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Crítica | Chorar de Rir

por Gabriel Carvalho
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“Tu é menino ou menina? Comediante.”

É muito comum a atores conhecidos principalmente por comédias optarem por uma transgressão a gêneros mais dramáticos. Jim Carrey, por exemplo, estrelou O Show de Truman: O Show da VidaBrilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, após gigantescos sucessos cômicos. Dessa vez, Leandro Hassum é quem opta por um papel desse naipe. Contudo, Nilo Perequê, o seu personagem, é um papel que apenas, na teoria, se assume assim. O artista interpreta um ator de comédia que quer ser levado a sério – como se ninguém realmente levasse a sério um ator conhecido por comédias -, optando por seguir uma carreira dramática consequentemente. No entanto, sua jornada sofre uma reviravolta quando Nilo é enfeitiçado, perdendo o seu dom para drama e caindo em desgraça. Chorar de Rir, portanto, continua a ser uma comédia, mas com um moralismo incoerente embutido no seu cerne. É comédia, embora tenha vergonha temática em ser.

Tudo começa com os antagonismos. Bastante patético, entre tantos momentos patéticos, como o roteiro decide resolver uma questão interna ao protagonista, enxergando-se desmerecido pela indústria, através de uns maniqueísmos desagradáveis. No começo, a cena em que Nilo, após ganhar um prêmio, ouve uma funcionária criticar a sua categoria, é tenebrosa. Já quando decide abordar a importante questão monetária, perceber onde que existe mais dinheiro sendo colocado e gerido – no drama ou na comédia -, o filme tropeça por tornar essas noções quase terciárias a um escopo principal defendido com extrema incongruência lógica. O pior é que muita coisa – sendo bastante bondoso na verdade – poderia ser resolvida com uma última revelação narrativa, sobre quem enfeitiçou Nilo. Que tal porquês sinceros, intencionando uma jornada de aprendizado, por parte de Hassum, de que comédia também é arte, e ele não tem que ser outra coisa por capricho?

O longa-metragem, porém, opta por se embaralhar. Com as cargas dramáticas que deposita nos seus tantos personagens, sempre procura encontrar um viés sentimentalista – cenas comoventes que surgem do nada -, e que ninguém queria. Por outro lado, a maior parte das coisas, em termos dessa disputa entre a comédia e o drama, é solucionada, narrativamente, pensando o capricho dos artistas. Ao invés de trajetórias profissionais bem construídas, os motores aos arcos são o puro interesse em ganhar mais dinheiro, ou então conquistar o carinho de outros nomes do meio. Um diretor famoso e prestigiado, a exemplo, vai para o caminho da comédia por render mais retorno, não por ser um universo com outros potenciais artísticos e tão interessantes quanto. Já um relacionamento amoroso torna essa salada ainda mais problemática: Monique Alfradique, par a Perequê, profere um texto inconsistente – variando bastante de objetivo -, o que não lhe permite construir uma personagem concreta, e sim um artifício narrativo, que é usado sem muita coerência.

Em detrimento de uma verdade própria, Chorar de Rir promove uma demagogia, sem sinceridade. E o auge disso é o monólogo que conclui a obra, no qual sugere-se uma visão harmoniosa – a comédia e o drama serem irmãos -, mas que o longa, em si, nunca antes pensou. Mesmo com um valor de produção maior a de outros projetos – é uma obra mais vistosa, sem soar esteticamente televisiva -, e com uma pretensão narrativa mais avantajada, querendo ser mais, Chorar de Rir continua sendo uma comédia como qualquer outra. Nem nisso é tão esperta assim, porque repete, exaustivamente, piadas, como as envolvendo Caito Mainier. Outras gags, como a questão de Hassum ter sido gordinho, não tem timing. Portanto, é muito insatisfatório tudo proposto pelo longa-metragem, preso a contradições existentes na sua própria narrativa. Pois eu levo Buster Keaton mais a sério que Leandro Hassum tentando se levar “a sério”. Ninguém chora, nem ri, nem os dois.

Chorar de Rir – Brasil, 2019
Direção: Toniko Melo
Roteiro: José Roberto Torero
Elenco: Leandro Hassum, Otávio Müller, Monique Alfradique, Jandira Martini, Perfeito Fortuna, Natália Lage, Rafael Portugal, Caito Mainier
Duração: 103 min.

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