. Só que o filme não se sustenta de verdade porque o roteiro se perde e não consegue desenvolver de verdade seu potencial, ainda que a curiosidade quase mítica que a obra angariou exija uma conferida básica nem que seja para poder depois bater no peito e afirmar “eu vi”.

Corrida da Morte – Ano 2000 (Death Race 2000, EUA – 1975)
Direção: Paul Bartel
Roteiro: Robert Thom, Charles B. Griffith (Charles Griffith) (baseado em conto de Ib Melchior)
Elenco: David Carradine, Simone Griffeth, Sylvester Stallone, Sandy McCallum, Louisa Moritz, Don Steele, Mary Woronov, Roberta Collins, Fred Grandy, Martin Kove, Joyce Jameson, Carle Bensen, Leslie McRay, Harriet Medin, Jan Worth
Duração: 80 min.

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