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Introdução
Spoilers!
Com publicações originais lançadas entre abril e maio de 2015, o evento Convergência/Convergence reuniu 8 edições principais + uma edição #0, todas elas acompanhadas de volumes para 10 personagens dentro dos seguintes eventos da DC Comics: pré-Ponto de Ignição, pré-Zero Hora, linha do tempo de Crise nas Infinitas Terras e pré-Crise nas Infinitas Terras. O evento ocupou o espaço de todas as publicações da editora durante os meses de abril e maio de 2015 (e isso serviu para que ela se reestruturasse na nova sede em Burbank, Califórnia, após deixar Nova York) e seguiu-se aos acontecimentos finais de Terra 2: Fim do Mundo e Fim dos Tempos (também conhecida aqui como Fim dos Futuros).
O que basicamente acontece aqui é o seguinte: Brainiac conseguiu reunir cidades de diversos “mundos condenados e esquecidos” de diversos tempos em um único lugar (Blood Moon), fora do espaço-tempo e, para fazer um experimento com elas, forçou um confronto. Vários heróis da DC de diversas épocas aparecem na jogada. Quem viverá e quem morrerá? O co-editor da DC, Jim Lee, disse o seguinte a respeito: “O que estamos realmente abordando é que tudo existe e existiu no contexto dos Novos 52. Convergência é, de muitas maneiras, o evento mais meta-épico que já fizemos.“. Dan DiDio, também co-editor, completou, trazendo à tona os eventos de ANTES dos Novos 52: “Estamos pegando a partir do ponto em que deixamos, e vamos descobrir o que se passou desde então com esses universos […] Esse anúncio trata de uma nova era para o Universo DC, que nos permitirá publicar de tudo para todas as pessoas, sermos mais expansivos e modernos no nosso enfoque, e permitirá contar histórias que melhor refletem a sociedade ao nosso redor“.
Alguns leitores não gostaram da ideia do projeto, por imaginarem um novo reboot logo na sequência (a série Divergência virá logo a seguir). Outros pensam em uma maior possibilidade de exploração do Multiverso pela DC, e há ainda os que apostam na fala de DiDio para argumentar que Convergência nos trará flexibilidade na continuidade das histórias e entre os títulos, não obrigando os leitores a acompanharem uma sequência enorme de revistas, de vários heróis, para entenderem uma história ‘X’. Tudo será resolvido dentro de seu arco ou sua revista específicos. Como isso será feito e se será feito, só o tempo dirá.
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Convergência #0: A Máquina Divina
Sabem a estranha sensação, quando você está lendo um roteiro bizarro, de que a história está devorando os seus neurônios e você não consegue pensar direito sobre o quê, como e por quê aquelas coisas estão acontecendo? Pois é. Este é o caso da edição-introdução de Convergência, A Máquina Divina.
Escrita pelo veterano Dan Jurgens e pelo novato Jeff King (roteirista da série Continuum, vejam só!), esta edição, que deveria acalmar um pouco os ânimos dos leitores e apresentar um caminho bem pavimentado para a longa série que está por vir, faz o oposto, em todos os sentidos. De início, o texto cria uma “situação de isopor” com o Superman e o Brainiac (um amálgama ilusório manisfestado em vários “corpos” das versões desse personagem na Terra Um, Nova Terra, Universo de Antimatéria, Brainiac nº13, Terra Primordial e DC Animated Universe) que logo de desfaz e dá origem a uma outra situação, com uma ilusão do Pulsar Stargrave e eventos à la Inception capazes de dar dor de cabeça em qualquer um.
Em tese, os roteiristas criaram uma realidade em um lugar fora do tempo e do espaço (Blood Moon) para onde o Superman é levado pelo Super-Brainiac, que mais parece uma mistura reformulada dos robôs de Elysium e Círculo de Fogo (um marvete até poderia dizer que é “inveja de Ultron“) e com um diálogo que não leva a lugar nenhum. A verdade é que sendo uma edição #0, comumente dedicada a exploração dos primórdios de alguma história, era de se esperar que A Máquina Divina fornecesse pelo menos nuances desse mundo de Convergência, mas o leitor sai ainda com mais perguntas do que ‘primeiras respostas’ ao final, até porque, o tratamento dado ao Super não é nada considerando a péssima, lamentável e tenebrosa forma como Telos, o alardeado novo vilão da DC, é “criado”.
Seria injusto, no entanto, dizermos que a história não tem bons momentos. Mas estes estão reservados a alguns poucos quadros e não fazem grande peso no todo da história.
Já a arte caprichada de Ethan Van Sciver tem melhor destino. A diagramação ajuda a criar a sensação de ilusão (a despeito do mal tratamento dado a isso pelo roteiro) e as imagens nos dão nuances muito curiosas dos personagens em outras épocas. O que o texto não faz, a arte faz, pena que por alguns quadros.
O desfecho da trama, com o surgimento de Telos e o impasse do Superman X Super-Brainiac não é capaz de segurar nem o DCnauta mais engajado. Falta estrutura para a continuação, faltam elementos motivadores dos personagens, faltam aberturas para inclusão de outros, falta sentido na forma como a história se organiza. Creio que, assim como a maioria dos leitores, só me permito continuar a leitura por teimosia e talvez por uma leve esperança de que as coisas possam melhorar, afinal.
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Guia de Cidades
Ao final da revista, há um pequeno-grande índice de cidades (vindas de mundos e tempos diferentes) que irão constar em Convergência. Vejam aí se a sua “cidade das antigas” está na lista. As capas das revistas são onde essas cidades apareceram pela primeira vez.
Convergência #0: A Máquina Divina (Convergence #0: The God Machine)
Publicação nos EUA: DC Comics, 1º de abril de 2015
Roteiro: Dan Jurgens, Jeff King
Arte: Ethan Van Sciver
Cores: Marcelo Maiolo
40 páginas