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Crítica | Chuck – 1ª Temporada

A espionagem boba e apaixonante.

por Felipe Oliveira
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Há pouco mais de onze anos a série que contava a história de um nerd que se tornou um espião, trama essa estrelada por Zachary Levi, se despedia com um final que deixou no ar até hoje a promessa do possível retorno. E isso vem do sentimento crescente que acompanhava a primeira temporada Chuck, uma fuga pela comédia pastelona mas que ainda conseguia transmitir prazer com um entretenimento que se empenhava em aprimorar seu conceito. Somando-se a isso, foi interessante o salto de Josh Schwartz, conhecido pelas premissas em séries teens se juntar ao estreante Chris Fedak numa diferente alçada e que tinha como trunfo a facilidade em envolver o público.

Um bom exemplo disso foi contar com a direção McG no episódio piloto, cineasta que vinha de uma longa experiência com videoclipes até chegar com o filme de As Panteras, e todo aquele estilo exagerado visto no longa McG empregou no capítulo de estreia de Chuck, o que acabou sendo essencial para apresentar o formato da série: ação desengonçada, melodrama, romance e o forte carisma dos personagens, leque que não parava nos protagonistas. Todos esses aspectos Fedak e Schwartz jogavam numa trama que tinha como pano de fundo a espionagem, e não era como se quisessem parodiar o gênero, mas trazer uma comédia que tinha seu universo caricato de espionagem. O resultado exprimia uma atração que nem de longe lembrava  007, mas tinha na veia um pouco de Johnny English e Agente 86 formando o nerd apaixonado com os segredos do governo no cérebro.

Embora seguisse uma estrutura de episódios procedurais, a primeira temporada de Chuck se resumia em mostrar as trapalhadas de um homem comum em missões para salvar o mundo depois de receber um e-mail criptografado com todos segredos governamentais dos EUA, e uma vez que só ele tinha as informações valiosas do chamado Intersect acaba se tornando o objeto chave para deter as inúmeras ameaças que surgem e que também querem possuir a tecnologia. Enquanto o governo tenta reconstruir o Intersect, conhecemos os agentes Sarah, da CIA, e Casey, da NSA, que disfarçados, têm o papel de proteger Chuck. 

Ter esse mote era como Schwartz e Fedak faziam a mágica acontecer ao manter sempre em evidência o choque cômico da realidade de Chuck frustrado profissional e amorosamente e com o fato de possuir informações confidenciais do governo. Era uma ironia que ressoava na rotina banal que o protagonista enfrentava na loja em que trabalhava como técnico de computação, e se seu melhor amigo Morgan servia como um lembrete constante do dilema e transição de mundo para Chuck, as tiradas cômicas com a competitividade entre cargos, as brigas de egos com os colegas da marcante Buy More, e os momentos de ação que tentavam passar imperceptíveis para os meros civis refletiam o desafio de Chuck de manter dois estilos de vida, um como o nerd Bartowski, e outro como o espião forjado Charles Carmichael.

O sobrenome, que soava cômico dentro do escopo da série, surgia do imaginário do próprio Chuck caso tivesse uma vida diferente, e era ótimo como isso ganhava outro significado para o personagem e na maneira que Schwartz e Fedak espelhavam uma história de origem com ares de super-herói, mas neste caso, um espião, com nome de Charles Carmichael. Se valendo de uma comparação, Chuck ter sido arrastado para o mundo de espionagem e descobrindo que existiam detalhes muito além do acaso, foi como Peter Parker sendo picado por uma aranha radioativa, mas nessa primeira temporada, o protagonista resistia em aceitar a nova realidade preferindo se ver como um homem comum que foi expulso da faculdade e seguia uma normalidade dentro da Buy More do que como um espião.

E graças aos mecanismos das histórias de romance, para Chuck, embarcar nesse novo mundo era impulsionado pela paixão impossível por Sarah. Nisso, esse era mais um dos elementos que fazia de Chuck um típico herói apaixonado e azarado, compreendendo “que com grandes poderes, grandes são as responsabilidades”. Nas entrelinhas, era possível traçar vários paralelos em como a história de Chuck encontrava inspiração no universo dos heróis, e também, como abraçava uma autenticidade ao narrar a transição de um homem simples para um espião desajeitado, mas altruísta o suficiente para salvar o mundo.

A comédia agia como um instrumento e identidade da série mas nunca maior que a dinâmica criada com os personagens. Um exemplo desse ápice era quando surgia o risco da vida secreta de Chuck ser descoberta ou trazer ameaças para seus entes, e o texto convocava essa tensão com momentos despretensiosos e desastrosos, o que consistia numa quebra de expectativa em relação da narrativa assumir uma seriedade contrapondo a comédia com mais melodrama e ação. Entre ser um homem comum e aprender a ser um “herói”, Chuck encerrava seu primeiro ano com um entusiasmo brilhante e irreverente.

Chuck – 1ª Temporada (2007-2008, EUA)
Criação: Josh Schwartz, Chris Fedak
Direção: McG, Robert Duncan McNeill, Jason Ensler, Allan Kroeker, David Solomon, Patrick R. Norris, Allison Liddi-Brown, Chris Fisher, Frederick E.O. Toye, Allan Kroeker
Roteiro: Josh Schwartz, Chris Fedak, Matthew Miller, Ali Adler, Scott Rosenbaum, Phil Klemmer, Anne Cofell Saunders, Zov Borow, Matthew Lau
Elenco: Zachary Levi, Yvonne Strahovski, Joshua Gomez, Vik Sahay, Scott Krinsky, Sarah Lancaster. Adam Baldwin, Ryan McPartlin, Mark Christopher Lawrence, Bonita Friedericy, Julia Ling, Jesse Heiman, Matt Bomer, Tony Todd, C. S. Lee, Rachel Bilson, Mini Anden
Duração: 43 min (13 episódios, cada)

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