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Crítica | Chuck – 3ª Temporada

Menos descolado, mais espião.

por Felipe Oliveira
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Sobrevivendo ao risco de cancelamento, Chuck chegava em sua terceira temporada com qualidade, porém, beirando cair no mesmo lugar de origem da sua premissa, isto é, a saga do quase espião apaixonado lidando com os dilemas melodramáticos e morais que o impediam de finalmente se tornar um agente. O episódio de estreia mais uma vez amolava a ideia de avançar os arcos enquanto parecia sempre reiniciar o argumento, afinal, o brilho da série era vermos a trajetória de um espião nada tradicional às tramas de espionagem, e Chris Fedak e Josh Schwartz não se dariam ao luxo de desenvolver isso da maneira mais fácil e perder de vista a diversão que era a Operação Bartowski. Logo, era proposital o show manter por perto o melodrama e repetição dos plots, visto que, não seria difícil nos envolvermos com o que era o coração da série: os personagens.

Mesmo tendo a ameaça de cancelamento sempre à porta, Chuck era vitoriosa por conter em cada cada temporada um “tema” para ser trabalhado, e nesse sentido, o que importava na série era o desenvolvimento da história; e quanto mais o nerd protagonista superava os obstáculos sobre ser um espião, mais se aproximava do seu passado e essa era a forma dos roteiristas chamar a atenção para como todos os personagens formavam esse leque familiar. Enquanto na primeira temporada a tímida fórmula procedural do “caso da semana” fazia a série apresentar backgrounds toscos para os personagens – como o romance antigo de Casey com Ilsa – isso foi amadurecendo até chegar no ápice de o segredo de Chuck ser também o segredo de todos – algo que fica mais definido até a season finale. Ainda sobre  o trio principal, se para Sarah a participação de Mini Anden como Carina sempre funcionou, o terceiro ano da série focou em trazer mais um pouco do conceito de família para Casey, isso, atrelado ao principal oponente da trupe: a organização criminosa Aliança.

Ao tempo que a equipe atrapalhada de agentes lidava em doses pequenas com a Aliança, Fedak e Schwartz aumentavam o enfoque para os testes em campo de Chuck como espião. Com sorte, a força da série nunca esteve atrelada às sequências de ação que se perdiam fácil com erros de continuidade que deixavam os dublês em evidência – nível de qualidade dos filmes paródia do besteirol americano -, ainda assim, a sua identidade era satirizar o cenário de espionagem até nos momentos mais sérios, assim, a ideia de adicionar Shawn e a caricata performance de Brandon Routh para alinhar a equipe era cômico – embora a intenção fosse causar estranheza e tensão – porém, trazendo o empurrãozinho que Bartowski precisava para ser um agente destemido, claro, com “o jeito Chuck” de ser. Nisso, a impressão de mesmice da temporada era substituída pela quebra de expectativa com a inserção de personagens que mexiam com o comodismo da trupe, o que entrava também a breve participação de Kristin Kreuk como Hannah, a paixonite da vez para cutucar o impasse entre Sarah e Chuck.

Com um pouco mais de atenção nos arcos, era possível perceber que pouco importava quem seria o opositor da temporada, uma vez que esse recurso só seria um plano de fundo para trabalhar a história da série. O melhor exemplo disso foi Shawn que, além de ser um líder incisivo, se envolveu amorosamente com Sarah, criava situações para Chuck se desvencilhar dos laços emocionais com sua equipe, até chegar no alto que foi se tornar um agente duplo da CIA e Aliança. Tudo isso, no final, amarrava as pontas e provava que a maior sacada da série era prestar uma dinâmica funcional à história, expandindo a mitologia do passado do nerd espião. Um ponto que ilustra de maneira clara como a terceira temporada conseguiu utilizar todos os personagens e apontar um futuro promissor, foi ao deixar Elle e Morgan a par do “segredo” de Chuck; e o que parecia ser só um exercício melodramático, a série finalizava mais um ciclo de forma emocionante, mostrando que ainda tinha muito a explorar sobre a família Bartowski.

Numa era em que fazer referências não era sinônimo de fazer média, Chuck se beneficiava com o humor satírico ao universo da espionagem.  Em comparação aos dois primeiros anos da série, a terceira temporada foi a que mais se afastou da dinâmica de criar uma versão mais idiota em paralelo às missões realizadas pelo agente nerd, Sarah e Casey, fazendo acreditar em alguns momentos que queria se levar a sério; mas em outros, a exemplo da esperada luta entre Shawn e Chuck na Compre Mais, a atenção era dividida entre o embate, Sarah tentando intervir e um cover de Lester e Jeff tocando ao fundo como trilha para a pancadaria entre dublês. Eram em trechos como esse que a série reafirmava sua identidade como entretenimento mais absurdo e envolvente de entregar uma comédia de ação inspirada em inúmeros tropos do gênero na TV e cinema, enquanto envolvia também o cenário pop da época, além de acenos ao mundo dos games e ficção científica.

Entre ser um bobo apaixonado e se entender como um espião, a terceira temporada da série finalizava com um novo lado do protagonista para ser explorado: não mais um agente de bom coração, mas um nerd querendo ser levado a sério – nem que para isso tivesse que aprender a usar uma arma de fogo -,  emocionalmente abalado e inclinado a explorar mais do seu passado que mostrava que ter o banco de dados da CIA na cabeça não foi uma simples coincidência. Durão, mas ainda gentil. Bom mentiroso, mas ainda sentimental. Pronto para a briga, mas não letal. Esse era Chuck Bartowski, o sucessor inofensivo de James Bond.

Chuck – 3ª Temporada (Chuck – EUA, 2010)
Criação: Josh Schwartz, Chris Fedak
Direção: Robert Duncan McNeill, Allan Kroeker, Patrick R. Norris, Peter Lauer, Jay Chandrasekhar, Frederick E.O. Toye, Jeremiah S. Chechik, Zachary Levi
Roteiro: Josh Schwartz, Chris Fedak, Zev Borow, Phil Klemmer, Ali Adler, Matthew Miller, Scott Rosenbaum, Rafe Judkins, Lauren LeFranc
Elenco: Zachary Levi, Yvonne Strahovski, Joshua Gomez, Vik Sahay, Scott Krinsky, Sarah Lancaster, Adam Baldwin, Ryan McPartlin, Mark Christopher Lawrence, Bonita Friedericy, Scott Bakula, Mini Anden, Brandon Routh, Kristin Kreuk, Mekenna Melvin
Duração: 19 episódios (42 a 44 min cada)

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