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Crítica | “Chromatica” – Lady Gaga

por Matheus Camargo
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“This is my dancefloor I fought for

A heart, that’s what I’m livin’ for”

Colorido, dançante, explosivo, intrigante, conflituoso. Deixe as suas concepções de lado e seja bem-vindo ao Chromatica, planeta que representa e expressa lados contrapostos de Lady Gaga, de volta para as pistas de dança e batidas tentadoras da música pop. Mais próxima do som que marcou o início de sua carreira, quando nascia um ícone que marcaria muitos com sua excentricidade, haviam questões sólidas sobre como, mais de dez anos depois, a artista resgataria o sentimento de pertencimento e originalidade que simbolizava para o gênero. E Gaga não apenas resgatou como moldou-os para que coubessem na mulher que se tornara, para além da imagem que seu nome possui, falar sobre abraçar as suas lutas, ressignificar seus momentos sombrios e reconstruir-se em meio a um mundo em ruínas através da música. Aproveite a experiência.

Procurando por essa espécie de escapismo, Alice abre o disco e te insere num vórtice de pensamentos do eu-lírico, desesperado por não ter que enfrentar os horrores que se encontram a sua frente. E em um piscar de olhos, nos perdemos nas batidas de house e nos afastamos dos problemas sem perceber. A produção do álbum em conjunto com Bloodpop® sabe te colocar em lugares inesperados sem perder a coesão e te aproximam delicadamente dessa vigente utopia. Já Rain On Me, parceria com Ariana Grande nasce sobre as raízes da perseverança e dialoga sobre viver a sua verdade. O tema não poderia ter mais conexão com a história das duas artistas, que se juntam numa divertida celebração à redenção e a importância da resiliência.

Grande parte da grandiosidade de Chromatica está na sua capacidade de fazer com que Gaga soe muito mais verdadeira consigo mesma. O álbum cria conexões com o ouvinte ao expor os pensamentos mais intrínsecos de Stefani, seus problemas com a pressão midiática e sua responsabilidade com a arte. Fun Tonight abaixa os loops eletrônicos por um tempo na intenção de abrir caminho para o eu-lírico desabafar, derramar sua agonia e reencontrar seu fôlego, enfrentando o que seu passado significa com coragem numa de suas letras mais verdadeiras: “You love the paparazzi, love the fame / Even though you know it causes me pain”. Enquanto algumas canções exteriorizam o sentimento de ser livre para ser quem é, 911 é sufocante, confusa como momentos em que a dor e a dúvida não deixam espaço para encontrar respostas.

Entre as músicas que soam como o rosto do álbum, Enigma e seus vocais vociferados com fúria acordam nossos sentidos ao mesmo tempo que se entrega completamente ao powerhouse, onde as coisas crescem sem parar conforme o piano dita o próximo passo a ser dado. Sem demora, Replay é produzida de forma a brincar com as expectativas com um beat distorcido, hipnotizante e divertido de observar o contraste entre a letra repleta de metáforas inteligentes sobre cobrança e auto sabotagem. Das colaborações, a mais surpreendente é Sine From Above, uma euforia constante que transita numa nostalgia deliciosa e explode com ânsia em seu final. A voz de Elton John e os toques de crueza que sua voz e presença adicionam são aceitas com alegria. Finalizando o trabalho, Babylon soa clássica desde o princípio. O coral, as palmas, o vocal quase falado dando ordem e vida para aqueles momentos em que você realmente sente que nada pode te parar são eternizados. É um heroico cântico ao triunfo num disco que começa com uma aflita necessidade de fugir dos seus demônios e termina com repetidos “batalhe pela sua vida!”.

Chromatica é um paradoxo. Todos os sentimentos, bons, ruins ou apenas latejantes se chocam, gerando caleidoscópios musicais intensos demais para que possamos entender. Não entendemos, então apenas sentimos, e nisso eles não falham, entram em contato e afloram sensações desconhecidas. É um disco que resgata partes de Lady Gaga que foram conquistadas com muita luta, pois essa é sua pista de dança, e ela fez por merecê-la, mas também sobre entrega. Stefani precisou se entregar para cada medo, trauma e tormento, e a forma de não perder a cabeça e cicatrizar cada lesão deixada pela vida foi cantar e dançar em cima das batidas, que antes lágrimas, agora segurança, certeza e paixão.

Aumenta!: Enigma
Diminui!: Plastic Doll
Minha canção favorita do álbum: Alice

Chromatica
Artista: Lady Gaga
País: Estados Unidos
Lançamento: 29 de maio de 2020
Gravadora: Interscope Records
Estilo: Pop, Disco, Dance

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