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Crítica | Chucky – 1X03 e 1X04: I Like to Be Hugged / Just Let Go

Amigo do meu inimigo ou inimigo do meu amigo, eis a questão.

por Iann Jeliel
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Just Let Go
  • Há SPOILERS! Acompanhe por aqui nossas críticas semanais da série do brinquedo assassino e aqui todo nosso material sobre Chucky.

Semana passada, Chucky deu uma facada na minha mão e me deixou impossibilitado de escrever a crítica do terceiro episódio no seu devido lançamento! Depois de passar um bom e velho merthiolate, fico novamente disponível para o dever da crítica e trago as análises em separado do episódio que deixei passar com o mais novo da semana.  Just Let Go
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1X03 – I Like to Be Hugged

Just Let Go

Basicamente ocorre em I Like to Be Hugged o que eu esperava ter ocorrido no final do segundo episódio: um clímax com Lexy (Alyvia Alyn Lind) sendo morta ou algo próximo disso, que a levaria descobrir verdadeiramente a identidade de Chucky. Fato esse que foi prolongado por uma dúvida interessante de se acompanhar: Jake (Zackary Arthur) teria a coragem de matá-la? Embora tenha ficado de graça por falta de respaldo prático, afinal, ele “arrega” e (ainda?) não se torna o sociopata aprendiz que Chucky (Brad Dourif) deseja, deixando o trabalho sujo para o boneco. Antes disso, há uma tensão interessante construída durante o capítulo, se ele irá mesmo tomar essa decisão e seguir o caminho do serial killer, em contrapartida, o roteiro lentamente começa a desconstruir a bitch para seu lado mais humano, “justificando” porque Jake não tomou a frente para  matá-la.

Quando ela se esforça para fazer as pazes com ele, mesmo que só para conseguir o Good Gye para Caroline (Carina Battrick) que estava enchendo o saco dos seus pais – Michelle (Barbara Alyn Woods) e Nathan (Michael Therriault) –, mostra que pelo menos ela se importa de verdade com a irmãzinha, como demonstra a cena do abraço e aquela em que ela canta canção de ninar para irmã dormir. Gosto de como essa virada de personalidade é sutil o suficiente para não a deslocar de seu estereótipo de patricinha modernizada que ainda dá gosto de odiar. Tanto amamos odiá-la que sentimos também o suspense de perdê-la  tão cedo para o Chucky, ao mesmo tempo que saboreamos outro gostinho de vê-la recebendo “o que merece”, novamente em um fabuloso clímax, naquele incêndio em sua casa no meio de uma balada silenciosa, guiadas por fones de ouvido Bluetooth.

Aliás, vale comentar que, apesar ser jovem, não vi essa moda e, honestamente, achei além de uma ideia genial (para pôr em prática no futuro não pandêmico, quem sabe), um acerto e tanto trazê-la nesse contexto humoristicamente sarcástico do antiquado proposto na série, que vem sendo uma ferramenta precisa para fazê-la se comunicar entre gerações e driblar as polêmicas do politicamente incorreto saindo das bocas quase infantis. Funciona muito porque o núcleo adulto abraça essa cafonice  também, colocando os pais de Lexy e padrastos de Jake – Logan (Devon Sawa) e Bree (Lexa Doig) – brigando pelos “filhos” (naquela cena da reunião dos pais) como se fossem birrinhas adolescentes de ciúmes. Não chegam a ser pautas exatamente nos episódios, assim como algumas das próprias birras entre os jovens, tipo a de Junior (Teo Briones) com Oliver (Avery Esteves), num suposto triângulo amoroso com Lexy. Antes disso virar uma subtrama, Chucky chegou com a faca no menino, adicionando mais uma morte a ser trabalhada na parte investigativa conduzida pela Detetive Evans (Rachelle Casseus).

Considerando a forma lúcida com que ela vem interpretando os eventos nesse e no episódio subsequente, imagino-a facilmente sendo uma das próximas vítimas, pois, Chucky é um assassino limitado (exemplo: veja o esforço que ele fez para matar Lexy e nem conseguiu fazer), ou seja, caso fosse descoberto, em uma situação verossímil, se livrar do boneco seria um problema de “fácil” resolução. Ou seja, ele não pode ser descoberto, por isso precisa cobrir os seus rastros, como menciona ao contar em flashbacks a origem de seu primeiro assassinato. Nesse ponto, vejo ainda uma falta de clareza no plano do assassino. Afinal, o incêndio que cobriria a situação foi uma eventualidade aleatória, que acabou nem fazendo essa parte devido a Oliver. Em compensação, como já falei anteriormente em outras críticas, a graça de Chucky passa muito por sua impulsividade de matar as pessoas e ir se adaptando à situação para se divertir. A questão é fazer isso sem transformar os outros personagens em tapados. O equilíbrio de inteligências entre mocinhos e vilão, na comédia com o terror, por enquanto, está sendo alcançado pela série.

Chucky – 1X03: I Like to Be Hugged | EUA, 26 de Outubro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Dermott Downs
Roteiro: Nick Zigler, Sarah Acosta, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Lexa Doig, Barbara Alyn Woods, Michael Therriault, Rachelle Casseus, Carina Battrick, Jana Peck, Devon Sawa, Avery Esteves, Annie Briggs, David Kohlsmith, Marisa McIntyre, Andrew Butcher, Christopher Cordell, Paul Gordon, Christine Aziz, Nick A Fisher
Duração: 45 minutos
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1X04 – Just Let Go

Just Let Go

“Zoloft?” – Lexy

“Efexxor.” – Jake

“Ansiedade ou Depressão?” – Lexy

“Os dois.” – Jake

Apesar de inicialmente ser difícil comprar que Lexy tenha sobrevivido ao final de I Like to Be Hugged, não vejo demérito em Just Let Go não querer entrar em detalhes de como ela escapou do incêndio e ainda cercada por Chucky. Ela escapou porque uma personagem tão boa não pode morrer assim tão cedo. Na verdade, é como comentei: ela precisava saber a identidade do brinquedo assassino para a história andar, e acho bem legal que o caminho escolhido una a sua personalidade com a de Jake (ainda em dúvida), contra Chucky. Inexplicavelmente, funciona ela não levar a tentativa de assassinato de Jake para o lado pessoal, muito porque ela não tinha outro apoio, mas também por essa atitude despertar um gatilho de arrependimento pelo choque de realidade de quem ela se tornou com a mascará que usa como escudo para não mostrar seus verdadeiros sentimentos.

A cena em que Jake enfim desabafa por cima dela, na escada, é ótima para fechar esse arco de atrito e descartar a possível tendência de Jake em ser um assassino, selando uma união dos adolescentes contra o verdadeiro inimigo. União essa que se amplia para Devon (Bjorgvin Arnarson) ao mais tarde compartilhar a suas pesquisas sobre a lenda urbana do serial killer Charles Lee Ray ter sua alma presa no corpo do Good Gye com Lexy e testemunhar com ela e Jake, Chucky dando dedo depois de assassinar Detetive Peyton (Travis Milne) de maneira brutal – mais uma ótima cena de morte. Aliás, havia comentado sobre os riscos da sua mãe (Detetive Evans) ser a próxima vítima e esse perigo definitivamente aumenta com essa nova morte acontecendo no mesmo momento que ela estava entrevistando Jake, na sua cabeça, o principal suspeito. Aliando isso com o fato de Chucky estar na mesma sala que estava o corpo de Peyton, é difícil imaginar que ela não saiba que o boneco é o responsável no próximo episódio e possivelmente sofra as consequências não muito tempo depois.

Após ter chutado o balde para os planos, não acho, no entanto, que o objetivo de Chucky nessa série tenha mudado, afinal, como demonstrado em flashback, ele não só quer um aprendiz, como tem tendência em gerá-los na sua trajetória de assassinatos. Ainda temos Junior nessa brincadeira, que pode se juntar ao trio para combater Chucky, mas também é destacado no episódio, como Jake, que ele sofre de um relacionamento abusivo com o pai, que o força a ser relevante no cross country contra sua vontade. Além da pequena Caroline, que ainda vai querer seu melhor amigo ao lado (mesmo com sua aparência duas caras – metade dela foi derretida no fogo – assustadora) e tem seus pais para garantir isso (e o conserto do boneco), pois são poderosos o suficiente para não deixar a Detetive interferir nos desejos da filha e não acreditam nem um pouco na palavra de Lexy em situações normais, quem dirá numa acusação de que o brinquedo está vivo. Quem sabe a própria Lexy vire suspeita agora.

Vale mencionar também a misteriosa mulher (Amber Cull) com criança de colo e uma bolinha de plástico que aparece. Considerando Chucky como produto canônico definitivo do brinquedo assassino, ela pode ter aparecido em algum outro lugar que não me recordo na filmografia e apresentar alguma relevância nos próximos acontecimentos pelos olhares estranhos quando aparece. Pode não ser nada também, vai saber. Independentemente do que venha a acontecer, o importante é que a série vem conseguindo se manter equilibrada na sua proposta. Em metade de Just Let Go, Chucky fica somente à espreita, para dar aquele toque de terror ao episódio – especialmente naquele momento que Lexy e Jake visitam a casa incendiada que fica com aspecto mal-assombrado – devidamente quebrado em contraste ao teor cômico da situação em que Jake agarra Lexy para não cair da pequena altura da escada enquanto Chucky tenta alcançar suas pernas sem sucesso. É sobre isso: honrar suas raízes toscas e assumi-las dentro de um cenário favorável ao seu funcionamento. Espero que a série continue melhorando e sendo tão divertida e envolvente como vem sendo até agora.

Chucky – 1X04: Just Let Go | EUA, 2 de Novembro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Leslie Libman
Roteiro: Mallory Westfall, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Lexa Doig, Barbara Alyn Woods, Michael Therriault, Rachelle Casseus, Carina Battrick, Travis Milne, Devon Sawa, Tyler Barish, Sarah Evans, Ivano DiCaro, Mason Ward, Rain Janjua, David Bronfman, Vanessa Mitchell, Mish Tam, Matthew Maenpaa, Elinor Price, Shem Joseph Maude, Amber Cull, Michael Scholar Jr.
Duração: 40 minutos

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