Mesmo só tendo dirigido o episódio piloto e depois atuando como produtor executivo, McG definiu o que seria o estilo da série Chuck: uma comédia de ação romântica sobre espionagem que nunca se restringia com um gênero, – ou quase não se levava a sério -, e às vezes, parecia uma grande paródia aos tropos que ingenuamente reproduzia e fazia disso uma atração apaixonante com uma trama de conspirações, segredos do mundo e um técnico de computação se tornando a linha tênue entre combater as ameaças e salvar o dia. Era a clássica história de heróis vista de uma maneira diferente; tão estúpida quanto viciante, o entretenimento mais genuíno que Josh Schwartz e Chris Fedak poderiam entregar ao imaginar a mitologia do herói como um espião dotado em habilidades, mas fora de forma.
Saindo da exagerada – mas divertida – execução de McG, a segunda temporada da série voltava de um longo hiatus após ser afetada pela greve dos roteiristas em 2008, porém, isso fez o show retornar em grande estilo; mais confiante, levando a sua sátira para lugares empolgantes. Só no memorável Chuck Versus the First Date, a série fazia uma espécie de reboot e autosátira com a ideia de manter o combustível narrativo dos episódios: o intersect. A CIA preparava um novo dispositivo, Chuck poderia ter sua memória livre e finalmente sair pela primeira vez com Sarah. Brincar com a possibilidade de estragar o próprio escopo era o que muitas séries que dependiam de um gancho fariam numa segunda temporada, mas Chuck “relançou” o seu conceito reunindo os elementos que consagraram o ano de estreia de forma mais cínica.
Naquele momento, Schwartz e Fedak tinham enxergado o potencial da série e visto o melhor jeito de exercitar as possibilidades sem tornar tudo um mecanismo melodramático da fórmula romântica. Obviamente, esse era o elemento principal que os criadores não poderiam resolver tão facilmente – daí surgia o jogo de provocações e ciúmes com figuras diferentes se apaixonando pelos pombinhos principais – porém, mesmo com o risco do iminente cancelamento, Chuck foi abraçando o que a tornava um entretenimento inteligente e descompromissado na TV. Enquanto a primeira temporada rapidamente desgastou seu argumento, o segundo ano dava um salto de qualidade, se fazendo mais articuladamente madura ao utilizar um humor indevido e apelativo, mas que casava com a identidade deslocada de ser da série – tensa, sensual, e bem coreografada na ação.
Era como se McG nunca tivesse deixado o cargo de diretor uma vez que seu estilo exagerado ainda se fazia presente na execução da série; mas ter esse jeitinho estranho prestava a Chuck uma personalidade única. O ano de estreia do show ensaiava com o próprio conceito ao nunca fazer apostas altas com a trama, contudo, de alguma maneira a longa pausa e a probabilidade de cancelamento da série fez os criadores assumirem mais riscos e explorarem outros ângulos da história que queria se manter ingênua. Então, a segunda temporada se propôs a olhar para os personagens e trabalhar uma dinâmica: o arco na Buy More fazia um reflexo irônico à ideia de Chuck ser um quase agente duplo disfarçado de técnico de computação e que vivia burlando o emprego para realizar missões com seu talento improvisado, nisso, inserindo diálogos mais elaborados – com referências à cultura pop – que a temporada anterior.
De forma muito orgânica, o protagonista ia aceitando a nova realidade e se comprometendo em ser um nerd desengonçado da espionagem; e à medida que o enredo se afastava do gancho sobre o próximo Intersetorial ficar pronto, injetava mais qualidade fazendo todos os personagens – dos descartáveis aos mais importantes – servirem à dinâmica eventual da série de brincar e equilibrar a vida dúbia de Chuck. Essa mecânica prestava à auto-paródia cínica dos criadores uma atenção para história, onde, ao mesmo tempo que parecia não querer se levar a sério, também reconhecia os rumos que tornariam – ainda que coincidentemente – o escopo interessante. Por isso, a temporada terminava, não com o suspense de Chuck removendo o banco de dados sobre o mundo da mente, mas inclinado a mergulhar no seu passado.
Chegar no final da temporada visualizando que a série cresceu de forma viciante, e ouvir Chucky dizer que sabia lutar Kung-Fu – um aceno cômico para Matrix! -, era o lembrete de que o espírito bobo e ingênuo ainda se mantinha intacto, e que essa virtude não seria descartada tão cedo. Assim como Peter Parker gostava de lembrar que era o amigo da vizinhança, com Chuck nascia um dos agentes mais inesperados da CIA, de coração puro e apaixonado, pronto para salvar o mundo com as referências clássicas de um nerd numa realidade mais complicada que a cultura pop e jogar videogame.
Chuck – 2ª Temporada (Chuck – EUA, 2008-2009)
Criação: Josh Schwartz, Chris Fedak
Direção: Robert Duncan McNeill, Allan Kroeker, Patrick R. Norris, Peter Lauer, Jay Chandrasekhar, Jason Ensler, Norman Buckley, Allison Liddi-Brown, Jeffrey G. Hunt, Jonas Pate, Ken Whittingham
Roteiro: Josh Schwartz, Chris Fedak, Phil Klemmer, Ali Adler, Matthew Miller, Scott Rosenbaum
Elenco: Zachary Levi, Yvonne Strahovski, Joshua Gomez, Vik Sahay, Scott Krinsky, Sarah Lancaster, Adam Baldwin, Ryan McPartlin, Mark Christopher Lawrence, Bonita Friedericy, Julia Ling, Jesse Heiman, Matt Bomer, Tony Todd, Mini Anden, Scott Bakula, Tony Hale
Duração: 22 episódios (42 a 44 min cada).