- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Se usarmos Pryiatel Skelet como baliza comparativa, o final da primeira temporada de Comando das Criaturas foi um avanço, mas, se usarmos a média da temporada como um todo, seu encerramento ficou ali naquela linha mediana a que infelizmente nos acostumamos nessa série. Mal comparando, foi como assistir a uma partida de futebol que não só não vale bulhufas para o campeonato, como os jogadores não fazem nada mais do que uma partida protocolar que, no final, acaba no zero a zero, sem nenhum momento que valesse o preço do ingresso e o deslocamento ao estádio ou o tempo de atenção do espectador na transmissão televisiva.
Como já era mais do que esperado, ganhamos um flashback que conta a origem de Nina, a personagem mais inútil do grupo que – e aí sim foi uma surpresa – continua inútil até morrer esfaqueada pela princesa no meio que deveria ser seu domínio. Maldade com a única do grupo com coração, segundo a Noiva? Olha, diria que não, pois tudo aquilo que sabíamos sobre Nina antes do flashback, ou seja, que ela era “meiguinha”, “boazinha”, “”fofinha”, “simpatiquinha”, “amiguinha” e todos os demais “inhas” que vocês puderem imaginar permaneceu 100% intacto, sem modificações depois do flashback. Afinal, sua história cheia de tragédia, além de absolutamente padrão e telegrafada, não acrescenta à personagem e não traz elementos que tenham qualquer tipo de função dentro do episódio em questão. Se olharmos separadamente, não é a pior origem que tivemos na série, admito, mas se existe uma boa definição para “nhé”, essa é o que vemos no flashback da monstra do esgoto de Star City.
E a história principal, que vinha andando a passo de cágado manco com artrose, caminhou um ou dois centímetros a frente, mesmo que o roteiro de James Gunn tenha que ter feito uma ginástica enorme para justificar o uso de Nina no presente, ou seja, fazendo com que o roteiro tirasse do chapéu que a princesa tem um nado matinal diário em um lago de seu castelo e que, mesmo diante da ameaça dos monstros, recusa-se a mudar seus planos. Ok, era de esperar algo assim, na verdade, pois personagens aquáticos sempre têm problemas do gênero quanto fazem parte de uma equipe eminentemente terrestre lidando com uma missão também eminentemente terrestre, mas Gunn poderia ter sido um pouquinho menos cara de pau. Mas, retornando aos tais centímetros, bem, eles basicamente se referem à Amanda Waller descobrir que Cara-de-Barro matou e tomou o lugar da professora Aisla MacPherson, algo que ela, inexplicavelmente, precisa verificar pessoalmente, e a algo que me deixou aliviado, ou seja, a execução da princesa pela Noiva depois que ela faz como Hercule Poirot e desfila suas deduções, com direito a breves flashbacks (afinal, por que não?), para a jovem. Seria muito covarde se Gunn não eliminasse a personagem, ainda que ele tenha feito isso depois de enquadrá-la como vilã, de maneira a suavizar a coisa toda. Só um à parte: teria sido infinitamente mais interessante se Nina realmente matasse a princesa, mas Gunn, que tenta ser subversivo, na verdade costuma ser é muito domado demais.
E é isso, pois todo o contexto que explica a vilania da princesa e a visão apocalíptica de Circe é deixada para uma segunda temporada que, como vimos no final, contará com novos personagens (oba, mais oportunidades para flashbacks!!!) e uma versão 2.0 do Robô Recruta que, obviamente, não poderia ter morrido. Ou seja, se espremermos de verdade a história da temporada, ela caberia na metade de um episódio. Todo o restante foram sucessivas tentativas forçadas e equivocadas de fazer com que o espectador criasse empatia com cada membro do Comando das Criaturas somente pelo uso repetitivo e cansativo de retornos ao passado, com as pouquíssimas histórias interessantes (no meu caderninho de anotações, só mesmo as da Noiva e Doninha) ficando corridas demais e as restantes arrastando-se para ocupar minutagem dos episódios.
E o pior é que eu escrevo isso tudo com pesar, pois era fácil, muito fácil fazer dessa temporada inaugural algo realmente engajante, que fosse além do banal e do óbvio ululante, que contasse uma história de verdade e não um arremedo narrativo que mais parece (e é) um prólogo. Tomara que, na segunda temporada, com Gunn mais confiante depois do sucesso de seu Superman (não, não vi o trailer e nem pretendo ver, mas torço para que dê certo, pois só gente muito mané torce para filmes darem errado na base da torcida por sua versão favorita – pronto, falei), tenha coragem de levar Comando das Criaturas para alguns níveis acima, para o tipo de série que pode e que quer ser, sem recorrer a melodrama barato e sem achar que a arte de contar história em formato serializado é a arte de fazer o espectador ficar indiferente a cada semana que passa.
Obs: Há uma cena pós-crédito.
Comando das Criaturas – 1X07: Um Monstrinho Muito Engraçado (Creature Commandos – 1X07: A Very Funny Monster – EUA, 09 de janeiro de 2025)
Desenvolvimento: James Gunn
Direção: Matt Peters
Roteiro: James Gunn
Elenco (vozes originais): Frank Grillo, Indira Varma, Sean Gunn, Alan Tudyk, Zoë Chao, David Harbour, Maria Bakalova, Viola Davis, Steve Agee
Duração: 29 min.