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Crítica | Chuck – 4ª Temporada

O espião subestimado.

por Felipe Oliveira
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A característica marcante em Chuck, era por ser facilmente envolvente, isso porque tinha o carisma dos personagens como maior apelo. Dando continuidade ao tópico abordado na temporada anterior, o quarto ano da série se dividiu entre dois temas: família e a definição final de Chuck Bartowski como um espião. Só no arco familiar, envolvia também outros cinco subtópicos: a busca de Chuck por sua mãe; a gravidez de Elle – plot oriundo da gravidez real de Sarah Lancaster -; o casamento de Sarah e Chuck; a relação de Casey e sua filha, e por fim, a família Volkoff. Havia um grande leque de possibilidades para ser desenvolvido e distribuído na escala de 24 episódios. Para um programa que crescia a cada temporada, os fãs não poderiam ficar mais felizes de ver a comédia de espionagem queridinha da TV por mais tempo, porém, indo na contramão das expectativas, a quarta temporada se fez irregular, mesmo com potencial.

Ao tentar repetir o efeito da temporada passada (em equilibrar os arcos protocolares com os plots principais em torno do vilão da vez), a verdade é que durante seu quarto ano, Chuck se via em um ciclo repetitivo, e consequentemente, inferior ao que veio antes e longe de ter a qualidade da segunda season. Com as campanhas dos fãs sendo um dos principais fatores que contribuíam para a renovação do show, era natural apostar no que funcionava, porém, aquele que seria o penúltimo ato da série, demonstrava um desgaste na própria fórmula. As expectativas eram altas, afinal, tinha como maior apelo apresentar a mãe do nerd espião, mas até lá, quanto mais séria a história, mais boba, sendo esse o modelo de equilíbrio criado por Chris Fedak e Josh Schwartz.

Se na segunda temporada, relançar a própria premissa como autoparódia trazia empolgação para a série, em sua quarta fase, essa sacada parecia apenas um modus operandi batido. Claro que a estrutura narrativa dividida entre os eventos na loja da Compre Mais e no seu subterrâneo era a linha mais lógica que traçava os paralelos do lado bobo e da ação em Chuck, mas enquanto o ciclo anterior se gastos dessa linha para desenvolver uma dinâmica mais tensa em que conectava os personagens, ter o lado bobo em maior era um retrocesso, uma escolha que seguia o caminho oposto ao de prestar assim como a comédia e ação, a mecânica da história. A exemplo do humor ser mais funcional quando o roteiro inseria as evoluções da tecnologia – como Sarah tirando fotos sensuais – e referências do meio nerd nos episódios, justamente por a série sempre refletir o cenário tecnológico e cultura pop.

A ideia de ampliar o tema de família teve o objetivo de colocar o protagonista em situações cada vez mais delicadas, e nesse sentido, restava um estudo de personagem em evolução sendo feito, porém, com contrapontos. Esse enfoque começou a ser trabalho ainda na terceira temporada, mas de alguma forma, havia um equilíbrio, um olhar mais maduro no tratamento dos arcos e como iriam convergir, diferente do que foi feito no quarto ano da série. O que ilustra muito bem isso é o fato do roteiro ter explorado os personagens com urgência até mesmo no desfecho, enquanto aqui, o texto só parecia disperso, sem saber como ser a velha Chuck divertida. A escolha foi de tentar criar um suspense quanto a confiança na mãe de Chuck, Mary, interpretada por Linda Hamilton; e quando a relação do nerd com a espiã letal tinha tudo para ter seu desenvolvimento mais romântico, a atenção era dividida em dilemas – irrelevantes- mal resolvidos do casal.

Foi em episódios como o 4X11, Chuck Versus the Balcony, que a série sabia manter seu modelo de forma empolgante ao vermos o agente Carmichael propor Sarah em casamento durante uma missão. Ou quando – mesmo que pouco tempo – surgiram com o plot da Sarah com visual de Milla Jovovich em Ultravioleta com intenção de causar ainda mais dúvidas na temporada, o que ainda funcionou por trazer um roteiro mais contido. Enquanto que para os demais personagens o tópico da família era explorado, para Sarah, acertaram em mostrar que Chuck era o vínculo mais próximo e real que ela teve desde que se tornou espiã – ou seria no capítulo paródia de As Panteras, Chuck Versus the Cat Squad ? – . Para uma temporada repleta de convidados e com acenos mais cínicos a filmes de ação (como Esquadrão Classe A) sendo isso pensado para parodiar as tramas conforme os perfis dos personagens, seria interessante ter visto a temática ser trabalhada em blocos mais contidos, do que ideias aleatórias.

Parte desse impasse narrativo foi por conta das participações especiais, como em Chuck Versus the Aisle of Terror, que dividia a introdução de Mary com uma sátira a A Hora do Pesadelo pela presença de Robert Englund. Por um lado, isso refletia a popularidade da série em poder contar com várias atrações integrando sua história e também por tratar clássicos da ficção científica, ação e terror com seu olhar cômico de não levar nada a sério mesmo quando parecia ser, porém, em sua quarta temporada, Chuck falhou nessa missão por soar desfocada no próprio estilo, longe do entretenimento fugaz da espionagem feita pela equipe mais atrapalhada do mundo, que venciam pelo carisma ao sabotarem qualquer tarefa que recebiam.

Melhor do que as reviravoltas óbvias que colocavam o nerd espião como mediador do melodrama, Schwartz e Fedak sabiam que terminar cada temporada seria como um adeus. E depois da completa mudança, uma evolução do seu protagonista, todo a atmosfera de Chuck Versus the Cliffhanger, carregava um clima fúnebre e melancólico em torno da suposta morte de Sarah – quando isso não aconteceria de fato – quando essa foi o humor mais ácido que fizeram para dizer que a série seria diferente no próximo ano ao ter Morgan como o novo intersetorial – e para provar que isso não seria resolvido em 5 minutos, retomam a marcante fala “Eu sei Kung Fu”. Ainda que irregular, a quarta temporada cumpriu o papel de encerrar um ciclo e apontar um rumo ainda mais desastrado para seu final.

Chuck – 4ª Temporada (Chuck – EUA, 2010-2011)
Criação: Josh Schwartz, Chris Fedak
Direção: Robert Duncan McNeill, Allan Kroeker, Patrick R. Norris, Peter Lauer, Jay Chandrasekhar, Frederick E.O. Toye, Michael Schultz, Zachary Levi, Norman Bucley
Roteiro: Josh Schwartz, Chris Fedak, Phil Klemmer, Rafe Judkins, Lauren LeFranc, Alex Katsnelson
Elenco: Zachary Levi, Yvonne Strahovski, Joshua Gomez, Vik Sahay, Scott Krinsky, Sarah Lancaster, Adam Baldwin, Ryan McPartlin, Mark Christopher Lawrence, Bonita Friedericy, Mini Anden, Linda Hamilton, Mekenna Melvin, Timothy Dalton, Lauren Cohan
Duração: 24 episódios (42 a 44 min cada)

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