Parte do que tem funcionado na extensão televisiva de Chucky é por estar explorando novos caminhos para o personagem, e até então, desde o início promissor da série, essa terceira temporada tem conseguido extrair o melhor de Mancini desde O Culto de Chucky. Porém, ao mesmo tempo que o arco de “Chucky na Casa Branca” tem cumprido o seu papel de aproveitar o potencial do boneco, Mancini parece se esforçar para não sair do lugar. Um bom exemplo disso é como Death Becomes Her ter servido como um restart para Chucky causar o caos antes de finalmente morrer, mas Panic Room traz uma sósia do presidente para execução do plano do Good Guy em explodir o mundo.
Mesmo Devon Sawa mantendo sua participação com personagens alternados na série, a sua presença nesse episódio dá a impressão de que Mancini não quer correr tantos riscos como aparenta, ao apontar para um tom de despedida para seu icônico personagem. O título do episódio faz referência ao filme estrelado por Jodie Foster e Kristen Stewart em 2004, mas também, a sala de comando que Chucky quer acessar para lançar bombas nucleares. O que tira a força dos minutos finais do episódio com toda a acidez que conhecemos do boneco é por faltar uma construção de suspense para o que ele iria fazer, em vez disso, Panic Room investe num elemento diferente como incremento: o uso de um espírito que quer expor o boneco.
É válido encarar os novos episódios como a segunda metade da temporada, para assim, entrar no senso de urgência elaborado por Mancini no que o boneco pode fazer em um único cenário. Enquanto o trio de protagonistas finge ter alguma relevância na trama desde a fase anterior, agora, como coadjuvantes, o acerto de Panic Room fica em enfatizar a tensão de Charlotte (Lara Jean Chorostecki) após ter o marido morto com o próximo passo de Chucky. Nisso, a personagem ganha mais atenção e também a performance de Chorostecki, por isso, é interessante o roteiro utilizar fantasmas como elemento para reforçar ainda mais a ideia de estarem encurralados com um inimigo que desconhecem – com exceção de Jack, Lexy e Devon.
Mesmo sendo inegável a sensação de que a possibilidade de derrota de Chucky – e o tom quase fúnebre da temporada – é só uma enrolação narrativa onde nada realmente acontece, o grande feito de Mancini é estar levando seu personagens para diferentes situações sem tirar o mérito de “o maior serial killer de todos os tempos” que o boneco afirma ser. O boneco desintegra e a carta na manga é vermos sua versão idosa e frágil interpretada pelo próprio Brad Dourif, o que fica para imaginação: o que Chucky irá causar através de um plano astral? É uma porta alternativa que pode funcionar ou não, mas Mancini está tirando o Good Guy do lugar comum e tornando menos urgente o que seria óbvio: o trio de protagonistas executar algum plano contra o boneco com êxito.
Quanto mais eles se frustram nas tentativas, mas sobra espaço para Chucky desfrutar de sua eterna maldade na pele de um boneco. A fala de Tiffany para que ele lembrasse quem é, é reafirmada várias vezes no episódio quando fica o questionamento sobre a identidade de Chucky, o responsável por causar caos na Casa Branca enquanto ele simplesmente reserva um ato absurdo sem sequer dar sinais. Parte disso vem de como ele se aproveita da inocência do menino Henry já que seu maior objetivo dessa vez não é possuir um novo corpo, mas se tornar mais forte no corpo de um boneco. Ainda é incerto como será o desfecho desse arco, porém, a maneira que Mancini estruturou a temporada faz de Chucky um perigo imprevisível que não vai se cansar até causar todos os danos possíveis sem abandonar seu posto na Casa Branca.
Chucky – 3X06: Quarto do Pânico (Chucky – 3X06: Panic Room – EUA, 2024)
Direção: Samir Rehem
Roteiro: Don Mancini, Nick Zigler, Amanda Blanchard, Diana Pawell
Elenco: Zachary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Devon Sawa, Brad Dourif, Lara Jean Chorostecki, Jackson Kelly, Callum Vinson, Michael Therriault, Gil Bellows, Rachael Ancheril, Richard Waugh
Duração: 44 min.