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Crítica | Chucky – 1X01: Death by Misadventure

Um velho Chucky para uma nova geração.

por Iann Jeliel
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Death by Misadventure

  • SPOILERS! Acompanhe por aqui nossas críticas semanais da série do brinquedo assassino, e aqui todo nosso material sobre Chucky.

“Ele é vintage?” Death by Misadventure

“Não, é retro.”

Acho louvável que a carreira de Don Mancini tenha sido dedicada exclusivamente à sua grande criação. Roteirista dos quatro primeiros filmes do Brinquedo Assassino, e nos três próximos, assumindo também a direção, Mancini atravessa sua quarta década recriando histórias com um mesmo personagem sobre outras óticas, e incrivelmente, em Chucky, ele apresenta seu auge enquanto criador. Parece cedo para falar algo do tipo, mas estou convicto que pelo menos esse piloto da série – intitulado Death by Misadventure – é consideravelmente superior aos demais filmes que passaram por suas mãos. Creio que a grande dificuldade do cineasta ao longo das continuações foi se modernizar sobre tendências – a própria criação de uma série do personagem, em vez de  um novo filme, é consequência direta do contexto com amplo consumo de seriados no momento –, mas de modo que viabilizassem o caráter datado da proposta original de Chucky.

Estamos falando de um boneco de plástico falante que consegue matar adultos. De um espírito de serial killer preso a esse boneco por voodoo. É uma ideia que parece não ter mais do que se extrair dado tudo que aconteceu em 7 filmes sem se repetir ou parecer demasiadamente inverossímil. Contudo, acredito eu, que a excelente refilmagem de 2019 abriu os olhos de Mancini para uma ambientação que Chucky não havia exatamente participado antes: o high school. Teve lá o terceiro filme no colégio militar, mas não era a mesma coisa. Tal cenário traz o encaixe perfeito para o que Mancini quer. Facilmente o caráter antiquado da proposta é mais aceito num universo adolescente, especialmente na utilização de estereótipos como fios condutores narrativos, remetendo ao auge do gênero nos anos oitenta. Contudo, o colegial também permite um modo fácil de se comunicar com uma nova geração, que hoje já é bem madura nos seus treze, catorze anos, a ponto de se figurarem como se fossem adolescentes das antigas, porém com seus estereótipos ressignificados ao contexto moderno – algo também extraído do remake.

O protagonista da vez, Jake (Zackary Arthur), é gay, pobre, órfão da mãe morta em acidente, morando somente com o pai homofóbico (Devon Sawa). Sua bully, a patricinha e mimada Lexy (Alyvia Alyn Lind), pratica os abusos se escondendo no discurso de que quer ajudar minorias. Ela namora o primo do protagonista, Junior (Teo Briones), odiado por Jake por ser “insetão” diante das humilhações sofridas pelo parente. Junior é para ser o “galã”, mas tem como seu melhor amigo o intelectual e paixonite do primo, Devon (Bjorgvin Arnarson), que nessa idade já tem seu próprio podcast falando sobre assassinos, coincidentemente sendo a válvula do roteiro para fornecer algumas explicações do cânone da história. Falando nisso rapidamente, aparentemente Mancini não quer descartar nada do que foi feito e usará a série para amarrar todas as pendências da cronologia – como é apontado pela primeira cena em homenagem ao início de Halloween em primeira pessoa, a infância de Charles Lee Ray será mostrada –, embora só tenha dado ênfase nesse episódio para a história de Andy (Alex Vincent) por noticiário, coincidindo com uma ligação desconhecida (creditada como a voz do ator de Andy) recebida por Jake e sendo alertado do perigo do boneco, ou seja, ele ainda vai participar dessa história.

Por enquanto, o enfoque é nos jovens e está ótimo assim. Todos os personagens parecem interessantes dentro de seus respectivos estereótipos, ainda que o único bem desenvolvido propriamente seja Jake, nesse início. Seu desenvolvimento foi muito pautado no alavanque de revelação do Chucky como agente do caos. A motivação que o faz adquirir e permanecer com o boneco por um tempo é super plausível. Obviamente, não há mais uma criação de suspense acerca dele ter vida ou não, porque a essa altura seria perda de tempo. Já fica claro de que Good Guy está vivo desde o primeiro minuto, para o telespectador. Assim, Death by Misadventure se concentra mais nas articulações das situações com o brinquedo de fundo ouvindo tudo, mexendo alguns pauzinhos, até a derradeira “revelação” na cena do show de talentos. Tudo funciona, ali. O sarcasmo ameaçador da sempre épica dublagem de Brad Dourif em tom infantil, com Chucky trazendo à tona todas as informações que escutou ao longo do episódio para elaborar uma revanche ao que Jake sofreu no episódio, em especial vingando-se de Lexy.

É uma cena tão boa que chega a ser catártica. Um excelente ponto de partida junto ao assassinato do pai de Jake ao fim do episódio, para história se desenvolver a partir da repercussão de ambos os fatos, tanto na parte da relação do protagonista com os demais colegas, quanto no intrometimento de adultos investigando o caso e outros de assassinatos recorrentes na cidade, além de, lógico, na relação dele com o boneco. Surge daí uma amizade sombria, um relacionamento abusivo até, porque Chucky acaba ajudando Jake (da maneira mais imoral possível, mas ajuda), e conhecendo o vilão isso não ficará de graça, como já fica claro na ameaça que ele faz caso o amigo tentar jogar ele na lixeira novamente, ou, em outras palavras, tente “deixar de ser seu melhor amigo”. Vai ser interessante acompanhar como Jake irá lidar com isso tudo, mesmo que já nesse episódio poderiam ter explorado mais dramaticamente a sua reação ao ver o pai sendo morto pelo brinquedo, por exemplo. De todo modo, o drama humano não interessa tanto em Chucky, não mais do que explorar a mitologia do personagem sobre outro frescor, algo plenamente entregue por esta abertura.

Chucky – 1X01: Death by Misadventure | EUA, 12 de Outubro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Don Mancini
Roteiro: Don Mancini, Nick Zigler, Sarah Acosta, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Lexa Doig, Barbara Alyn Woods, Michael Therriault, Rachelle Casseus, Carina Battrick, Travis Milne, Jana Peck, Devon Sawa, Avery Esteves, Annie Briggs, Precious Chong, Marcus Cornwall, David Kohlsmith, Marisa McIntyre, Nick A Fisher, Alex Vincent
Duração: 46 minutos

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