Embora os filmes Amizade Desfeita e Buscando… tenham encontrado o apreço popular com o chamado formato screen life, formato que se desenrola pela perspectiva do que está sendo exibido nas telas de computadores e notebooks, essa é uma concepção que veio um pouco antes em The Den, longa que teve uma premissa bem mais pé no chão e reflexiva ao abordar os dilemas sociais oriundos pelo uso da tecnologia e o que de mais sombrio pode ser encontrado na internet.
Nesse universo criado por Zachary Donohue e Lauren Thompson, acompanhamos um projeto de pós-graduação de Elizabeth (Melanie Papalia), o qual consiste num experimento online através do The Den, plataforma de conversa virtual por meio de vídeos e mensagens. A sua ideia de interagir com o máximo de pessoas para desenvolver uma tese sobre os comportamentos e hábitos dos usuários, termina se deparando com um dos lados mais perigosos da web.
À medida que adentramos nesse experimento, é notável como o screen life transporta o estilo found footage para uma linguagem virtual, e no caminho insere toques de voyeurismo. Nesse sentido, ao contrário da sacada de “filmagem encontrada”, é como se o telespectador recebesse uma perspectiva extra de sua tela aos desdobramentos do filme. E apesar de Clausura ser considerado o pioneiro desse formato, algo semelhante podia ser visto no controverso Megan is Missing, longa comando por Michael Goi e que usava da abordagem do mockumentary para expor os perigos da era virtual.
A diferença entre as duas produções era que o filme de Goi partiu de uma linha problemática ao contar uma história tendenciosa sobre duas garotas que se tornam vítimas de um pedófilo. A direção concentrava a interação da personagem através da webcam sem nunca mostrar quem seria o predador do outro lado da tela, e mostrava o segmento do desaparecimento das jovens sempre por meio de câmeras, sejam de mercados, lojas, de trânsito. O que desqualificava a suposta tentativa de alerta sobre os perigos online, era como o longa assumia um caráter explícito e gráfico, digno de snuff movie para mais chocar com imagens do que conseguir chamar atenção para a gravidade do tema. Neste sentido, The Den sofre por deslizes semelhantes.
O argumento de Donohue e Thompson se mostrou bem mais consistente e com um foco a ser discutido: nessa era de praticidade, em que pessoas de vários lugares podem interagir por meio de plataformas online, quem é quem por trás de um simples avatar, afinal de contas? Inicialmente, a maneira com que vemos a interação de Elizabeth transitando por vários perfis pelo de The Den parece promissor, contudo, o roteiro ia perdendo o eixo ao misturar elementos de paranoia acerca da privacidade e segurança com aspectos do slasher (como alusões a Michael Myers) ou do subgênero home invasion — lembrando muitíssimo Os Estranhos — quando a protagonista percebe que uma das pessoas com quem conversou pode estar mexendo na sua rotina e pessoas próximas.
Assim, a lógica que discutia como a privacidade era facilmente violada por meros descuidos da protagonista, se perde na ideia de inserir um suspense fraco em torno do que se tratava o misterioso perfil com quem Elizabeth conversava. Sem falar dos excessos de conveniências, a agilidade da edição que mostrava a forma fissurada de Beth se relacionar na web, não conseguia convencer com a mesma proporção em como a câmera capturava outros personagens. Mesmo com um desfecho que revela como pessoas comuns podem consumir e alimentar o que há de mais hediondo no meio virtual, Clausura desfocava um argumento promissor na busca de ser memorável por elementos chocantes.
Clausura (The Den – 2013, EUA)
Direção: Zachary Donohue
Roteiro: Zachary Donohue, Lauren Thompson
Elenco: Melanie Papalia, David Schlachtenhaufen, Adam Shapiro, Anna Margaret Hollyman, Saidah Arrika Ekulona
Duração: 76 min.