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Crítica | Chucky – 1X02: Give Me Something Good to Eat

Os novos discípulos para Chucky?

por Iann Jeliel
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Give Me Something Good to Eat

  • Há SPOILERS! Acompanhe por aqui nossas críticas semanais da série do brinquedo assassino e aqui todo nosso material sobre Chucky.

“Eu sou seu amigo até o fim.” – Chucky

“Corta essa merda! Eu não tenho mais seis anos!” – Jake

Depois do “match” dado pelo piloto, ao contextualizar muito bem a proposta de Chucky com o universo high-school, Give Me Something Good to Eat começa a elaborar um panorama canônico mais claro das novas motivações de Chucky (Brad Dourif) para matar. Diferentemente dos filmes em que ele queria se tornar humano – e conseguiu ao final de O Culto de Chucky, como isso foi revertido é algo que precisa ser explicado em outro momento da série –, na série seu objetivo parece ser criar um discípulo, um novo serial killer como legado para sua cidade natal. Seu plano inicial aparentemente é Jake (Zackary Arthur), que por mais que tenha se deparado com Chucky por acaso, não foi morto ainda porque o brinquedo assassino viu nele um potencial de transformá-lo em um psicopata. Não só pelo bullying sofrido na escola ou a repressão natural vinda de ser gay facilitando o processo de influenciá-lo por revanchismo, mas também por algo de sangue, dado o histórico violento de seu pai (Devon Sawa).

Chucky parece acreditar ainda nesse hereditarismo, mesmo com o histórico de seu filho Gleen/Gleenda (Billy Boyd), que no filme O Filho de Chucky passou por todo um processo de querer negar a sua natureza violenta. O filho queer é mencionado por Chucky de maneira orgulhosamente debochada – já que mencionou, temos que ter uma aparição dele em algum momento, certo, Don Mancini? – para deixar implícito ao fandom da franquia a origem dessa nova motivação, que vai ganhando sentido conforme outras atitudes do boneco no episódio. A exemplo de já apresentar seu “plano b” caso Jake dê errado, quando conversa jogando videogame com Caroline (Carina Battrick), a irmã pequena de Lexy (Alyvia Alyn Lind), convencendo-a que a mana é uma “bitch” para da próxima vez que ela falar que seu desenho está feio ou algo do tipo, matá-la, porque não há problema em matar. Para alguém mais velho e maduro como Jake, essa de manipulação inocente não funciona, logo, Chucky precisa orquestrar uma situação em que seja plausível Jake considerar o assassinato como saída.

Pelo jeito a explanação de Lexy já foi intencional para gerar uma vontade na menina de descontar. Coincidentemente para Chucky, bateu certo com a morte do pai de Jake, que acaba sendo a inspiração para a fantasia de Halloween da menina, numa ótima quebra de expectativa, pensando no mistério deixado pelo episódio de colocar uma pré-adolescente de maneira vulgar. A humilhação naquela festa acabou sendo o gatilho perfeito para esse processo de virada em Jake. De bônus, a morte de seu pai traz material plausível para sua possível incriminação, caso as coisas fujam do controle. Por isso, Chucky mata a empregada (Erica Wood) da casa de Junior (Teo Briones). Vale destacar rapidamente a excelente alfinetada social quando os detetives perguntam à família onde ela morava, e apesar de a considerarem como parte da família, eles não faziam a menor ideia.

Interessante que os personagens não são tratados como idiotas e vão reagindo à inverossimilhança dessa possibilidade de Jake ser o assassino de maneira verossimilhante. Os investigadores começam a considerar o trauma da perda como motriz para o comportamento agressivo. Detetive Evans (Rachelle Casseus), inclusive, que vai tentar usar o filho Devon (Bjorgvin Arnarson), “crush” de Jake, para conseguir mais informações, já que ele vem começando a ganhar sua confiança. Os pais de Junior – Logan (Devon Sawa) e Bree (Lexa Doig) – conversam sobre essa mesma possibilidade e ainda incluem o filho na equação para aumentar a dúvida. O próprio Junior escuta uma conversa entre Chucky e Jake no quarto e fica assustado que o primo esteja realmente maluco. Enquanto isso, Chucky fica com escolhas de sobra para “lenhar” com quem ele quiser. Tantas escolhas que fica um tanto confuso saber exatamente qual o seu plano.

A intenção dele era matar Lexy naquela cama e de alguma forma incriminar Junior, deixando a semente em Caroline caso desse errado (como deu), então por que ele deixou o computador de Jake ligado no perfil de rede social de Lexy para Junior olhar? Por que ele sozinho foi de máscara de Hello Kitty fazer uma brincadeira de travessuras ou gostosuras com uma mulher (Jamillah Ross), arrancando a língua por oferecer uma fruta com lâmina dentro, sabendo que com a morte da empregada e o pai de Jake em menos de uma semana, a investigação estaria em cima e para aquela ocasião, mesmo que fosse difícil alguém acreditar que um boneco falante ou uma criança fez aquilo, não teria ninguém para levar a culpa? Aliás, não estou reclamando que tudo tem de ser amarradinho, agora ou nos próximos episódios. Muito pelo contrário, essa cena é ótima por preservar também esse caráter mais aleatório e impulsivo do serial killer, que dentro da sua sarcástica é um dos elementos que tornam sua mitologia tão divertida.

De reclamações, diria que Give Me Something Good to Eat fica abaixo do primeiro por ser um tanto mais anticlimático para um episódio passado em Halloween, sendo que ele prepara a morte de Lexy tão bem quanto o anterior prepara aquela cena do auditório. É óbvio que uma personagem tão “vaca” quanto Lexy – como não ficar nos nervos com ela se vitimizando daquele incidente colocando Jake como o bully? – não iria morrer tão cedo, mas que acontecesse algo mais impactante para ela no episódio. Lembremos, a menina foi uma das poucas a ver o Chucky genuinamente se movendo naquela cena do laboratório. Poderia ter acontecido uma cena semelhante aqui, mas com Chucky falando em sua direção, de modo a fazê-la começar a surtar mais à frente, querendo espalhar que o brinquedo está vivo e ser desacreditada, taxada de louca.

Acredito inclusive que isso deva acontecer para os próximos episódios, assim como penso que o vídeo daquela humilhação deva se espalhar, chegar nos pais de Junior, que irão questionar o porquê de o filho estar namorando esse tipo de garota, levando-o a ficar mais rebelde e facilitando ainda mais o cenário para Chucky incriminá-lo do próximo derramamento de sangue, protegendo Jake, agora que ele é seu aliado. Teorizações à parte, Give Me Something Good to Eat mantém o sentimento de frescor do primeiro episódio. Definitivamente, o brinquedo de Don Mancini deveria ter ido para a TV mais cedo.

Chucky – 1X02: Give Me Something Good to Eat | EUA, 19 de Outubro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Dermott Downs
Roteiro: Harley Peyton, Don Mancini, Nick Zigler, Sarah Acosta, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Lexa Doig, Barbara Alyn Woods, Michael Therriault, Rachelle Casseus, Carina Battrick, Travis Milne, Devon Sawa, Avery Esteves, David Kohlsmith, Jamillah Ross, Amanda Cheung, Lucas Misaljevic, Jaden Kwan, Erica Wood
Duração: 42 minutos

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