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Crítica | Chico Bento Moço #3 a 8

por Luiz Santiago
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Em agosto de 2013, seguindo a linha de reformulações e ampliações temáticas de suas personagens, Mauricio de Souza apresentou, juntamente com duas editoras-parceiras, a série Chico Bento Moço, que vinha fazer par com a versão jovem da Turma da Mônica, iniciada em agosto de 2008 (TMJ #01).

Após o ótimo início de série, Chico Bento Moço conquistou o público e ganhou uma abordagem bastante positiva aqui no Plano Crítico para as suas edições #1 e 2. Agora, trazemos a análise para os números #3 a 8 da revista, publicados entre outubro de 2013 e março de 2014.

Para melhor efeito de compreensão do leitor, é importante dizer que a nota vista acima corresponde a uma média feita das edições lidas. Os títulos de cada um dos números e suas respetivas notas se encontram abaixo.

#03 – Festa no Parque / Consciência e Amizade (3/5)

#04 – O Dia da Rosinha / Em Busca do Sonho (3,5/5)

#05 – A Primeira Semana / Novas Amizades! (4,5/5)

#06 – Mudanças / Amigos Para Sempre (4/5)

#07 – Bicos e Altas Confusões / Desencontros (4/5)

#08 – Mistério na Roça (4/5)

***

 

O tom encantador e divertido que observamos nas edições de abertura da série ganhou novos ares e também maturidade, sendo explorado por Flávio Teixeira de Jesus — roteirista responsável por praticamente todas as revistas deste bloco — como uma verdadeira saga de um jovem da roça vivendo em uma cidade grande e tendo que lidar com todos os problemas possíveis que tal mudança pode representar: a preocupação com o dinheiro, a preocupação com os pais, a saudade de casa e da namorada, os desafios de se viver em uma república estudantil, etc.

Há um grande número de elementos comuns de nossas vidas — jovens ou não — que estão escancarados nas páginas de Chico Bento Moço. O que mais se destaca é a ligação de Chico com o trabalho. Desde a edição #03, Festa no Parque, vemos o personagem buscar e exercer uma série bicos, nunca fugindo de obrigações pesadas ou se importando com o que o primo ou os amigos de república vão falar a respeito. Mesmo que haja um fator moral ou de modelo quase utópico de comportamento social em todas as edições (o Chico Moço é um “filho/namorado/amigo dos sonhos”, algo raro de se encontrar, se é que se encontra), o texto suplanta essa questão e se destaca sem maiores problemas. Todas as histórias entretêm e falam de coisas sérias ao mesmo tempo. Essa edição #03, escrita por Petra Leão, e é a mai fraca dentre as revistas do bloco. A trama do Chico em relação aos amigos é boa, mas o “Encontrão” no parque e a cisão do trabalho com o Seu Pereira foi, no mínimo precipitada.

A grande diferença em todo o bloco vem no número seguinte, O Dia da Rosinha (edição #04), que marca a volta de Flávio Teixeira de Jesus aos roteiros da série (ele escreveu a excelente revista de abertura, Um Novo Começo, passando a bola para Petra Leão, que escreveria as duas edições seguintes). Mesmo sendo uma série do Chico Bento, não achei ruim ter uma edição dedicada à Rosinha. Ela não é uma personagem qualquer e a gente sabe disso. Por estar sentimentalmente ligada ao protagonista do título, creio que a aposta aqui foi bem feita e o resultado, melhor que o da edição anterior. Claro que o teor central não tem o peso da partida de Chico de Vila Abobrinha para Nova Esperança, mas não perde a atmosfera emotiva típica desse tipo de trama. Além disso, há um ótimo trabalho com o assédio e o flerte muito comuns a pessoas jovens e comprometidas e ainda mais dentro de uma situação como a de Rosinha e Chico, que namoram a bastante tempo mas estudam em cidades bem distantes.

Mas a melhor edição de todas essas seis que compõem a presente crítica é A Primeira Semana (edição #05), que traz o início do período de aulas do Chico Moço na Universidade Federal de Agronomia. Que texto! Que maravilhosa visão afetiva para a história geral da série! Tudo funciona bem nessa edição, e o roteiro de Flávio Teixeira de Jesus se supera nas indicações cômicas, no tipo de amizade que coloca em cena e na veracidade dos fatos, quando se trata a primeira semana de aulas de um “bicho”.

O elemento inesquecível e genial é o trote da faculdade, que marca os calouros com apelidos num chapéu de palha, que devem usar durante todo o primeiro semestre — embora a gente não veja isso acontecer em todas as edições posteriores, mas tudo bem –. O apelido que o Chico recebe é GOIABENTO, um acerto duplo por parte do roteirista, tanto na brincadeira com o sobrenome do personagem quanto na indicação do fascínio que Chico tem por goiabas. Simplesmente genial. Ao lado de Um Novo Começo, esta é a minha edição favorita da série até o momento.

Mudanças (edição #06) é um tour de force de Chico, ao descobrir que o aluguel da república onde ele se encontra vai aumentar e ele não tem condições financeiras para arcar com o valor. Quando eu citei a questão da maturidade que a série foi ganhando, é exatamente a esse tipo de trama que eu me referia. Os roteiros de Chico Bento Moço ganharam uma notável atmosfera realista e crua, muitas vezes expondo o ‘herói’ a situações tão humanas e comuns que chegam a espantar, não porque seja algo novo nos quadrinhos, muito pelo contrário. Mas porque é algo novo nos quadrinhos da Mauricio de Souza Produções — com exceção aos títulos do projeto Graphic MSP.

Podemos até entender esses roteiros mais mauros como a fixação ou a versão oficial de uma essência do próprio Chico Bento e sua família, cuja história já teve elementos bastante raros de se ver em quadrinhos infantis (refiro-me à destruidora de corações Uma Estrelinha Chamada Mariana e também à sua emotiva continuação, O Presente de uma Estrelinha). Os problemas familiares, a preocupação de Chico com os pais e as dificuldades financeiras são pontos que aproximam o personagem do leitor pelo seu caráter mais humano e também pela sua forma de enxergar a vida. Eis aí um dos ingredientes que fazem dessa série um sucesso.

Embora o título da edição #07, Bicos e Altas Confusões, pareça anúncio de um filme da Sessão da Tarde, o leitor fica feliz em perceber que seu conteúdo não é nem um muito bobo e mais uma vez mostra o lado desafortunado de Chico… ou de Zé Lelé, para ser mais exato. Não sei se fui o único que ficou torcendo para que eles se encontrassem e matassem a saudade. Isso traria um pouco de alegria para o protagonista, que está se virando em 30 para realizar trabalhos temporários a fim de ter dinheiro o suficiente para voltar à sua antiga república — sou o único que sente falta de Jácomo, Lee e Jura? — mas isso não é uma reclamação não.

Assim como em O Dia da Rosinha, tivemos uma atenção maior em outro personagem do mundo do GOIABENTO, algo que também se repetirá na edição seguinte. Isso é bom, porque equilibra um pouco o andamento da linha narrativa da série e dá detalhes interessantes sobre o que está acontecendo com os antigos amigos, pais e pessoas ligadas a ele antes de sua fase universitária.

Por fim, chegamos à diferente edição #08, Mistério na Roça. Como o próprio Mauricio de Souza escreve em seu Um Dedo de Prosa ao final da dição (um “dedo” melhor que o outro, diga-se de passagem), é comum ouvirmos histórias e “causos” de pessoas que viveram no interior sobre aparições misteriosas, milagres e coisas do tipo. Se o leitor não tiver isso e mente, fica difícil entender o propósito e o teor geral do roteiro de Mistério na Roça, que é realmente muito bom.

Chico está cada vez mais preocupado com a possibilidade das geadas no campo, porque sabe que isso pode acabar com as plantações de seus pais. Sua preocupação não é sem propósito. De fato, Seu Tonico e Dona Cotinha estão realmente passando por um momento difícil. Mesmo assim, dão abrigo a uma andarilha, que se revelará o mistério dito no título da revista.

Ao tratar de temas cotidianos — suas tristezas e alegrias –, do amor e da amizade, da maldade e da solidariedade, das coisas mais comuns e normais na vida de uma pessoa no início de sua juventude, Flávio Teixeira de Jesus dá um contorno interessantíssimo e encantador à série Chico Bento Moço. Sem magias despropositadas, situações forçadas e tramas bobas para atingir e agradar uma massa de leitores em busca de “enredos fofos”, o roteirista se afasta do que é comum nos quadrinhos da própria empresa para a qual trabalha e realiza algo notável. É claro que o tom da série em questão é diferente da Turma da Mônica Jovem em sua própria concepção, mas a gente sabe que isso não é parâmetro para uma sucessão de roteiros com o pé no chão e situações realistas. Isso é um mérito do autor. E esperamos que essa visão se estenda por muito tempo.

Chico Bento Moço #3 a 8 (Brasil, 2013 – 2014)
Editoras:
Panini Comics, Planet Manga, Mauricio de Souza Editora
Roteiro: Petra Leão (edição 3); Flávio Teixeira de Jesus (edições 4 a 8)
Arte: José Aparecido Cavalcante
Arte-final: Diversos
98 páginas (cada número)

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