Como consequência da greve dos sindicatos de atores e roteiristas nos EUA, a grade da fall season precisou dividir as temporadas em duas partes, o que coloca uma tarefa extra de inserir um gancho narrativo bom o suficiente para manter o público para o próximo ano. A boa notícia é que Don Mancini não só encontrou um ritmo para a temporada atual de Chucky, como também descobriu uma faceta diferente para explorar o consagrado boneco assassino. Ter o arco de Charles Lee Ray na terceira idade é uma exploração criativa que não víamos desde a retomada da franquia de filmes em 2013, e o melhor momento dessa terceira fase da série tem sido em investir nos novos personagens e esquecer o que é parte do argumento de sequência legado. Isso sinaliza que veremos a atração andar com as próprias pernas por um tempo, mesmo que isso signifique cair no mesmo lugar depois.
E em termos de avanço narrativo, o quarto episódio veio repleto de promessas como encerramento dessa primeira parte; o que bem, não quer dizer que todo caminho até aqui foi efetivamente coerente. A começar pela ideia da série trabalhar de forma antológica com o elenco, o que passa uma impressão de recorrência e falta de riscos, e a única morte relevante para em metade da temporada foi de Miss Fairchild, porém, os diálogos tratam de jogar para debaixo do tapete o impacto de uma personagem que desempenhava o papel de mãe adotiva para três adolescentes que queriam ter acesso a Casa Branca… dessa vez, Mancini não trouxe seu malabarismo cômico para tornar essa inverossimilhança menos agravante, mas mantinha como evento as ações de Chucky para completar seu sacrifício de seis corpos.
Como referência da vez, o clássico Vestida para Matar é a base para ao episódio, ao menos, no sentido literal da coisa: enquanto o suspense erótico de Brian De Palma trazia acenos ao cinema de Alfred Hitchcock, o roteiro de Dressed to Kill se refere a como Chucky se traja para esconder seus sinais de velhice, e como a fantasia escolhida era o disfarce perfeito para ele realizar seu último ato de sacrifício. Depois de uma dinâmica interessante na direção de John Hyams, Jeff Renfroe volta a colaborar com a série com uma execução aquém do poderia. Nesse sentido, Renfroe falha ao criar um suspense em torno das movimentações do boneco até chegarmos na tentativa de clímax tumultuado e com cenas gráficas como lembrete do prometido massacre do serial killer.
Enquanto as ações de Chucky ficaram na sombra das expectativas e de uma execução autocontida, Tiffany brilha como de costume e se torna a essência divertida e caótica que o episódio carecia. Obviamente, a assassina não aceitaria ser morta sem ter um plano b, mas até vermos ela escapando da injeção letal, recebemos um show de vodoo e vingança da detenta com alma de estrela, onde, nem por um segundo, perde seu brilho, penteado, sendo a única a usar um macacão vermelho numa penitenciária feminina. Mesmo roubando a cena e se divertindo para sobressair a sua sentença, foi ótimo a personagem não fugir tão rápido e fácil; e será um arco resolvido no próximo episódio, mas que também signifique vermos Tiffany numa ação parecida com A Noiva de Chucky, de cumplicidade com o boneco que ter o retorno dos conflitos com Nica…
Assim, mesmo mostrando um caminho empolgante, Chucky consegue cair no mesmo lugar sem apresentar novos riscos. Mas a promessa continua de pé: uma fase diferente, um desafio para o imbatível Charles Lee Ray em sua forma humana na terceira idade é o que definirá o futuro dessa extensão televisiva do universo de filmes. E quem dera ver nesse combo o trio de protagonistas funcionar como inicialmente; e enquanto o arco de Jake se resume a uma liderança sem soco e um relacionamento sem química com Devon, sobra para Lexy se mostrar a única com uma essência emotiva, e sem dúvidas, a melhor personagem desenvolvida e que detém como objetivo convincente, deter o boneco possuído de uma vez por todas.
Chucky – 3X04: Vestida para Matar (Chucky – 3X04: Dressed to Kill – EUA, 2023)
Direção: Jeff Renfroe
Roteiro: Rachael Paradis, Don Mancini
Elenco: Zachary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Devon Sawa, Brad Dourif, Nia Vardalos, Lara Jean Chorostecki, Jackson Kelly, Callum Vinson, Michael Therriault, Gil Bellows, Rachael Ancheril, Ayesha Mansur Gonsalves, Alex Paxton-Beesley, Sarah Sherman
Duração: 44 min.