Quando a Showcase anunciou que cancelaria Continuum, uma das minhas grandes preocupações foi com o momento em que isto aconteceu na série. O final da 3ª Temporada foi chocante e abriu um mundo enorme de possibilidades, algo que mesmo com 13 episódios seria difícil cobrir, porque as variantes eram muitas e o desfecho certamente penderia para uma espécie de utopia, como, feliz ou infelizmente acabou acontecendo. Mas a minha surpresa aumentou ainda mais quando vi que a grade de episódios liberados pela emissora tinha apenas 6 episódios, o que piorava muito a situação para o desenvolvimento dos super-soldados do futuro. E os problemas começaram a aparecer.
É verdade que mais do que as outras temporadas, este ano do show trouxe grande nível de ação, excelentes cenas de luta, movimentação por inúmeros cenários e pontes narrativas alternativas e potenciais. Muita coisa em jogo e muitos grupos lutando para um único objetivo. Ao lembrar da primeira vez em que o leque de opções se abriu assustadoramente — final da 2ª Temporada –, chegamos à conclusão de que sobrava para o showrunner/criador da série, Simon Barry, investir pesadamente no cliffhanger do ano anterior e, de uma forma ou de outra, fechar as janelas abertas até ali. Resolver três temporadas de viagens no tempo e paradoxos temporais em seis episódios é definitivamente uma tarefa hercúlea e não poderíamos esperar nada muito bem articulado. Não havia tempo.
É por isso que mesmo achando as escolhas utópicas pouco interessantes e mesmo percebendo que muitas coisas foram negativamente deixadas em aberto ou resolvidas insatisfatoriamente — Garza, Kellog, Carlos, Julian –, eu vejo esta temporada final de Continuum como um esforço bastante positivo de Simon Barry, com resultado final muito bom. Poderia ser melhor? Sim, definitivamente. Mas com o que ele tinha para trabalhar, creio que este era o melhor cenário que havia para deixar a série.
Talvez pela diminuição de recursos, a mostragem de grandes tecnologias do futuro foi centrada em um único bloco (os soldados do futuro de Kellog) e aparições tecnológicas do trabalho da Piron e de Alec. Funcionou bem, mas o espectador certamente sentiu falta de uma maior exploração de cenários e situações de um outro momento, afinal, uma série com essa temática tem o seu grande atrativo justamente na abordagem do futuro (ou passado steampunk, se for o caso) e centrar essa linha dramática em roteiros localizados em nosso tempo diminui um pouco a força do que está sendo passado. É diferente, por exemplo, das lutas que o Liber8 fez, principalmente na 1ª Temporada, porque ali estávamos vendo a história ser mudada e a intenção estava plenamente ligada ao século XXI. No caso dos soldados do Comandante Kellog, essa intenção é um enigma fluído, cuja verdadeira intenção só chega para nós nos dois últimos episódios da temporada, The Desperate Hours e Final Hour.
Com um elenco em boa interação e algumas performances muito boas, a temporada chamou a atenção pela carga de emoções que trouxe. Mortes inesperadas e tristes (tratadas no texto como algo corriqueiro, frio, o que chama a atenção para a escolha dos roteiristas), insinuações de romances que não acontecem e revelações que ao mesmo tempo chocam e criam camadas de sentimentos no público, fazendo com que tivéssemos simpatia e antipatia pelos mesmos personagens, tratamento humano e bastante correto, uma vez que, olhando moralmente para essas questões, nós realmente temos pontos positivos e negativos vindos de cada um dos protagonistas e coadjuvantes.
Mesmo tropeçando, esta 4ª Temporada traz um fim interessante para Continuum. O bom trabalho da equipe de efeitos especiais e visuais — apesar do deslocamento temporal — certamente merece destaque, especialmente na armadura dos soldados do futuro de Kellog (que me lembraram Halo) e na criação dos efeitos para a máquina que abriria um buraco de minhoca, cenário que contou com o melhor trabalho de edição e mixagem de som da temporada. O desfecho utópico, apesar de sentimentalmente trágico para Kiera, é um tanto meloso e clichê, mas devo admitir que foi bonito. A luta inicial deu certo e o futuro chegou a um patamar realmente diferente. O mundo está salvo. Resta saber como está o coração daqueles que trouxeram a salvação ao mundo.
Continuum – 4ª Temporada (Canadá, 2015) — Series Finale
Direção: Pat Williams, David Frazee
Roteiro: Simon Barry, Shelley Eriksen, Jonathan Walker, Todd Ireland, Jeremy Smith
Elenco: Rachel Nichols, Erik Knudsen, Stephen Lobo, Victor Webster, Tony Amendola, William B. Davis, Roxanne Fernandes, Sean Michael Kyer, Aleks Paunovic, Vladimir Ruzich
Duração: 45 min. (cada episódio)