Relacionamentos são complicados. Esta é uma das poucas verdades absolutas do ser humano. Seja familiares, amigos, colegas ou pares românticos, qualquer forma de vínculo entre duas ou mais pessoas gera conflito. Obviamente que a dimensão da complexidade e os níveis de dificuldade variam para cada pessoa, e cada relacionamento. Este âmbito de mutabilidade das relações românticas é o enfoque do curta-metragem Conexões.
O filme apresenta conversas pessoais de três diferentes casais, sempre vistos unilateralmente, alternando o diálogo entre eles em um jogo de falta de consonância, misturando a comunicação do grupo, tanto para demonstrar suas ligações, quanto para expor suas diferenças. O assunto da conversação dos personagens está conectado pela temática de traição, já que pelo menos um membro de cada relacionamento traiu o parceiro (a) com uma pessoa dos outros casais. A abordagem do diretor Rafael Jardim toca em vários assuntos, desde infidelidade, confiança, amor, entre outros meandros dos relacionamentos a dois. Entretanto, ao misturar a conversa dos personagens, o cineasta evoca o melhor tema de seu curta, a perspectiva.
O ponto de vista é algo cruel tratando-se de romance. Em Conexões, ao mesmo tempo que uma pessoa afirma estar apaixonada, e que o sentimento é mútuo, o mesmo indivíduo posto em ação, nega a afirmativa em outra conversa. A forma abrupta como o diretor responde alegações, com cortes rápidos, põe também o espectador na perspectiva da realidade impiedosa de amar. Essa interpretação de diferentes olhares é feita do mesmo modo para evidenciar a realidade de cada casal, demonstrando, através do perdão ou do término, a real conexão que existia em cada relacionamento. Conexões é um belo e pungente retrato da união.
Conexões (Brasil, 2019)
Direção: Rafael Jardim
Roteiro: Rafael Jardim
Elenco: Ariane Hime, Gillian Villa, Allan di Moura, Samia Abreu, Edu Coutinho, Samuel Melo
Duração: 11 min.
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Salvo o Crepúsculo
Assim como em Conexões, Salvo o Crepúsculo trata da complexidade envolvendo relacionamentos. O curta conta a história de Lúcia e Julia, duas mulheres que descobriram uma na outra o amor, e toda a beleza e improbidade que o acompanham. O filme não perde tempo em estabelecer seu relacionamento, assim como a velocidade com a qual se apaixonaram perdidamente, através de pouco diálogo, mas com muita narração poética, criando um sentimento de poesia romântica à obra, que posteriormente evolui em tragédia lírica.
O diretor espanhol Mario Hernández trata do amor como uma emoção de ternura que tem a capacidade de criar afeição e apreço, assim como trazer felicidade espontânea de uma forma belíssima, mas da mesma forma, demonstra como um relacionamento é uma construção de vários aspectos, e que apenas o amor não sustenta uma vida compartilhada. Pequenas brigas, desentendimentos, falta de carinho, entre outras ordinárias atitudes se compilam e começam a minar a relação das protagonistas. Não sabemos os motivos específicos das discussões, mas eles não são necessários, afinal, qualquer pessoa que tenha passado por um relacionamento, seja ele romântico ou não, entende as atribulações da vivência associada.
As consequências do término são vistas mais da perspectiva de Julia, que parece sofrer mais com o fim do relacionamento, do que Lúcia. O cineasta expõe todos os problemas da quebra de união amorosa, desde as lágrimas na solidão, e a tentativa de bloquear os sentimentos, nesse caso, com sexo. O filme demonstra em seu final, como esse sofrimento é momentâneo, já que, a vida deve continuar, mesmo que carregue cicatrizes. Através de muita narração poética, Mario Hernández constrói um bom curta-metragem que estabelece o tema conhecido de que o amor não é suficiente, e que o término, assim como o Crepúsculo, antecede o raiar do dia, com novas esperanças e oportunidades.
Salvo o Crepúsculo (Salvo el Crepúsculo) – Espanha, 2019
Direção: Mario Hernández
Roteiro: Mario Hernández (inspirado no universo de Julio Cortázar)
Elenco: Clara Alvarado, Sara Etienne, Ruth Gabriel
Duração: 20 min.