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Crítica | Chucky – 3X03: Jennifer’s Body

A contagem de seis corpos.

por Felipe Oliveira
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Embora a fórmula autocontida de Chucky seja o problema mais evidente, de alguma maneira, as escolhas em sua terceira temporada tem formado um caminho empolgante e divertido. Se concentrando em um capítulo de flashback, o episódio que referencia o clássico cult Garota Infernal nos introduz a como se deu a entrada do boneco assassino na Casa Branca ao mesmo tempo que dedica um espaço espalhafatoso e cheio de encenações caricatas para o julgamento de Tiffany; e enquanto o filme de Diablo Cody mostrava uma estereotipada estudante do colegial se tornar uma devoradora de homens após ter seu corpo sacrificado durante um pacto satânico, Don Mancini faz um paralelo sobre Tiffany ter se apossado do corpo da estrela Jennifer Tilly e cometido uma onda de crimes hediondos.

Diferente do caótico Death or Denial da temporada passada, o tratamento para a importância de Tiffany na história de Child’s Play encontra um nível cômico de entretenimento, e Tilly facilmente rouba a cena tirando o melhor proveito dessa abordagem metalinguística que dialoga sobre o status de Chucky para a cultura pop. E assim como o Good Guy, Tiffany tem seu apelo e Mancini exalta isso trazendo Tilly para o centro por interpretar por tanto tempo — com um sarcasmo único — essa personagem. O resultado não poderia ser menos categórico, e apesar da série permanecer na zona de conforto consegue direcionar as peças que tem de forma objetiva e trabalhar com uma divisão de arcos equilibrada. O melhor exemplo disso é na participação do trio de protagonistas sendo dosada em prol do prometido acerto de contas contra Chucky.

Obviamente, a presença de Tilly é um evento; as roupas, o cabelo, a entonação e expressões que caracterizam a personagem nunca perdem a graça, porém, o episódio ter sido dividido para mostrar o “veredito” que o casal de serial killers foi sentenciado se fez uma escolha certeira para uma temporada que mal chegou na metade. Quem diria que após a season finale passada a série teria algum futuro, e Jennifer’s Body retoma o momento da prisão de Tiffany, os esforços de Nica por vingança e a fuga de Chucky com Caroline abraçando uma acidez que eleva a qualidade da série para um caminho divertido. Só no diálogo no táxi antes do seu desfecho brutal, o roteiro alfineta o argumento de M3GAN, mas também deixa margem para Mancini usar o contexto de discussão sobre infância, brinquedos e inteligência artificial como extensão, inserindo ainda mais o boneco na cultura pop, e por fim, sugerindo um crossover entre a boneca animatrônica e o Good Guy.

Mas enquanto isso está apenas na linha da provocação, o ponto chave do episódio foi vermos como Chucky chegou a Casa Branca, tendo como motivador Damballa não estar mais atendendo os desejos do serial killer. É ótimo perceber como o roteiro aproveitou o exercício metalinguístico no arco de Tiffany no julgamento para desenvolver outras facetas na mitologia, rendendo momentos hilários como o Good Guy indo a uma consulta médica e sendo reconhecido como um assassino em série famoso no mundo real, o que leva para outra sacada de Mancini: Chucky interromper uma confraternização e matar os novos donos da fatídica residência em Amityville na tentativa de realizar um sacrifício para Damballa em um local carrega muita maldade. A ironia foi a casa não ter sido o suficiente, sendo o próximo recinto o palácio presidencial americano. 

Foi dessa forma brilhante que Mancini mostrou que é possível ter sua criação tocando o terror na Casa Branca com diálogos afiados e muita violência. Nisso, Mancini traz uma abordagem ainda não explorada ao colocar o implacável boneco experimentando a terceira idade — as conversas com Caroline é uma mistura de psicopatia e acidez num nível hilário — com direito a muita maquiagem para disfarçar os pés de galinhas nos olhos e as mãos enrugadas, sendo o ápice Chucky sonhando em finalmente conseguindo matar Andy de maneira brutal. Com isso, Mancini mostrou que ainda há muita carta na manga para brincar com as expectativas em um episódio que estava disposto a ir em todas direções de uma só vez. 

Se fazendo como o melhor momento da temporada, tem sido interessante acompanhar o que a direção de John Hyams consegue fazer com a ideia de perspectiva, explorando novos ângulos para as tramoias de Chucky, além do curioso trabalho de fotografia de Christopher Soos. Talvez, o desfecho venha ser o de costume: reviravoltas para manter o boneco possuído no jogo, mas até lá, Chucky vai continuar divertindo com sua fase mais criativa desde os filmes, sem hora de parar agora que tem aprendido a se integrar na sociedade moderna e virtual. Imagina Good Guy se tornando viral no TikTok?

Chucky – 3X03: Garota Infernal (Chucky – 3X03: Jennifer’s Body – EUA, 2023)
Direção: John Hyams
Roteiro: Alex Delyle, Rachael Paradis, Catherine Schetina, Amanda Blanchard
Elenco: Zachary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Devon Sawa, Brad Dourif, Fiona Dourif, Jennifer Tilly, Lara Jean Chorostecki, Jackson Kelly, Callum Vinson, Annie Briggs, Kenan Thompson, Alex Vincent, Carina Battrick, Lisa Berry
Duração: 44 min.

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