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Crítica | Corações de Ferro

por Gabriela Miranda
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Dentro de um tanque de guerra a perspectiva é diferente. Este longa dirigido por David Ayer entrega uma visão cerrada por interiores, no abril de 1945. É neste período que o batalhão liderado pelo sargento Don “Wardaddy” Collier, interpretado por Brad Pitt, tem um lar diminuto e esmagador que dá nome ao filme: Fury. Neste tanque estão enclausurados a determinação, o conflito e os traumas de imagens corriqueiras que arrancam o vômito do novato, Norman Ellison. Quem está na pele deste datilógrafo que é atirado para dentro desta história é o ator Logan Lerman, mais conhecido pela fita As Vantagens de Ser Invisível.

Longe de ser um esconderijo, os tanques tomam conta dos espaços da telona do cinema e Ayer deixa em evidência a fragilidade desses gigantes em comparação à tecnologia das máquinas alemãs. Aqui, a 2ª Grande Guerra arrasta o espírito e a dignidade humana para cantos mais barulhentos, onde não há tempo para refletir, apenas agir. Em meio a tiros marcados com rastros verdes e vermelhos, o espectador é apresentado a um dia normal no front.

A grande batalha é conviver com a perda da humanidade. Quando lembramos da última cena do filme Bastardos Inglórios de Tarantino em que, por sua vez, Brad Pitt fica frente a frente com um oficial da SS e decide materializar a marca indelével dos terrores do nazismo na suástica desenhada com uma faca na testa dele, fica fácil relacionar a intensidade desse ódio com a personagem de Pitt no longa de Ayer.

Agora, com os pés fincados na Alemanha, empurrar os nazistas para a derrota está cada vez mais perto de acontecer. No entanto, os recursos e soldados estão desfalcados e os ânimos dos combatentes estão calibrados para explodir a qualquer momento. Para expressar a tensão da guerra, os atores passaram por um treinamento pesado e a imersão no contexto histórico proporcionou interpretações que exploram os limites de convivência e constantes ameaças aos nervos enfurecidos.

Enxergar com naturalidade toda a destruição de valores morais e cenários familiares é um ponto enfatizado ao longo da trama e as contradições humanas se manifestam na figura do novato, que logo entende que as regras de civilidade foram rasuradas pelo ferro e pelo sangue, e, para sobreviver, é preciso se adaptar. Depois disso, ocorre o batismo de Norman e fica o registro do codinome “Machine”.

A fuga dessa realidade dá lugar para uma das cenas mais longas e relevantes do filme. Brincar de casinha na sala de estar de duas alemãs se torna uma construção quase insana, e logo a busca pela fictícia normalidade é ofuscada pela embriaguez da guerra psicológica e emocional.

Neste recinto, os atores conseguem entregar interpretações fortes e bem densas. Boyd “Bible” Swan, Trini “Gordo” Garcia e Grady “Coon-Ass” Travis exercitam uma dinâmica de violação de memórias, tomadas pelo odor de morte, que rasgam qualquer título de vitória que pudesse chegar a eles. Algo que desnuda a eloquência dos países Aliados e escancara as rachaduras do tanque de guerra desta família, unida pelo medo e pela certeza de que nenhum coração é de ferro.

Corações de Ferro (Fury, EUA/China/Reino Unido – 2014)
Diretor: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Peña, Jon Bernthal, Jim Parrack, Brad William Henke, Vance Xavier Samuel, Alicia von Rittberg, Jason Isaacs, Anamaria Trinca
Duração: 134 min.

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