Home LiteraturaConto Crítica | Conan, o Bárbaro: A Torre do Elefante, de Robert E. Howard

Crítica | Conan, o Bárbaro: A Torre do Elefante, de Robert E. Howard

por Luiz Santiago
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Homens civilizados são menos corteses do que os selvagens porque sabem que, de modo geral, podem ser mal-educados sem que seus crânios sejam partidos.

Diferente de A Fênix na Espada e A Cidadela Escarlate, as duas aventuras anteriores de Conan (considerando a ordem cronológica das publicações de Robert E. Howard), A Torre do Elefante mostra uma exploração bem maior de contexto para o personagem e, pela primeira vez, encontramos um Conan jovem, ainda em seus primeiros momentos de contato com a civilização, mostrando-se bastante inseguro e constantemente tentando aprender coisas. A ação se passa na cidade de Zamora, “a terra dos ladrões”, e começa com o Cimério entreouvindo uma conversa de bêbados criminosos em uma taverna, um lugar barulhento, sujo e onde se juntavam as piores pessoas possíveis para planejar roubos, ouvir e aprender mais sobre essa atividade, que eles consideravam uma arte.

Nessa tentativa ampliar o Universo do personagem, Robert E. Howard nos mostra aqui uma série de povos (citados na cena da taverna) e faz uma porção de ligações exteriores a partir do momento em que Conan se encontra com Taurus, um exímio e barrigudo ladrão Nemédio que se torna um parceiro temporário do Cimério e com quem ele cria um rápido laço de amizade e cumplicidade.

O conto é construído em uma espiral de eventos instigantes, com pouca exposição e partidas diretas para a ação, algo que nos mantém ligados o tempo inteiro, esperando qual será o próximo passo do protagonista. Da discussão e briga na taverna até o momento em que ele encontra Taurus, o texto é objetivo e mesmo que não seja um exemplo de organicidade, a nossa atenção está tão voltada para o objeto final da história — o roubo da joia na Torre do Elefante –, que acabamos dando um peso menor a essa transição com algumas rusgas.

SPOILERS!

Quando chegamos nos jardins da Torre e os dois ladrões se conhecem, a coisa começa a ficar realmente interessante e a leitura flui com imensa facilidade. Cada um dos passos, cada linha de conversa, cada novidade que o autor nos apresenta durante esse roubo tem um ótimo efeito e torna a Torre um lugar ainda mais misterioso do que as lendas narradas pelos ladrões da taverna. Meu único lamento aqui não tem a ver com algo negativo em relação à história, mas com um fator de identificação mesmo: eu adorei Taurus e fiquei bastante triste quando ele foi atacado pela aranha gigante dentro da sala especial. Eis aí um companheiro que eu gostaria de ver mais tempo ao lado de Conan.

A sequência da luta do Cimério contra o monstro é algo que nos chama a atenção mas, pelo menos para mim, não subiu assim tão alto em termos de entretenimento. Já o encontro com Yag-Kosha, o mago alienígena, foi outra coisa. Eu percebi algumas nuances de Cidadela Escarlate aqui e entendo agora algumas comparações que ouvi as pessoas fazerem do personagem alienígena desse conto com o Universo Lovecraft. Não que seja algo extremamente similar (porque não se trata de um terror cósmico), mas com certeza dá para entender o caminho usado para a comparação.

Toda a cena de Conan com Yag-Kosha é um verdadeiro primor. Gosto do ritmo da escrita, da base mitológica utilizada e até do caminho histórico que o autor utiliza na narração feita pelo mago com cabeça de elefante, mais uma vez expandindo o Universo de Conan e nos dando informações sobre a história milenar desse mundo. Esta é definitivamente a minha parte favorita de todo o conto. E talvez por gostar tanto dela é que meu interesse e visão positiva em relação ao que vem depois foi caindo progressivamente. Até a vingança contra o infame feiticeiro Yara não me pareceu tão interessante quanto a promessa, e muito menos o encerramento da história, esta sim, bem abaixo de todo o restante da narrativa, marcada por uma simplicidade abrupta que destoa de todo o resto.

A Torre do Elefante é uma aventura de aprendizado. Conan está em seus primeiros passos no mundo civilizado e a possibilidade de conseguir algo valioso que aparentemente ninguém é capaz que roubar o impele para esse encontro improvável e inesquecível. Já aqui é possível perceber diversas caraterísticas (especialmente físicas) que seriam marcantes no personagem em seus anos seguintes, mas principalmente, entendemos um pouco de onde veio seus pensamentos, valores e contatos com o mundo além de suas selvagens fronteiras.

  • Arte da capa: AbePapakhian.

Conan, o Bárbaro: A Torre do Elefante (The Tower of the Elephant) — EUA, março de 1933
Publicação original: Weird Tales (pulp magazine) — Rural Publishing Corporation
No Brasil: Conan, o Bárbaro – Livro 1 (Pipoca e Nanquim, 2017)
Autor: Robert E. Howard
Tradução: Alexandre Callari
55 páginas

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