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Crítica | Cold Mountain

por Leonardo Campos
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Quando discutimos a relação entre filmes e obras literárias, temos que levar em consideração um importante segmento dos estudos de linguagem: a intertextualidade. Cold Mountain, dirigido por Anthony Minghella, apresenta-se como um épico que dialoga com o poema homérico Odisseia, no entanto, é uma adaptação do romance homônimo escrito por Charlies Frazier, que por sua vez, deve ter se inspirado em alguns elementos da trajetória de Odisseu rumo ao seu lar, após a Guerra de Troia.

Aqui, troque Troia pelos Estados Unidos. Coloque povos em conflitos e cenas de batalhas. É só mudar o contexto histórico e algumas propostas para termos praticamente o mesmo mote. Também conhecida como Guerra de Secessão, o período é marcado pelos embates entre o norte e o sul dos atuais “imperadores” estadunidenses. O norte brigava pela libertação dos escravos que trabalhavam no campo de algodão ao lado sul do território nacional. O sul clamava pela independência. No filme, o conflito desaguará no vilarejo Cold Mountain. Todos os homens do local são convocados e precisam partir para a batalha.

A trama foca no herói W. P. Inman (Jude Law), um dos personagens chamados para estar na frente de batalha. Ele mantém um relacionamento com Ada (Nicole Kidman), numa relação que mais adiante se demonstrará alusiva ao casal épico Odisseu e Penélope. Ela é filha de um reverendo da aldeia (interpretado por Donald Sutherland) e chama à atenção de todos por conta da sua beleza e recato. Apaixonados, os dois se comprometem para o resto de suas vidas. A guerra vai separá-los, mas o amor continuará firme, como poderemos ver até os trágicos momentos finais.

Inman faz de tudo para sobreviver, tal como Odisseu, um pouco menos astuto e com menos vigor que o herói homérico. A ideia é que um dia ele possa rever a sua amada. Ao desistir da batalha, o personagem segue rumo ao seu lar, passar por diversas peripécias e enfrenta as mazelas de uma sociedade em conflito, com relações humanas deterioradas e clima tenebroso. Enquanto aguarda “o homem da sua vida” retornar, Ada passa por situações calamitosas, saindo do luxo para o lixo, tal como diversas famílias da época. Com a chegada da humorada e durona Ruby (Renée Zellweger), as coisas tornam-se um pouco mais suaves, mas ainda assim, tristes e complicadas.

Nesta saga para retornar ao seu lar, o personagem de Law encontra figuras que são versões do poema grego: das sereias (encarnadas nas ninfomaníacas comandadas pela personagem de Melora Waters) à feiticeira que cuida de seus ferimentos, grande parte do imaginário literário ocidental construído por Homero encontra-se presente no filme, em diálogos intertextuais que busca o estabelecimento de metáforas para os relacionamentos humanos.

Cold Mountain é visualmente belo, mas emocionalmente estéril, um épico irregular, que dialoga bem com a Odisseia, de Homero, mas fica devendo bastante ao poema que lhe serviu como fonte intertextual. Filmado nas belas paisagens da Romênia, a produção é impecavelmente fotografada, mas falha, inclusive, em questões históricas, afinal, se estamos falando da Guerra Civil Americana, onde estão os personagens negros, parte daquele período?

Cold Mountain — Estados Unidos, 2003.
Direção: Anthony Minghella
Roteiro: Anthony Minghella
Elenco: Nicole Kidman, Jude Law, Renée Zelweger, Afemo Omilami, Alex Hassell, Ben Allison, Brendan Gleeson, Charlie Hunnam, Chet Dixon, Christopher Fennell, Cillian Murphy, Dean Whitworth, Donald Sutherland, Eileen Atkins, Emily Deschanel, Erik Smith, Ethan Suplee, Giovanni Ribisi, Jena Malone, Katherine Durio, Kathy Baker, Kristen Nicole
Duração: 155 min.

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